Um grupo formado por representantes de Igrejas Cristãs e movimentos sociais em defesa da população de rua visitou, nesta sexta-feira (13/10), o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, na Cúria Metropolitana, localizada no bairro das Graças, no Recife. A intenção dos visitantes foi conseguir, junto ao arcebispo, apoio na sensibilização do governo municipal para o cumprimento do Plano Municipal de Atenção Integrada à População em Situação de Rua, que foi lançado em 2015.
O Plano prevê ações como implantação de abrigos temporários, restaurantes populares e realização de um censo para definição de quantitativo e perfil da população de rua – os últimos dados são de 2005, quando pesquisa do 
Ministério do Desenvolvimento Social e da Universidade Federal de Pernambuco registrou cerca de 1.400 pessoas em situação de rua na cidade. Segundo a Prefeitura do Recife, as ações não foram implantadas por falta de recursos.
O coletivo Unificados pela População em Situação de Rua, formado por 25 entidades que atuam em favor da PSR e representado pelos que foram à Curia, não acredita no argumento da Prefeitura e diz que essa deve ser uma questão prioritária. Em documento apresentado ao arcebispo, o Coletivo compara a invisibilidade social da PSR à realidade vivida pelos leprosos na época de Jesus: pessoas sem voz, sem vez, excluídos e desprezados pelos seus familiares.
Dom Fernando lembrou que as políticas públicas devem contemplar uma assistência que trabalhe a mudança de hábitos dessa população específica que, de tão sofrida, não aceita ajuda vinda de desconhecidos. “As ações não devem estar focadas na habitação somente, mas é preciso promover, por meio do amor e da caridade, a ressocialização desses nossos irmãos para que eles aceitem a moradia partilhada em albergues e abrigos”, comentou o arcebispo.
O voluntário Rafael Araújo, participante do grupo Os Samaritanos, da Paróquia de Casa Forte, e que faz parte do Coletivo, explicou que também as políticas públicas precisam estar integradas para que a assistência à população de rua dê certo. “Além da moradia, as pessoas carecem de promoção social como capacitação e emprego, por isso a política de habitação deve estar associada à política de educação e de trabalho”, afirmou.
No encontro com o arcebispo, o Coletivo citou a atitude caridosa e inovadora do Papa Francisco, que inaugurou uma lavanderia no território do Vaticano para os que não têm moradia. “O Papa não proporcionou somente roupas limpas para as pessoas, mas devolveu-lhes a dignidade de se sentir bem, o que deve ser para nós inspiração e ensinamento”, disse Rafael Araújo. Também o Papa, em 2015, no encontro mundial dos movimentos populares, na Bolívia, disse: “A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir”.
O Coletivo deseja que, a princípio, a Prefeitura do Recife crie um abrigo temporário noturno. Para isso, pedem que o Executivo e o Legislativo municipal aumentem os investimentos na Assistência Social na Lei Orçamentária de 2018 e no Plano Plurianual 2018-2021.
Dom Fernando ofereceu apoio ao Coletivo e vai incluir o assunto em seu discurso de abertura da Caminhada Sim à Vida, já neste domingo (dia 15). A questão vai ser discutida também na Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz, para providências.
O presidente da Comissão, padre Fábio Santos, informou que os direitos da PSR vão ser discutidos também no I Fórum de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife, que vai acontecer nos dias 27 e 28 de outubro na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), com participação de dom Leonardo Steiner, Secretário Geral da CNBB, e de Marcelo Lavenere, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz e ex-presidente da OAB.
Mais informações sobre o Fórum: http://www.arquidioceseolindarecife.org/2017/10/arquidiocese-promove-forum-de-justica-e-paz-inscricoes-abertas/
Pascom AOR
