Dom Tourinho dirige carta a Dom Fernando e ao povo da Arquidiocese de Olinda e Recife

Recife, 22 de novembro de 2017

CARTA AO ARCEBISPO METROPOLITANO DOM ANTÔNIO FERNANDO SABURIDO, AOS BISPOS DO REGIONAL NORDESTE II
E A TODA A ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE

          Prezados Dom Fernando Saburido, Irmãos Bispos do Regional Nordeste II, Vigários Gerais, Vigários Episcopais, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Seminaristas e todo povo, “O Amor Vence Tudo”!

Muito me custou escrever esta carta dando explicação de que hoje foi publicado pela Santa Sé a meu respeito. Quis a providência divina confiar-me o governo da mais nova Diocese criada no Estado da Bahia – Cruz das Almas – localizada no Recôncavo Baiano. Há tempo que se ouve o comentário do desmembramento desse território da Arquidiocese de São Salvador para ser transformado em uma Igreja Particular. Um compromisso assumido pelo Cardeal Geraldo Magela e, enfim, concretizado no governo pastoral do atual Arcebispo Primaz Dom Murilo Sebastião Krieger.

No dia 16 de outubro pela manhã, fui surpreendido por um telefonema do Senhor Núncio Apostólico no Brasil, comunicando-me que o Santo Padre, o Papa Francisco tinha feito a escolha do seu candidato à nova Diocese. O Senhor Núncio afirmou que, pelo meu perfil, meu nome foi o de consenso. Confesso que fiquei atônito, sem saber o que responder. O mesmo, por caridade, deu-me alguns dias para rezar e refletir, embora apelando para o bom senso em razão da virtude da obediência. Foram dias de orações e de tentativa de escutar a voz de Deus.

Passados dois anos e nove meses de convivência na querida Arquidiocese de Olinda e Recife, eu posso afirmar o amor que sinto por essa Igreja, aprendi também amar o Estado de Pernambuco e este povo tão acolhedor. Dom Fernando tem sido para mim um amigo, um mestre zeloso que, com sua experiência de pastor, pacientemente vem me instruindo a percorrer o desafiante caminho do episcopado. Ele, gentilmente, se prontificou em tentar interferir na decisão, mas deixou-me livre para que minha consciência falasse alto diante de Deus e do chamado da Igreja.

Com o passar dos dias, o susto do primeiro impacto foi se abrandando. Assim, pude pensar no Congresso Eucarístico que está por acontecer, o Vicariato para Vida Consagrada que tem avançado em sua organização, a imensa realidade da Arquidiocese com apenas dois Bispos diante da demanda pastoral, o pouco tempo de pastoreio que aqui exerci…. Tudo concorria para que eu negasse o convite.

Diante do dilema, que me causou não pouco sofrimento, deparei-me com uma homilia do Papa Francisco em uma das missas celebradas por ele na capela da Casa Santa Marta e que eu, ocasionalmente, arquivei no computador. No centro da sua homilia, esteve a primeira Leitura tirada dos Atos dos Apóstolos (20, 17-27), que se podia intitular – disse Papa Francisco – “A despedida de um Bispo”: “Todos os pastores devem se despedir. Chega um momento em que o Senhor nos diz: vai para outro lugar, vai para lá, vem para cá, venha a mim. E um dos passos que deve fazer um pastor é também preparar-se para se despedir bem, não se despedir à metade. O pastor que não aprende a se despedir é porque tem alguma ligação não boa com o rebanho, um vínculo que não é purificado pela Cruz de Jesus”. Isto bastou para eu entender a vontade de Deus e, mesmo me custando muito, pude responder ao Núncio o “sim” com plena liberdade de consciência, sem excluir o sofrimento que invadia e continua invadindo o meu coração. Preciso obedecer ao Espírito Santo, por isso me coloco a caminho.

Deixo a Arquidiocese com saudades, porém, muito mais, com o coração cheio de gratidão. Muito agradecido a dom Fernando que, sem me conhecer, me acolheu como seu irmão, e fez de tudo para que aqui eu me sentisse feliz e em casa. Muito agradecido aos amados sacerdotes, aos mais próximos e aos menos próximos devido às circunstâncias pastorais. Agradecido aos diáconos permanentes e às suas esposas, aos queridos seminaristas do seminário maior e do propedêutico, aos religiosos do Vicariato para Vida Consagrada e a CRB, aos consagrados das novas comunidades, aos funcionários da Cúria Metropolitana, ao meu amigo e companheiro de jornada Nivaldo, aos fiéis da paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, na pessoa do monsenhor Edvaldo Bezerra, enfim, a todo o povo de Deus dessa inesquecível Arquidiocese. Um agradecimento especial aos irmãos Bispos do Regional Nordeste II que me acolheram e me confiaram a Pastoral da Sobriedade e o Tribunal Eclesiástico. Que Jesus, o Bom Pastor, continue cumulando com copiosas bênçãos seus ministérios e suas dioceses.

Confiando-me às preces de todos os irmãos desta inesquecível Arquidiocese, levarei todos no coração.

Dom Antônio Tourinho Neto
Bispo Eleito da Diocese de Cruz das Almas – BA

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