Inspirada na Parábola do Bom Samaritano na qual Jesus exorta “Vai e faze a mesma coisa” ao contar a história de um homem que usou de misericórdia com um desconhecido (LC 10, 25-37), a Pastoral da Aids da CNBB NE2, que está prestes a completar 10 anos, vem desenvolvendo seu trabalho. Neste período, em que se vivencia o Dezembro Vermelho – mês internacional da luta contra a Aids – torna-se também um momento propício para dar mais visibilidade a esse importante serviço pastoral que envolve saúde e compaixão.
A Pastoral da Aids está presente nas quatro arquidioceses do território regional – Maceió, Natal, Olinda e Recife e Paraíba – com pouco mais de 100 agentes em atividade, e em fase de implantação nas dioceses de Caicó e Mossoró, ambas no Rio Grande do Norte. O serviço é vinculado à Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora que tem como bispo referencial, dom Limacêdo Antônio da Silva, auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife.
Os grupos da pastoral trabalham com reuniões semanais com lideranças comunitárias, promovem ações curriculares nas paróquias, em especial, com jovens e gestantes, além disso também atuam em conselhos de políticas públicas, sobretudo, nas áreas de saúde, educação e assistência social. No Regional, os agentes ainda realizam panfletagens em grandes eventos e festas como Carnaval e São João.
“Trabalhamos a questão da prevenção a partir do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja. Com as pessoas infectadas pelo vírus HIV também atuamos com um olhar evangélico e misericordioso ajudando-os a buscar o tratamento de saúde e orientando sobre os demais direitos”, explica o coordenador regional da Pastoral da Aids, Gilberto de Almeida.
Além das Sagradas Escrituras e dos documentos da Igreja, a pastoral utiliza o Caderno Aberto, que mostra dados e estatística da Aids no Brasil e outras informações atualizadas que ajudam na atuação dos agentes. Também, assim como no âmbito nacional há o apoio do Ministério da Saúde, em nível local a pastoral exerce sua missão em parceria com as secretarias de saúde municipais e estaduais.
A Aids e os desafios da pastoral
Com quase uma década de caminhada na CNBB NE2 e 20 anos no Brasil, os grupos, a maioria formada por leigos, ainda precisam lidar com o preconceito herdado do estigma que a síndrome adquiriu nos anos 1980. No fim daquela década, o HIV já havia infectado mais de 10 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. No país, o governo registrava 11.805 casos.
“A pastoral não tem tanta visibilidade, embora ela preste um trabalho muito importante para a Igreja e para a sociedade e a Aids já seja um problema controlado. Infelizmente, ainda há preconceito dos nossos irmãos leigos, mas também de membros do clero que dificulta o nosso serviço. Esse é o nosso maior desafio”, revela Almeida.
A queixa do coordenador regional da pastoral é amparada por dados científicos exaustivamente comprovados. Aids é a sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência adquirida que é causada pelo retro-vírus HIV. Esse agente infeccioso se espalha através de fluídos corporais e afeta células específicas do sistema imunológico, conhecidas como células CD4, ou células T.
Sem o tratamento antirretroviral, o vírus afeta e destrói as células específicas do sistema imunológico e torna o organismo incapaz de lutar contra infecções e doenças. Os remédios são oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, não existe uma cura efetiva, mas com cuidados médicos apropriados o HIV pode ser controlado. O tratamento pode prolongar expressivamente as vidas de muitas pessoas infectadas e diminui, em boa parte dos casos zera, as chances de transmissão. Hoje em dia, alguém diagnosticado com HIV e tratado antes do avanço da doença pode ter uma expectativa de vida igual a de uma pessoa não infectada.
As dificuldades com a discriminação, no entanto, não paralisam a Pastoral da Aids da CNBB NE2 que em 2020 pretende intensificar as ações a ampliar o atendimento às dioceses mais afastadas das capitais e, portanto, fora das regiões metropolitanas. De acordo com Almeida, as dioceses e paróquias interessadas em implantar o serviço também podem procurar o coordenador arquidiocesano em seus respectivos Estados.
A iniciativa de ampliação é também uma resposta ao crescimento do número de infectados com HIV no Regional. Segundo a coordenação da Pastoral, no último ano só a Paraíba e o Rio Grande do Norte registraram quase 10 mil novos casos.
“A partir do contato da paróquia ou diocese é feito o agendamento para a capacitação dos futuros agentes. Geralmente, essa formação é realizada em um final de semana, porém, é possível adaptá-la para um período mais curto. Depois de capacitados, os membros da recém-criada Pastoral da Aids continuam tendo assistência em relação ao serviço”, explica Almeida.
Segundo o coordenador, em Alagoas a responsável é Eliane dos Santos, na Paraíba é Goreti Rolim, em Pernambuco o contato pode ser com Aldneide Alves ou Ana Virgínia, e no Rio Grande do Norte procurar Maria do Socorro.
Campanha nacional
A Pastoral da Aids em todo o Brasil retomou este mês a campanha “Cuide bem de você e de todos que você ama” de 2014, que teve o padre Fábio de Melo como garoto propaganda. A ideia continua sendo a disseminação de informações no maior número de canais de informação.
O bispo de Goiás e referencial da pastoral, dom Eugênio Rixen, destaca o trabalho que vem sendo feito ao longo de 20 anos em quase metade das dioceses brasileiras. “Essa pastoral procura levar vida. A exemplo de Jesus que disse ‘Eu vim para que todos tenham vida em abundância’. Por isso, é muito importante fazer o teste precoce. Quanto mais rápido a pessoa sabe que contraiu o vírus HIV mais fácil é o tratamento. É possível viver bem com o HIV“.
Segundo a pastoral, 2019 marca a entrada na última década da meta 90-90-90 assumida pelo Brasil, perante a Organização das Nações Unidas (ONU). A meta prevê que, até o ano que vem, 90% de todas as pessoas vivendo com HIV saibam que têm o vírus; 90% das pessoas diagnosticadas com HIV recebam terapia antirretroviral; e 90% das pessoas recebendo tratamento possuam carga viral indetectável e não mais possam transmitir o vírus.
Com informações da CNBB