Fé e culto

Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)

A Igreja vive e celebra os mistérios de Deus, à luz da fé.  Com efeito, a doutrina cristã católica sempre ensinou que a fé é adesão da mente humana a Deus, verdade explicitada no Catecismo da Igreja Católica. “Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus. Enquanto adesão pessoal a Deus e assentimento à verdade por Ele revelada, a fé cristã difere da fé numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso ter semelhante fé numa criatura”. (CIgC 150) “A fé é uma adesão pessoal, do homem todo, a Deus que se revela. Comporta uma adesão da inteligência e da vontade à Revelação que Deus fez de si mesmo, pelas suas ações e palavras.” (CIgC n.176) Portanto, ao fazer sua adesão, a pessoa humana usa suas capacidades racionais e volitivas, e, assim, manifesta seu assentimento à verdade revelada por Deus. O conteúdo da Revelação chega às pessoas através da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério da Igreja. Este conteúdo revelado não é objeto de especulação intelectual, de busca de conhecimento abstrato, como tantas elaborações humanas, mas, fundamentalmente, é vivido na celebração litúrgica, mediante o culto público da Igreja. Efetiva e concretamente, a celebração do mistério de Cristo se realiza no tempo, de conformidade com o calendário da Igreja. “O Calendário litúrgico da Igreja Católica Apostólica Romana foi feito para cobrir todo o ano litúrgico cristão, abordando várias passagens bíblicas consoante o período em causa, considerando as duas principais celebrações cristãs: o Natal e a Páscoa. […] Foi concebido para a Igreja celebrar o Mistério de Cristo (particularmente o seu Mistério pascal) como Corpo de Cristo as principais etapas da vida de Jesus e refletir sobre sua missão e mensagem.” Conforme sua cronologia, o ano litúrgico começa com o Primeiro Domingo do Advento e encerra-se com a Solenidade de Jesus Rei do Universo, compreendendo Ciclos e Tempos.

“O Ciclo do Natal celebra o mistério da encarnação”, no Tempo do Advento, com seus períodos: “Período: Inicia quatro domingos antes do Natal e encerra-se na véspera do dia de Natal. Significado: Celebra-se a esperança da Salvação e a espera pelo nascimento do Salvador.” Esse Período “Inicia-se no Dia de Natal e vai até o domingo do Batismo de Jesus. Significado Celebra-se o nascimento de Jesus, o Salvador.” “O Ciclo da Páscoa celebra o mistério da redenção”. Compreende a Quaresma, cujo Período: “Inicia-se 40 dias antes da Páscoa. Significado: Celebra-se os dias de Jesus na terra, sua vida e mensagem.” Com o Tríduo Pascal, celebra-se esse Período, cuja culminância é o Domingo de Páscoa, Ressurreição Senhor, o dia maior do ano litúrgico, estendendo-se até “o domingo da Ascensão. Significado: Celebra-se a ressurreição de Jesus e o Êxodo.” Significado da Ascensão: Celebra-se a subida de Jesus Cristo ao céu após dar as últimas instruções aos discípulos.” Na Solenidade de Pentecostes, no Domingo seguinte ao domingo da Ascensão, a Igreja celebra a vinda do Espírito Santo, como relata São Lucas no Livro dos Atos dos Apóstolos. (cf. At 2,1-13)

O Tempo Comum é celebrado em dois momentos do calendário litúrgico. “1º período: Domingo do Batismo ao domingo da Transfiguração do Senhor. 2º período: Domingo da Trindade ao domingo de Jesus Cristo Rei do Universo. Significado: Tempo de reflexão e amadurecimento da fé.” Nesse Tempo, a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade. “Celebrar esta Solenidade logo após o Pentecostes reforça a convicção de que a História da Salvação, segundo a Revelação, é realizada pelo Pai, através do Filho, no Espírito Santo. Diríamos que, no centro cronológico do ano litúrgico, a Solenidade da Santíssima Trindade é a síntese de toda a narrativa da história salvífica. Nesta festa se explicita a verdade fundamental da nossa fé cristã: ‘Do Pai pelo Filho no Espírito Santo ao Pai’.” Na quinta feira depois dessa Solenidade, a Igreja celebra outra Solenidade: “Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”. “A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo reafirma a centralidade do Mistério Pascal celebrado na Eucaristia, que cotidianamente alimenta a Igreja na sua peregrinação rumo ao banquete eterno.” Esse “Mistério da fé” que, em cada Missa, o celebrante proclama, após o Rito da Consagração, “nos convida a mergulhar no Mistério de um Deus, que por amor, se faz presente no meio de seu povo para alimentá-lo, a fim de que não desfaleça no caminho.” Também como expressão da riqueza desse momento do Tempo Comum, a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é muito antiga, com especial reconhecimento ao testemunho dos membros do Apostolado da Oração e da Rede Mundial de Oração do Papa, “cuja missão é mobilizar os católicos, pela oração e pela ação, face aos desafios da humanidade e da missão da Igreja.” Nesse dia, fazem-se orações especiais pela santificação do clero, “com o objetivo de encorajar os sacerdotes a refletir sobre a importância e a dignidade de sua vocação.”

Ao longo do ano litúrgico, sempre em comunhão com a Santíssima Trindade, graças à sua fé e às ricas expressões do culto divino, a vida religiosa dos fiéis é pela iluminada Palavra de Deus, alimentada pela Eucaristia e favorecida pelo exemplo e proteção de Maria, a Mãe de Jesus, e de todos os Santos e Santas.

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