São Pedro e São Paulo: testemunhas da fé

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal

A Igreja celebra, neste domingo, 28 de junho, a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Dois grandes apóstolos de Jesus, considerados as colunas da Igreja. Testemunhas do Evangelho, os dois santos são importantes para a vida da Igreja. De São Paulo, temos a base para muitos pontos da doutrina da Igreja. Já São Pedro, o primeiro Papa, é o apóstolo confessor, que reconhece a Jesus como o Messias, o Cristo, o Filho de Deus.

Desejo refletir, de modo exclusivo, sobre a figura de São Pedro. Não porque a figura de São Paulo não seja importante, longe disso. Mas quero ressaltar São Pedro, indicando a sua trajetória, que lembra a de muitos de nós, e incitar a todos à confiança no Senhor Jesus, o Crucificado-Ressuscitado, que nos redime e conduz nossa vida, como fez com o seu apóstolo.

São Pedro, antes conhecido como “Simão, filho de João”, irmão de André, discípulo de João Batista, teve o primeiro encontro com o Mestre de Nazaré, através do irmão que o leva até Jesus (cf. Jo 1,40-41). É nesse encontro que o nome de Simão passa a ser “Cefas”, em grego rocha, pedra, daí o nome de Pedro (cf. Jo 1,42). Na lista dos 12 Apóstolos, Pedro figura no topo (cf. Mt 10,2-4; Mc 3,13-19; Lc 6,13-16). E acompanha Jesus em momentos especiais, ao lado de João e Tiago (cf. Mt 17,1s; Mc 9,2; Lc 9,28, a Transfiguração; Mt 26,37; Mc 14,33, a oração e agonia do Jardim das Oliveiras). É bem verdade, encontramos um fato negativo na caminhada do apóstolo: ele nega que conhecia o Mestre (cf. Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Lc 22,56-62; Jo 18,17.25-27). Porém, o Senhor ressuscitado, ao encontrar o seu apóstolo, à beira do mar de Tiberíades, lhe dirige as palavras de cunho redentor, apresentando o novo caminho para o apóstolo. É muito iluminadora uma interpretação feita por um teólogo italiano acerca desse episódio (cf. Jo 21,15-19). Trata-se de ver nas perguntas feitas por Jesus a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” a reviravolta redentora diante do fracasso do seguidor que traiu. A reflexão se torna mais sugestiva ainda devido ao fato de que no original grego, a palavra “amor” é dita de três formas: “eros”, “filia”, “ágape”. No texto do evangelho segundo são João, encontramos as duas últimas formas, usadas por Jesus e Pedro, numa construção literária que dá a oportunidade para tirar uma lição, não só para a vida de São Pedro, mas também, para nós, discípulos e discípulas de Jesus Cristo. No texto original, assim, vemos que Jesus usa, nas duas primeiras perguntas, a forma “ágape”, isto é, amor incondicional, total, com a doação da própria vida, como de fato, Jesus sempre agiu. E como, no Antigo Testamento, é a forma com que Deus ama o povo. Porém, São Pedro responde com “filia”, isto é, ele ama com amor marcado pela infidelidade, que necessita de um caminho para crescer, amadurecer; seria como dizer: “Senhor, eu gosto de ti”. Mas, na terceira vez que Jesus pergunta a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?”, a forma usada por Jesus é “filia”, e não mais “ágape”. O que isso quer dizer? Não poderia ser apenas uma simples variação linguística. Assim, afirma o teólogo italiano: “parece que é o mestre que se ‘converte’ ao discípulo, mais do que o discípulo ao mestre” (Bruno Forte). Isso quer dizer: com tal atitude, Jesus mostra a Pedro que Ele é a renovação da vida, Ele dá esperança para que o discípulo siga adiante, mesmo depois de ter experimentado a dor da infidelidade (cf. Mt 26,75; Mc 14,72; Lc 22,62, textos onde relata que, após negar Jesus, Pedro chora amargamente).

É essa esperança, que desejo a todos. De fato, São Pedro sofreu muito por ser seguidor de Jesus: preso a mando de Herodes, perseguido por Nero e crucificado como o Mestre (segundo a tradição teria pedido para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não se sentia digno de morrer como Jesus morreu). Mas, sua mensagem traz esperança para todos: “O Senhor não tarda de cumprir sua promessa… O que esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2Pd 3,9.13). Ao comemorar esses dois grandes Apóstolos, São Pedro e São Paulo, peçamos ao Espírito Santo que nos conceda a coragem de seguir no combate da fé, anunciando o Evangelho da graça de Deus.

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