“A humanidade não cumpriu suficientemente seu dever pelos irmãos mais pobres”. Com estas palavras, monsenhor Fernando Chica Arellano, Observador Permanente da Santa Sé junto à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ao Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e ao Programa Mundial de Alimentos (PAM), comenta o relatório de 2019 sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo. O documento foi apresentado nesta terça-feira (16), em Nova York, por cinco agências da ONU: FAO, Fida, Unicef, PAM e OMS (Organização Mundial da Saúde).
O relatório faz parte do monitoramento dos progressos em direção ao segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – “Fome Zero” – que visa derrotar a fome, promover a segurança alimentar e colocar fim a todas as formas de desnutrição até 2030.
Pelo terceiro ano consecutivo, a fome no mundo não dá sinais de declínio: em 2018, cerca de 820 milhões de pessoas não tinham comida suficiente, em comparação aos 811 milhões do ano anterior. As crianças com baixo peso ao nascer são 20,5 milhões (1 em cada 7), as crianças com menos de 5 anos com desnutrição crônica são 148,9 milhões e aquelas que sofrem de desnutrição aguda são 49,5 milhões.
A fome está aumentando, de modo particular, em países onde o crescimento econômico está ficando para trás, com baixa renda média e aqueles cuja renda depende do comércio internacional de matérias-primas.
Em contraposição a essa triste realidade, o relatório das Nações Unidas também revela que no mundo está em aumento a obesidade e o número de pessoas com excesso de peso, particularmente entre crianças em idade escolar e adultos; e que as probabilidades de insegurança alimentar são maiores entre mulheres do que entre os homens, em todos os continentes, com a maior diferença na América Latina.
“O relatório – continua monsenhor Fernando Chica Arellano na entrevista concedida ao Vatican News – está nos dizendo que as pessoas por trás desses números não têm um presente sereno nem um futuro luminoso”. “A comunidade internacional realmente deveria fazer mais – ressalta – falta a vontade, sobretudo em remover as causas devidas ao homem, como os conflitos, a crise econômica e as mudanças climáticas”.
Ásia e África
O maior número de pessoas subnutridas (mais de 500 milhões) vive na Ásia, principalmente na parte sul. Também na África, a situação é extremamente alarmante, com as mais altas taxas de fome no mundo, que continuam a aumentar lentamente, mas de forma constante, em quase todas as regiões.
Em particular, na África Oriental, cerca de um terço da população (30,8%) está subnutrida. Além do clima e dos conflitos, o aumento é favorecido pelas crises econômicas. O Observador Permanece junto às organizações e organismos das Nações Unidas para alimentação e a agricultura, enfatiza que “todos podemos fazer algo para combater a fome”, antes de tudo não desperdiçando alimentos e não cedendo à indiferença, como os personagens da parábola do “bom samaritano”. “A comunidade internacional – acrescenta – deve crescer em solidariedade, porque a solidariedade, o investimento na paz, são uma forma de lutar contra a fome”.