Para o analista político Melillo Dinis, o quadro social no Brasil é grave. Na manhã desta terça (20), o advogado que dirige o portal Inteligência Política apresentou aos bispos presentes na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, para a reunião o Conselho Episcopal Pastoral (Consep) a análise de conjuntura. Na ocasião, falou das tensões que estão em torno dos processos políticos no Brasil, desigualdade, religião, educação, crise econômica mundial e preocupações com o meio ambiente.
Melillo analisou os primeiros oito meses com a nova configuração política do país, nos poderes Executivo e Legislativo, de forma especial. “Viramos um país em que cresceu a quantidade de arenas e de palcos, especialmente na política, na educação, nos costumes e na economia”, explicou, citando o “presidencialismo de colisão” presente no atual contexto.
Como exemplos que estão na tensão entre os poderes políticos, o analista apontou para os cenários no Poder Executivo; assuntos em pauta no Congresso Nacional, como a reforma tributária na Câmara dos Deputados, a Reforma da Previdência, o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos e a Reforma Tributária, no Senado. Melillo também citou as temáticas em pauta no Supremo Tribunal Federal e no Ministério Público Federal, como a expectativa para a indicação do novo procurador-geral da República.
Na sequência, Melillo Dinis convidou à reflexão a partir deste cenário considerando a realidade de “um país que vive uma profunda crise social, econômica e ambiental” e com a segunda maior desigualdade do mundo, a primeira se considerada a vigência da democracia.
Mapa da desigualdade
Os dados do mapa da desigualdade apontam para o crescimento da desigualdade por conta da queda de rendimentos desde o fim de 2014. Melillo expôs que a renda per capta dos 10% mais ricos no Brasil subiu 2,5% acima da inflação e do 1% mais rico subiu 10,1% acima do mesmo índice. “Do outro lado estão os pobres. O rendimento dos 50% mais pobres despencou 17,1%. E dos 40% do meio, a classe média, caiu 4,2% em relação à inflação”, informou. Este quadro de desigualdade, “traz consequências para a política”.
Quanto à crise mundial, Melillo destaca que, desde o ano passado, chama a atenção para alguns motivos que devem justificar esta crise, como a redução do crescimento chinês, pelas disputas comerciais, pelo protecionismo e pela falta de integração dos mais pobres – especialmente os africanos e os latino-americanos – no mercado mundial. “Esse risco de resseção trouxe dificuldades para o Brasil exceto na agroindústria. E isso é voo de galinha porque os mercados se reequilibram muito em breve e este geralmente é um modelo concentrador”.
A análise continuou com a questão ambiental e a realidade de crise histórica na educação brasileira. Melillo ainda falou sobre a realidade religiosa no Brasil, com poder político sendo assumido por correntes religiosas, grande volume de dinheiro movimentado neste meio, a presença de “transnacionais da fé” no país e os ataques que a Igreja Católica tem sofrido e deve sofrer neste segundo semestre deste ano.
Após reações, Melillo convidou para a promoção do diálogo “como pessoas que, sem arrogância e sem a pretensão de ensinar nada, convidam todo mundo para o diálogo. E este diálogo pressupõe um ponto de partida que talvez a gente não saiba como vai concluir, pois é algo de construção”.