Pandemia e esperança

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal

Prezados leitoras e leitores!

Vivemos um tempo difícil e que nos amedronta. A pandemia da COVID-19 nos deixa impotentes e apreensivos. Quantos mortos pelo mundo inteiro, quantas pessoas infectadas! Podemos perguntar: – Mas, por quê? Por que tudo isso? Alguns podem dizer: – É castigo divino pelos nossos pecados! Desde já, se alguém vem com essa resposta, diga: – O nosso Deus é amor e misericórdia, ele não está feliz por isso estar acontecendo!

Mas, então, por que estamos padecendo assim? Que nós tenhamos que cuidar de nossa higiene, lavar as mãos sempre, limpar a poeira que fica no ambiente em que moramos, trabalhamos e onde nos reunimos para o entretenimento, isso não é de agora. Mas, onde está a causa de tudo isso que põe no chão as grandes economias, as grandes potências mundiais, e não escolhe condição social, sexo, idade, cultura, e até religião?

Não é de hoje, também, que o alerta para o que estamos fazendo com o Planeta, a nossa Casa Comum, preocupa-nos e exige uma radical mudança no comportamento, nas atitudes de consumo, no cuidado para que a natureza não seja destruída. Antes mesmo do grito do nosso amado Pastor, Papa Francisco, já se dizia: “é uma verdade inconveniente”, porém, é uma realidade terrível. Estamos matando o nosso Planeta. Nos últimos 30 anos, quantas guerras foram realizadas e até sustentadas pelo comércio de armas, motivadas pela ganância dos poderosos deste mundo pelo “ouro negro”. Nações destruindo nações, até mesmo onde deveria reinar sempre a paz; religiões que pregam a paz sendo usadas como sustentáculo da arrogância que mata, que destrói. Não é um cenário que deixa o nosso mundo seguro. E para não falar do avanço da tecnologia, usada até mesmo como moeda de troca para dominar e para controlar. Bendita tecnologia que poderia ser usada para estreitar os laços e contribuir para que sintamos a nossa superioridade que deveria ser vivida como sinal de fraternidade, levada a ser instrumento de destruição.

Mas, não somos profetas da desventura, nem anunciadores de uma “falsa” ou “triste’ ou “pavorosa” mensagem. A nossa é uma “boa” e “bela” mensagem (por isso se chama “Evangelho”, do grego “eu”, boa, e “anghelios”, mensagem, notícia). Sim, a nós foi uma boa notícia: Deus é o Criador e Ele cuida de sua obra. Ele não é um tirano que após realizar a criação, brinca com ela, jogando-a na parede e empurrando-a para o precipício, quase se deleitando em ver a nossa desgraça. Não, Deus é o Deus de amor. Ele aposta no ser humano, confia nele. Diante dos erros de sua criatura, “sente” a ingratidão, mas não se revolta, não busca a vingança. Sua ira é destinada à destruição do mal que torna o ser humano não só culpado, mas também vítima. E se isso não bastasse, Ele mesmo mostrou ou sentiu na pele o que isso significa: seu Filho se tornou o que nós somos. Experimentou a nossa condição, para que nós aceitássemos o dom que Ele, desde toda a eternidade, sempre pensou em nos oferecer: a sua própria Vida, felicidade sem fim.

Portanto, é hora de erguer a cabeça. Sigamos as orientações sanitárias. Tenhamos fé. Deus dará a todos nós a vitória. Mas, ele quer que não esqueçamos que o mundo é a nossa Casa Comum e que a Vida eterna começa aqui, vivendo já a alegria de sermos seus filhos e filhas. Animemo-nos com essas palavras tão cheias de esperança e de conforto de Papa Francisco:  “Mas nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de se olhar a si mesmos com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’, n. 205).

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