Palavra do arcebispo sobre o Mês Vocacional | Arcebispo de Olinda e Recife

Ouvir a voz do Espírito

Esse é o apelo que toda a Bíblia nos faz. A história começa quando o patriarca Abraão escutou um chamado. Como diz a Carta aos Hebreus, “ele partiu sem saber para onde ia“. E essa voz do Espírito ressoa até a insistência repetida pelo Apocalipse nas cartas às Igrejas da Ásia: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 5 ss). Essa é a vocação, o chamado divino que forma a comunidade de fé. Pela sua própria natureza, ela é uma “comunidade vocacionada”.

Há exatamente 50 anos, (1968), a 2a Conferência Geral do episcopado latino-americano em Medellín (Colômbia) afirmou: “A Igreja é, antes de tudo, um mistério de comunhão católica, pois no seio de sua comunidade visível, pela vocação da Palavra de Deus e pela graça dos sacramentos, particularmente a Eucaristia, todos os seres humanos podem participar fraternalmente da comum dignidade de filhos e filhas de Deus” (LG 32), e todos também compartilhar a responsabilidade e o trabalho para realizar a missão comum de dar testemunho do Deus que os salvou e os fez irmãos em Cristo” (Medellín, doc. 15, 6). Esse texto ganha, hoje, nova atualidade no contexto do “ano do laicato” que, no Brasil, estamos celebrando. Torna-se ainda mais pertinente agora, nesse mês vocacional. Ele nos lembra que vivemos a missão não apenas como trabalho e sim como resposta ao chamado divino. Todos, leigos/as, religiosos/as, diáconos, padres e bispos, temos uma só e mesma vocação comum: testemunhar o reino de Deus, isso é, manifestar ao mundo que Deus é Amor e tem um projeto de salvação para a humanidade. Essa vocação nos faz todos irmãos e é vivida em ministérios diversos e complementares.

Nesse ano de 2018, a CNBB nos propõe como tema do mês vocacional: “Seguir Jesus à Luz da Fé” e o lema: “Sei em quem acreditei” (2Tim 2,12). Com Fé, precisamos abrir os ouvidos para escutar o chamado e, ao mesmo tempo, rezar pelas vocações, como fazemos todos os anos no mês de agosto. Todos nós dependemos do chamado divino. Não se trata tanto de pedir a Deus que chame mais pessoas para o anúncio do evangelho. Deus não precisa ser lembrado para cumprir o que ele mesmo quis e tomou a iniciativa de fazer. O que podemos pedir a Deus é que as pessoas se deem conta do chamado e acolham a graça divina para responder Sim ao seu apelo. Rezar pelas vocações é também pedir que nós mesmos que, há tantos anos, estamos no ministério, aceitemos escutar, cada vez de novo, não apenas o primeiro chamado que recebemos, mas principalmente o que o Espírito diz, hoje, às Igrejas. Que Ele nos ilumine para que saibamos testemunhar o máximo cuidado de amor com todas as pessoas que nos procuram ou frequentam nossas comunidades.

Não adiantaria, nem seria sincero, pedir a Deus que nos mande vocações novas, se ocorresse que ele manda, mas elas são desencorajadas ou impedidas de aprofundar o seu chamado por não contar conosco e com nossas comunidades. Que possamos dizer como Jesus: “Toda pessoa que o Pai me dá virá a mim e qualquer um/uma que vem a mim, eu não o lançarei fora” (Jo 6, 37). Somente à medida que reconheçamos nas pessoas que nos procuram que elas vêm porque foram atraídas e conduzidas pela Palavra de Deus, “sabendo em quem acreditou”, que poderemos efetivamente rezar pelas vocações.

Dom Antônio Fernando Saburido

Arcebispo de Olinda e Recife

DESTAQUES

REDES

Pular para o conteúdo