O Papa Francisco participou nesta terça-feira (20) do encontro inter-religioso de Oração pela Paz. O momento, que tinha como tema “Ninguém se salva sozinho. Paz e Fraternidade”, contou com a participação de líderes religiosos do mundo inteiro e aconteceu na Basílica de Santa Maria in Aracoeli, em Roma.
Na abertura, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, proferiu algumas palavras: “O Espírito Santo nos reuniu para juntos pedir a paz que é dom de Deus”. Bartolomeu I afirmou que o momento interpelou os corações a reencontrem a coragem da reconciliação, a força humilde do diálogo, da alegria e da reconciliação.
“Que a nossa invocação dissipe as trevas do mal, do terrorismo e da violência, e nos abra à esperança”, frisou o patriarca, que completou: “Que este tempo ferido pela pandemia nos impulsione a buscar a cura de todo o mal e que a criação possa ser o alvorecer de um novo dia”.
Na sequência, um texto do livro do profeta Isaías foi proferido e o presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha, Heinrich Bedford-Strohm, refletiu sobre a passagem bíblica e a oração pela paz.
Segundo o pastor, homens e mulheres desejam a cura de seus males, mesmo com almas confusas diante de tantas mudanças, como as causadas pela pandemia da covid-19. “Sinais físicos que sempre foram expressão de amor tornaram-se um inimigo do amor, um perigo para o outro”, afirmou Heinrich, que questionou: “Como compreender essa inversão?”.
Diante desta confusão, o pastor afirma que o mundo precisa da promessa de Jesus que diz: “Não vos deixarei sozinhos, estarei convosco”. Além disso, Heinrich destacou que homens e mulheres precisam também ser sinal de cura, de fraternidade, exercer a justiça para que todos tornem-se um só.
O presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha exortou os cristãos a se questionarem: E se o refugiado fosse Jesus? E se quem passa fome fosse Jesus? Para o pastor, fazer perguntas como essas ajuda o ser humano a se comover diante das necessidades dos outros. “Abre a porta para uma nova vida, para a paz”.
Reflexão do Papa
Após a leitura do evangelho de São Mateus que relata a paixão de Jesus e a tentação que se abate sobre ele, o Papa Francisco fez a sua reflexão para o momento de Oração pela Paz. No início de sua fala, o Pontífice recordou que Jesus, no momento mais alto de dor e sofrimento ouviu a seguinte frase: “Salva-te a ti mesmo”.
A tentação de salvar-se, tendo em mente só os próprios interesses, constitui o último desafio de Jesus crucificado, disse Francisco. Os primeiros a dizer isso, recordou o Papa, foram aqueles que passavam no momento da crucificação e que não tinham compaixão, apenas o desejo de milagres. “Talvez nós também preferíssemos um Deus espetacular e não compassivo. Mas este não é Deus, é o nosso eu”.
“Quantas vezes queremos um Deus à nossa medida ao invés de nós nos configurarmos à medida de Deus. Um Deus como nós ao invés de nos tornarmos nós como Ele. Desta forma preferimos o culto do eu à adoração de Deus. Um culto que se alimenta da indiferença com o outro”. – Papa Francisco
Segundo o Pontífice, aqueles que passavam estavam diante dos olhos de Jesus, mas longe do seu coração e a indiferença os mantinha longe do rosto de Deus.
Os príncipes dos sacerdotes foram o segundo grupo a dizer a Jesus: “Salva-te a ti mesmo”. O Papa afirma que Jesus significava um perigo para eles e comentou: “Somos os primeiros a crucificar os outros para nos salvar, e não foi o que Jesus fez. Ele salvou os outros, mas não salvou a si mesmo”.
O Santo Padre comentou que os príncipes dos sacerdotes conheciam Jesus e fizeram uma dedução maliciosa, insinuando que salvar os outros não trazia bem algum. “A acusação é feita em tom de escárnio e serve-se de termos religiosos como o verbo ‘salvar’. O ‘evangelho’ salva a ti mesmo é falso. O evangelho verdadeiro assume a cruz dos outros”.
Por fim, Francisco recordou que também os que foram crucificados com Jesus disseram esta frase a Ele. “Como é fácil vermos o mal dos outros e não os nossos. Por que motivo aqueles crucificados atacam Jesus? Dizem: ‘Salva a ti mesmo e a nós também’. Procuram Jesus só para resolver os problemas deles. Deus não vem para resolver nossos problemas, mas para nos salvar da falta de amor”, destacou.
A falta de amor foi apontada pelo Papa como a raiz de todos os males pessoais, sociais, internacionais e ambientais. “Pensar em si mesmo é o ‘pai’ de todos os males”, alertou.
Ainda sobre os crucificados, o Santo Padre destacou um que se põe a admirar Jesus e obtém o paraíso fazendo apenas uma coisa: deslocando a atenção de si mesmo para Jesus.
“No calvário acontece o grande duelo entre Deus que quer nos salvar, e o homem que quer salvar a si mesmo”. Com a morte de Jesus, acontece também a vitória de Deus que espalhou sua misericórdia no mundo. “A cruz nos tornou irmãos. Os braços de Jesus abertos na cruz assinalam uma mudança radical: Deus não aponta o dedo a ninguém, mas abraça a cada um, pois só o amor apaga o ódio, vence a injustiça e dá espaço ao outro, o amor é o caminho para a plena comunhão”.
O Santo Padre concluiu exortando os cristãos a rezarem a Jesus crucificado pedindo a graça da união e da fraternidade. Francisco recordou então as palavras de Jesus: “Quem quiser salvar a sua vida vai perde-la, quem quiser salvar a sua vida por causa de mim e do evangelho há de salvá-la”.
“Aquilo que aos olhos do homem é uma perda, para nós é a salvação. Aprendamos com o Senhor que salvou-nos esvaziando-se, fazendo-se outro: de Deus se fez homem, de Espírito se fez carne, de Rei se fez servo” – Papa Francisco
O Papa convidou os cristãos a irem ao encontro do outro. “Quanto mais nos agarramos a Jesus, mais seremos abertos e universais. O outro será o caminho para nos salvarmos. (…) Que o senhor nos ajude a caminhar juntos pela fraternidade, para sermos testemunhas do Deus verdadeiro”.
Além deste momento de oração entre os líderes cristãos, outros encontros ocorreram em Roma de forma simultânea. Realizaram suas orações: judeus, muçulmanos, budistas, six e hindus. Após o fim de todos os encontros, todos os representantes das realidades religiosas encontraram-se na Praça do Capitólio, também em Roma.