No pulmão da Terra, o Brasil está sem ar

Dom Limacêdo Antonio da Silva
Bispo auxiliar de Olinda e Recife

É triste constatar que, “no pulmão da terra, o Brasil está sem ar”, como constatou o Editorial do Jornal do Commercio do dia 16.01.2021. Maior contradição não poderia haver neste momento tão trágico do mundo, onde já morreram devido à Covid-19, mais de dois milhões de pessoas, sendo dessas mais de duzentos mil só no Brasil. Perdemos apenas para os Estados Unidos. Ao lado desses dados, nos assusta a notícia de variantes encontradas na Inglaterra, no Japão, na África do Sul e no Brasil (na Região Amazônica).

A falta de respiradores na capital do Amazonas, que tanto sofreu na primeira onda desse mal, escandaliza a qualquer ser humano de modo particular quando, de um lado, se sabe que as autoridades governamentais foram informadas da precariedade das condições para o enfrentamento da doença; de outro lado que, três semanas antes do colapso, foi elevado o imposto de importação (16%) no valor de cilindros usados para o armazenamento de gases medicinais que estavam isentos desde março de 2020 para facilitar a logística de combate à Covid-19.

De Manaus, 235 pacientes estão sendo transferidos para sete estados: Piauí, Maranhão, Goiás, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, mais o Distrito Federal. A taxa de mortalidade naquele estado é de 143 por mil habitantes, sendo uma das três mais altas das 27 unidades federativas do nosso país. O temor toma conta da região e faz tremer a população. Segundo o diretor de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan: “a atual onda de coronavírus no estado da Amazonas é pior do que a sofrida na região entre abril e maio, e o sistema de saúde corre o risco de implodir”.

A cidade do Recife recebeu o avião que deveria viajar rumo a Mumbai, na Índia, onde ocorrerá a maior campanha de vacinação do mundo, a fim de buscar dois milhões de dose da vacina da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz contra a Covid-19. Infelizmente acordamos do sonho quando estava tudo pronto para que o mesmo pudesse decolar. Assim, assistimos ao fracasso da compra da vacina que poderia iniciar o processo de imunização em nosso país.

O negacionismo, a improvisação, a desinformação, a falta de bom senso são algumas das causas desse cenário, cujo panelaço ocorrido nessa última sexta-feira sinaliza o descontentamento com a condução de nosso país dentre tantas questões, aquela da saúde pública, um dos pilares de uma nação humana, racional, democrática e em defesa da vida. Louvemos a Deus porque, finalmente, o Brasil deu início ao processo de vacinação com o imunizante Coronavac, produzido pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, em São Paulo.  

O Papa Francisco, profeta de nossos tempos, levou a Igreja, com o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, a colocar a vida do planeta no centro de sua reflexão e abriu o debate para a humanidade inteira sobre o seu futuro. Chamou-a de “’querida” e partilhou seus quatro sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial. Não bastasse isso, convidou-nos, no primeiro dia deste ano, Dia Mundial da Paz, a abraçarmos a categoria e a prática da “cultura do cuidado como percurso de paz”!

Daí, desejo em nome da Comissão Sociotransformadora do Regional Nordeste II da CNBB, apresentar nossa solidariedade às populações e aos pastores do norte do Brasil, nesse momento tão desafiador ao anúncio do Evangelho. “Não deixem que vos tirem a esperança” (Papa Francisco).

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