Fazer o bem: melhor remédio | Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap

Muito sabemos da existência de sociedades que cultuam a cultura da vingança velada. Para muitos, faz mais sentido pagar o mal com o mal, como se esta prática fosse aliviar o sofrimento causado por alguém. As páginas do Evangelho de Jesus nos ensinam que o mal deve ser combatido com o esforço da caridade: “Não resistais ao homem mau; antes, àquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda” (Mt 5,39). Nossa profissão de fé não deve caminhar para o rumo contrário do caminho da bondade. Os cristãos devem assumir o compromisso de realizar o bem em tudo, permanecendo sempre próximos dos homens, nas suas alegrias e nos momentos sombrios da existência humana.

A cultura da bondade deve nos educar a colocar Deus como medida de tudo, não podemos ter a nós mesmos como metro de medida, agindo como se fôssemos o senhor das coisas. Agimos com bondade porque Deus mesmo fez-Se constante bondade. Ser bom não é somente fruto de nossos esforços, mas somos praticantes da bondade porque antes de tudo nos veio a graça de Deus. Ela opera em nós e não devemos desconsiderá-la.

O mal que ronda nossa alma desenvolveu-se na história como um rio sujo, que envenena a geografia da história dos homens. Este fato nos coloca diante de profundas contradições, mas também aponta para o desejo de redenção que é mais forte que o diabo. A pessoa humana sempre carrega o desejo de fazer o bem; na política, todos apoiam-se no discurso de mudar as estruturas, mesmo quando vemos muitos afundando o país num mar de corrupção estruturante. O mistério da iniquidade continua misterioso, ele não se explica pela lógica, só Deus e o bem são lógicos, são luz. Mas cabe-nos, com o exemplo de bons cristãos, continuar a acreditar que podemos construir um mundo marcado pela justiça e paz. Não podemos ser arautos da reclamação enfadonha, de achar que nada vai mudar. O melhor remédio para a maldade que nos rodeia é a bondade gratuita. “Cristo crucificado e ressuscitado, novo Adão, opõe ao rio sujo do mal um rio de luz. E este rio está presente na história: vemos os santos, os grandes santos, mas também os santos humildes, os simples fiéis. Vemos que o rio de luz que procede de Cristo está presente, é forte”(Papa Emérito Bento XVI). Permitamo-nos envolver concretamente pelo remédio da bondade, para que sejamos como luzeiros em espaços sombrios que estão viciados pelo ranço da vingança.

Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap
Arcebispo da PAraíba

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