Corpus Christi, Cristo com os seus

Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)

Após a Solenidade da Santíssima Trindade, na quinta feira, a Igreja celebra a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. É, uma Festa móvel do Calendário Litúrgico. O Evangelista São João, no prólogo do quarto Evangelho, reportando-se ao mistério da Encarnação, escreveu: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós, e nós contemplamos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo,14). Com seu nascimento, em Belém, Jesus, a Palavra, tornou-se uma presença visível. Por isso, São Paulo ensina que Jesus, ao humanizar-se, “é a imagem do Deus invisível”. (Cl 1,15) Jesus assegurou sua presença entre os seus, de forma sacramental, quando instituiu a Eucaristia, na Quinta Feira Santa, ao dizer aos Apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. (Lc 22,19). Jesus assegurou, outra vez, sua presença entre os seus, antes de subir ao céu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20)

É sempre importante tomar consciência do “sentido de uma presença”, presença de algo ou de alguém. “A vida do homem é povoada de presenças: presenças visíveis e próximas como a de uma mãe que cuida de seu filho que brinca ou repousa; presenças invisíveis como a de duas pessoas que se amam, pensam uma na outra e se encontram superando a distância e a separação do corpo; presenças que proporcionam paz, satisfação, segurança, e presenças tempestuosas, perturbadoras, que são como uma ameaça…”. Assim acontece no plano das relações humanas. Mais profunda é a consideração a respeito do “sentido da presença”, “quando o homem faz a experiência singular de uma presença misteriosa mas real, que atinge o centro do seu ser; uma presença que inspira um inefável sentimento de confiança e segurança e que do seu íntimo o chama.” A fé cristã sabe que a Eucaristia é a “presença misteriosa mas real” de Jesus porque foi ele mesmo que o disse. Com efeito, “Depois da Ascensão, que o subtrai à experiência sensível dos homens, a presença de Jesus muda de sinal mas não muda a realidade. Ele continua e se dá sob o sinal do pão partido e do vinho, nos quais oferece seu Corpo como alimento e seu Sangue como bebida de salvação e de vida”. A presença “litúrgica e sacramental” de Jesus na comunidade é identificada, com o olhar da fé, “através da ‘memória’ dele”. “Durante a celebração litúrgica, fazemos, de fato, memória de Jesus, de sua vida, morte, ressurreição, tornando-o assim presente no meio de nós. Não se trata, porém, de uma presença desencarnada, de uma memória que só se restringe a uma recordação. Trata-se de uma memória que, através dos sinais do pão e do vinho, comidos e partilhados pela comunidade, torna presente o Cristo na sua realidade e no mistério que nos são comunicados.”

A milenar celebração de Corpus Christi é um testemunho histórico e espiritual da fé cristã no mistério da Eucaristia, confirmando que o Emanuel, profetizado por Isaías, nascido em Belém, “está no meio de nós”. Assim, respondem os fiéis, nas suas celebrações, à saudação do ministro ordenado: “O Senhor esteja convosco”. A Festa de Corpus Christi soleniza essa afirmação comunitária da fé no Sacramento da Eucaristia. “Compõem a celebração de Corpus Christi a Santa Missa, Procissão e Adoração ao Santíssimo Sacramento. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.”

Em razão do isolamento social e do distanciamento interpessoal, decorrentes da pandemia do novo coronavirus, em 2020, as expressões festivas e públicas da Solenidade de Corpus Christi cedem lugar à sobriedade na forma ritual e à delimitação de sua celebração ao interior das igrejas. Mudam as circunstâncias na forma de celebrar, não mudam, porém, as certezas dos católicos na “presença misteriosa mas real” de Jesus na Eucaristia. Essa verdade, “mistério da fé”, é reafirmada nessa Solenidade da Igreja: Cristo está presente entre os seus discípulos e discípulas.

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