O contexto provado pela pandemia do novo coronavírus, impôs aos estudantes um ritmo diferenciado de estudo, uma vez que as escolas foram fechadas como medida do distanciamento social, para proteção à saúde dos estudantes, principalmente. Os alunos do Ensino Médio e outros jovens que desejam ingressar no Ensino Superior vivem as incertezas quanto à aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. O Ministério da Educação – MEC e o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais – INEP, responsável pelo exame, anunciaram a prorrogação da data da prova em 30 ou 60 dias.
Contudo, ainda há incertezas que, associadas aos esforços dispendidos aos estudos remotos, tem gerado apreensão nos jovens do Brasil. Afinal, como se preparar adequadamente para o exame numa situação tão conturbada como a da pandemia?
A pressão de Entidades Estudantis, Professores, Secretários de Educação e Reitores de Universidades para que a data fosse adiada, revela o quanto o assunto é importante na vida de milhões de brasileiros. O Setor de Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, tem participado dessa reflexão por meio dos agentes da Pastoral da Educação, acompanhando as análises e mobilizações em favor do adiamento do ENEM.
A grande questão ao redor da necessidade em adiar o ENEM está diretamente relacionada com as desigualdades sociais no país. Segundo o censo de 2019, o Brasil tem 7,5 milhões de matrículas no Ensino Médio, das quais 87% no sistema público de ensino e 13% na rede particular. Se fossem mantidas as datas das provas para novembro deste ano, o processo seletivo do ENEM aumentaria as já fragilizadas chances de grande parte dos candidatos. O ensino a distância não contempla todos por igual, principalmente aqueles que vivem realidades mais vulneráveis nos centros urbanos e regiões rurais. Diante disso, o processo de preparação para o exame se torna desigual e excludente.
Segundo a educadora Aleluia Heringer, a conjuntura que se instalou diante da quarentena impossibilitou, principalmente, aos estudantes desfavorecidos economicamente o acesso às aulas on-line. “Não lhes faltam vontade e bons professores, mas, sim, banda larga, computador, um quarto, uma mesa, o silêncio, e tantos outros equipamentos básicos e condições para que consigam, minimamente, dizer que estão estudando”, disse.
Professores que trabalham sem remuneração em cursinhos comunitários de preparação para o ENEM ressaltaram que a manutenção da data causaria ainda maior exclusão de estudantes das grandes periferias e cidades pequenas. Além disso, grande parte dos estudantes da rede pública não dispõem de livros e material didático para um adequado processo de aprendizado fora do ambiente escolar. O desafio não está somente no aumento da desigualdade entre a educação privada e a pública. Entre os alunos de escolas públicas existe um hiato em que um grupo considerável não tem acesso à internet, computador nem espaços em suas residências para estudar e se preparar.
Para a psicóloga Rinara de Lara, que acompanha jovens em preparação ao ENEM, o cenário indica que as pessoas, neste momento, estão voltadas para a prevenção, e suas energias centradas em lidar com o problema da pandemia. “Tudo isso, acarreta medo, ansiedade e insegurança. (…) Os estudantes não têm condições emocionais de se adequarem à preparação para uma prova que, em situação normal, já é exigente. Em tempos de tantas perdas, será uma frustação a mais não ter a oportunidade de fazer a prova do ENEM em condições um pouco mais estáveis”, salienta.
Em um país com o histórico de desigualdades sociais, como é o caso do Brasil, o ENEM, ainda que tenha suas imperfeições, continua sendo um importante instrumento para democratização do acesso ao Ensino Superior. Opor-se ao seu adiamento, neste tempo extraordinário de Pandemia, é retroceder aos avanços que têm contribuído para construir uma sociedade menos desigual.
Para refletir um pouco sobre o ENEM, seu papel no acesso ao Ensino Superior e as vantagens de seu adiamento, a Comissão Episcopal para a Cultura e Educação promoverá uma edição extra da Live semanal na segunda-feira, dia 25 de maio, com a presença do Dr. Jacques Cousteau da Silva Borges, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – I.