Celebração natalina da Pastoral Carcerária no Presídio Igarassu emociona arcebispo

Como apagar as grades e muros que privam a liberdade? Como apagar o peso de um erro cometido no passado? A realidade trabalhada pelos projetos de ressocialização no presídio de Igarassu mostra que é possível apagar usando a borracha do amor. Nem todos sabem ou querem usar esta ferramenta, mas ela é gratuita e tem como pré-requisito apenas uma abertura sincera de coração e despojamento de preconceitos e de pré-julgamentos. Afinal, como bem ensina a irmã Dulce, da Bahia, quem tem pressa em julgar não tem tempo para amar. Na tarde do dia 26/12, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido foi presenteado com a celebração natalina, organizada pela Coordenação da Pastoral Carcerária, no presídio de Igarassu, litoral Norte do Estado. O arcebispo metropolitano presidiu a Santa Eucaristia no salão ecumênico do presídio de Igarassu (Pig), concelebrando junto com o padre Alessandro Corrazza, vigário episcopal de Igarassu, diante de cento e vinte reeducandos selecionados dentro os quase quatro mil detentos do local e para agentes da Pastoral Carcerária e do movimento do Terço dos Homens. O arcebispo foi recebido pelos coordenadores arquidiocesanos da Pastoral Carcerária, Valdemiro Cruz e Rui Albuquerque. 

Durante a procissão do ofertório da missa natalina, os reeducandos depositaram em frente ao altar os produtos resultantes dos projetos de ressocialização: artesanatos, hortaliças. Em sua homilia, dom Fernando comentou o Evangelho do dia, em memória de Santo Estévão. “Ele imitou Cristo, pois enquanto era apedrejado e estava morrendo, Santo Estévão pediu a Deus perdão por seus algozes. A Igreja nos ensina a perdoar.”, acrescentou o arcebispo.

É possível falar em presente, no sentido de prêmio. A realidade transformadora que se vê no Pig resulta de um processo de gestão inclusivo e de um tratamento humanizado, com a implantação de projetos de ressocialização, que vêm sendo desenvolvidos na unidade prisional há pouco mais de dois anos. E o mais surpreendente de tudo: os recursos financeiros e humanos empregados são os mesmos utilizados em outros estabelecimentos de detenção. O diretor do presídio, Charles Belarmino, mostra que não existe receita mágica para a ressocialização acontecer com êxito. Com simplicidade, o gestor, que é servidor público, relata que firma parcerias com a iniciativa privada e com entidades do sistema S (Senac), por exemplo, para ofertar aos reeducandos uma oportunidade de qualificação profissional. “É importante dar uma segunda chance aos reeducandos. Estas pessoas vão retornar à sociedade após cumprirem suas penas e precisam estar preparadas para exercer um ofício com dignidade”.

A coordenadora dos projetos de ressocialização na unidade, Maria das Graças Alves, também servidora pública, é bastante respeitada pelos reeducandos e repreende com firmeza e carinho os acolhidos. O clima de silenciosa fraternidade é extensivo aos agentes da Pastoral Carcerária que atuam no Pig, como Marlene. “O sentimento que prevalece aqui, hoje, é o de missão cumprida, pois ver o nosso arcebispo visitando e conhecendo este cenário renova nossas esperanças de levar esta experiência pioneira a todos os presídios brasileiros.”, suspira aliviada a agente da Pastoral Carcerária. Marlene atua como voluntária há mais de cinco anos na unidade de Igarassu e nota o impacto humanizador trazido pela nova gestão: redução no clima de tensão, no número de rebeliões, um ambiente mais leve para evangelizar e um território favorável a reescrever novas e belas histórias.

Histórias e testemunhos. Foi o próprio arcebispo, dom Fernando, quem pediu para ouvir de alguns reeducandos presentes na missa natalina, relatos de ressocialização que vêm acontecendo no presídio de Igarassu. A reeducanda Radija Erivan, que atua como educadora física, contou que aprendeu tudo sobre educação com a servidora Graça e sentia-se grata pelo acolhimento. Outro reeducando iniciou sua fala destacando o tanto de tempo que lhe restava para cumprir uma condenação de 181 anos, mas que em apenas 60 dias no Pig, percebera o tratamento igualitário e plural que a direção e a equipe estendem aos detentos. O reeducando Rosivaldo Costa, de 45 anos, atua como professor voluntário de Inglês, e lembrou, com os olhos marejados, que sempre acompanha as celebrações eucarísticas do arcebispo no presídio e em especial, no período natalino, é importante cultivar o perdão e valorizar o convívio com a família.

Os projetos de ressocialização desenvolvidos no presídio de Igarassu (Pig) acontecem com o consentimento da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) e incluem as seguintes atividades: oficinas de costura, bordado, cabelereiro, maquiagem, fabricação de sabão, cursos de informática, de idiomas, de marcenaria, dentre outros. Os antigos corredores que outrora serviam de depósito foram transformados em biblioteca e em salas de aprendizado e o antigo lixão, no interior do pátio da unidade, foi convertido em horta comunitária. Quem quiser juntar-se a este mutirão solidário e ajudar a apagar com a borracha do coração, pode doar à equipe do presídio alguns materiais que são necessários na ressocialização. A coordenadora dos projetos, Maria das Graça informa os produtos que são aceitos: tecidos diversos, cadernos, material de higiene e limpeza, lençóis, colchões, cobertores e medicamentos. Informações: (81)99743-5601 e [email protected]

(Pascom Arquidiocese/ Os reeducandos do Pig autorizaram o uso de suas imagens)

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