Arquidiocese faz memória aos 50 anos do martírio do Padre Henrique

No próximo dia 27 de maio de 2019 vão se completar cinco décadas do sequestro, tortura e assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, à época professor e assessor arquidiocesano da Pastoral da Juventude no episcopado de Dom Helder Camara, período do Regime Militar no Brasil. O crime político levou grande comoção ao clero de Olinda e Recife e especialmente tocou aos jovens que viam no padre Henrique um grande conciliador e porta de diálogo e de escuta entre gerações de pais e filhos. Para fazer memória aos 50 anos deste triste episódio e para fazer com que o amor e a paz falem mais alto diante de atos de desamor e de covardia, a Arquidiocese de Olinda e Recife, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese, o Instituto Humanitas da Unicap e o Fórum Articulação de Leigos e Leigas vêm promovendo programação alusiva ao padre Henrique desde o dia 24/05. Dentre as pessoas ligadas ao saudoso padre Henrique e presentes aos eventos, um rosto merece destaque. O da professora Izaíras Pereira, irmã do Padre Henrique. É notável a sua semelhança física com o falecido irmão. O tempo passou para Izaíras, que se mantém lecionando, trabalhando com alunos jovens e gostando de seu ofício, ativa com o passar de anos. O arcebispo dom Fernando Saburido observou que o padre Henrique foi morto no auge de sua vida: “Se ainda estivesse vivo, certamente teria dado uma enorme contribuição para a Igreja”, afirmou. Outro aspecto evidenciado nas atividades em memória ao jubileu do martírio do sacerdote foi o papel da família, que incessantemente lutou para elucidar o crime. O que faz lembrar que tudo inicia na família e converge para ela.

Padre Ernanne Pinheiro, assessor da CNBB, participando da mesa redonda na Unicap

O ciclo de eventos em memória dos 50 anos da morte do padre Henrique teve início na Unicap, dia 24/05, com a realização de uma mesa redonda intitulada Missão, Martírio e Verdade. O debate reuniu entre os palestrantes o padre José Ernanne Pinheiro (Assessor da CNNB, padre  na Arquidiocese de Olinda e Recife à época do episcopado de Dom Helder),  Roberto Franca (Jurista e Político que pertenceu ao grupo de jovens apoiados pelo padre Henrique) e Henrique Mariano (Jurista, secretário-geral da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Camara – CEMVDHC –  e relator do caso Padre Henrique). A professora Izaíras Pereira também participou da mesa redonda.

Professora Izaíras, irmã do padre Henrique

Os palestrantes foram recebidos por Antônio Carlos Maranhão, presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese e presidente do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC). Antônio Carlos enfatizou que é necessário tornar cada vez mais conhecida a história do padre Henrique para evitar que ela se repita: “Muitos jovens não fazem ideia do que é viver em uma Ditadura”. O arcebispo dom Fernando Saburido não pode comparecer à mesa redonda, mas enviou uma mensagem aos presentes, no formato de um vídeo, resumindo o clima de comoção que o crime contra o padre Henrique causou na Arquidiocese.  O padre Ernani relembrou detalhes dos dias seguintes à morte do padre Henrique e os ritos adotados por dom Helder Camara para apascentar as ovelhas, desde o enterro até as celebrações das Missas de 7° e de 30° dia. O jurista Henrique Mariano relatou o percurso de investigações que a Comissão da Verdade Dom Helder Camara percorreu até chegar as conclusões pelos responsáveis pelo crime. Mariano destacou que foi fundamental o papel desempenhado pela família do padre Henrique, que se mostrou incansável em cobrar dos governantes e do judiciário o esclarecimento do crime. Roberto Franca, jurista e membro da juventude que acompanhava padre Henrique nas reuniões da Igreja, mostrou-se preocupado com a presença de poucos jovens no auditório. “É preciso mostrar à juventude estes fatos”, expressou Franca.

Na manhã do domingo, 26/05, a Sé de Olinda foi o cenário da celebração Eucarística presidida pelo arcebispo dom Fernando Saburido, em memória ao Padre Henrique. Compareceram à Santa Missa familiares do sacerdote, amigos, integrantes de comunidades e de movimentos, além de representantes do poder público. Apesar de a data marcar os 50 anos do assassinato do jovem presbítero, a atmosfera predominante era de reencontro e de gratidão pelo legado de amor deixado pelo padre Henrique, no decorrer de seus 28 anos de vida.

Em sua Homilia, o arcebispo metropolitano lembrou que nos últimos 50 anos, no Brasil e em toda a América Latina, é possível se contar com enorme quantidade de mártires: são camponeses, operários, índios, mulheres inseridas na caminhada social, gente de sindicatos. Dom Fernando afirmou que todos eles são testemunhas do projeto divino no mundo, são mártires da boa nova do Reino. Jesus os proclamou bem-aventurados, por terem sofrido por causa da justiça. Destes, não poucos irmãos e irmãs eram agentes de pastoral; religiosas como a irmã Adelaide Molinari, na Amazônia e a irmã Dorothy Stang, no Pará; presbíteros como padre Josimo Tavares, em Tocantinópolis, Ezequiel Ramin, em Rondônia e Antônio Henrique, aqui entre nós. E mesmo bispos como Dom Enrique Angelelli, na Argentina, Dom Juan Gerardi na Guatemala e Dom Oscar Romero, que o papa Francisco canonizou em 2018. “Dentre todos estes, talvez o padre Henrique tenha sido o mais jovem e aquele do qual menos se podia afirmar que fazia trabalho de conteúdo diretamente político”, salientou dom Fernando.

Dom Fernando rezou próximo ao túmulo do padre Henrique na Sé de Olinda

Antes da bênção final, o arcebispo e os concelebrantes monsenhor José Albérico Bezerra e o monsenhor Luciano Brito, junto com a assembleia, dirigiram-se à capela da Sé onde encontra-se o túmulo do padre Antônio Henrique. Dom Fernando abençoou e incensou o túmulo e rezou junto com familiares e amigos. A professora Izaíras foi cumprimentada por ex-alunos do padre Henrique e amigos de dom Helder Camara. O momento foi marcado pela emoção e saudade. Izaíras lembrou a luta da sua mãe, Izaíras, que teve doze filhos e, após a morte do sacerdote, prestou vestibular para o curso de Direito aos 55 anos, formou-se advogada e obteve a certificação da OAB para ter maior credibilidade e poder perseguir seus objetivos de fazer justiça ao assassinato do filho mais velho.

Prosseguindo com o ciclo de homenagens em memória ao jubileu do martírio do padre Henrique, no dia 27/05 (segunda-feira), vão acontecer as seguintes programações: às 10h, na Sé de Olinda, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, vai depositar uma coroa de flores no túmulo do padre Henrique e às 18h, na igreja das Fronteiras, Derby, terá lugar a Vigília em memória dos 50 anos do martírio de Padre Henrique, seguida de reflexão sobre a vida e o assassinato de padre Henrique e apresentação compacta da peça O pro(fé)ta – o bispo do povo, encenada pelos atores Júnior Aguiar e Daniel Barros.

(Pascom Arquidiocese)

DESTAQUES

REDES

Pular para o conteúdo