‘A grande tarefa é animar o Regional na esperança’, diz dom Paulo Jackson

Bispo da Diocese de Garanhuns, igreja particular que completou um século de missão no agreste pernambucano, dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, terá pelos próximos quatro anos a tarefa de presidir a CNBB Nordeste 2. Eleito no terceiro escrutínio durante a Assembleia Geral, realizada em Aparecida, em maio, o epíscopo acolheu com “frio na espinha o chamado da Igreja”, mas confiante “na capacitação por meio da graça de Deus”.

Paraibano de São José de Espinharas, dom Paulo, que tem 50 anos – metade deles dedicado ao sacerdócio e quatro ao episcopado – lembra sempre que a missão será dividida. Além dele, foram eleitos o bispo da Diocese de Caicó (RN), dom Antônio Carlos Cruz Santos, como vice-presidente, e o bispo da Diocese de Cajazeiras (PB), dom Francisco de Sales Alencar Batista, que vai ocupar o cargo de secretário do Regional.

O ponto de partida do trabalho da presidência, segundo dom Paulo, será fortalecer a colegialidade “entre os irmãos bispos para que a Igreja viva, que acontece nas comunidades, seja uma Igreja de esperança”.

Em sua primeira passagem como presidente pela sede da CNBB NE 2, no Recife, no fim de maio, dom Paulo destacou também que o Regional precisa ter uma “presença discreta e ao mesmo tempo forte como a de Maria” e estar aberto ao diálogo com a CNBB Nacional e demais atores da sociedade.

Confira a entrevista:

Assessoria de Imprensa – Como o senhor recebeu esta missão de conduzir a CNBB NE 2 pelos próximos quatro anos?

Dom Paulo – Os percursos de Deus a gente não compreende com a razão, mas com os olhos da fé. Na minha vida inteira sempre estive a serviço do que a Igreja pede, e entendo como mais um chamado de Deus por meio da Igreja. É uma responsabilidade muita grande suceder todos os grandes homens que passaram pela presidência do Regional. Por outro lado, Deus não nos abandona, ele vai nos dando as graças necessárias para levar a missão adiante.

AI – Depois das primeiras reuniões com os conselhos econômicos e fiscal, com o Conselho Episcopal de Pastoral (CEP) e com os Coordenadores Diocesanos de Pastoral (CDP), qual será sua prioridade na presidência do Regional?

DP – Há uma certa falta de efetividade na colegialidade, isto é, as vezes o que nós decidimos na Assembleia Pastoral Regional não chegam à ponta da rama, ou seja, aos padres, paróquias e comunidades. O primeiro grande desafio é fazer com que as decisões colegiais da nossa assembleia primeiro estejam em sintonia com as diretrizes da CNBB Nacional, e segundo que essas deliberações cheguem ao nível cotidiano da vida de Igreja.

AI – O que é preciso para que essas decisões da Assembleia Pastoral cheguem a todas as comunidades do Regional, respeitando a autonomia e a realidade particular de cada diocese e arquidiocese?

DP – A CNBB Nacional lança diretrizes pastorais e evangelizadoras para o Brasil inteiro. Como o nome diz são orientações, não são normas que o bispo na sua diocese obrigatoriamente tenha que seguir, ele é livre para fazer seu percurso eclesial. Do ponto de vista teológico, o bispo diocesano tem autonomia plena, por outro lado, existe o valor chamado colegialidade ou sinodalidade. Esses bispos estão presentes tanto na assembleia nacional como na regional, se ele deu seu voto de aprovação, eu creio que a colegialidade eclesial nos impõe um laço teológico e eclesiológico que nos impulsiona para a implementação dessas decisões. Também é preciso haver um processo de convencimento afetivo e eclesiológico, isto é, o Espírito Santo de Deus guia a Igreja e cria um caminho de comunhão.

AI – A CNBB Nordeste 2 reúne quatro arquidioceses e 17 dioceses de quatro Estados. Cada região dessas províncias eclesiásticas tem suas peculiaridades. Como a presidência do Regional vai lidar com essa realidade?

DP – A grande tarefa da presidência é animar o Regional na esperança e ser uma presença confortadora na vida dos irmãos bispos, que as vezes passam por momento tão difíceis. Devemos ter essa sensibilidade para ser essa presença de alegria, diálogo e comunhão com os 21 bispos, não uma presença de cobrança, muito pelo contrário, a gente propõe o diálogo, respeitando imensamente essa diversidade tão grandiosa e bela. É uma  riqueza imensa contar com dioceses do sertão, agreste, zona da mata e litoral, com todas as suas características específicas e suas muitas complexidades que incidem diretamente na pastoral e na evangelização.

Dom Paulo Jackson tem 50 anos e é natural da cidade de São José de Espinharas (PB) (Foto: Portal A12)

AI – Então a nova presidência da CNBB NE 2 pretende manter uma presença constante em todas as dioceses?

DP – Não tenha dúvida. Uma presença como a de Maria, discreta e, ao mesmo tempo, firme. Nossa Senhora na teologia católica é absolutamente discreta, mas com a firmeza e a doçura de uma mãe. Se a presidência do Regional puder ser essa presença discreta, forte, animadora, esperançosa e de comunhão nos momentos difíceis da vida dos irmãos bispos, creio que terá cumprido seu papel.

AI – Sob sua presidência, como será a relação do Regional com a CNBB Nacional?

DP – No primeiro discurso como presidente da CNBB Nacional, o bispo da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Valmor Oliveira de Azevedo, disse que foi “eleito para dialogar, para ser um elo de comunhão no episcopado brasileiro”, essa é a missão dele como presidente nacional, essa também é a grande missão do presidente do Regional Nordeste 2. A relação do Regional com o nacional, primeiro é de filialidade, mas, ao mesmo tempo, é uma relação mútua de diálogo, cooperação, reflexão e animação da ação pastoral e evangelizadora.

AI – Qual deverá ser a postura da CNBB Nordeste 2 diante dos problemas sociais como violência e desemprego que desafiam, sobretudo, os Estados da Região?

DP – Nossa tarefa não é de protagonismo, mas de diálogo. Devemos abrir todas as portas para dialogar com os governos estaduais, municipais e até com o Governo Federal para apresentar as demandas sociais. Com o povo, precisamos animar a esperança, de fato as pessoas estão sofridas e decepcionadas. São cerca de 14 milhões de desempregados no Brasil, fora os desalentados, que nem procuram emprego mais. O crescimento econômico deve ser pífio e não vai chegar à mesa do trabalhador. Ao mesmo tempo, a violência não foi enfrentada. Para a Igreja não se faz combate à violência com mais armas nas mãos da população. A reforma da Previdência é tida como a pedra filosofal, até pouco tempo a reforma trabalhista foi propagada e propalada como a solução para todos os problemas do país, o que se viu foi precarização do trabalho e não foram gerados os empregos prometidos. Ser um país de explicações monocausais parece não ser bom. A Igreja não entra no mérito de questões técnicas, mas entra no mérito do princípio filosófico e teológico de que “os pobres são os preferidos de Deus” e é nessa certeza que vamos agir e dialogar.

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