A continuação da vida de Jesus em nossa vida

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal

Prezados leitores!

Neste domingo, 24 de maio, a Liturgia nos apresenta a Solenidade da Ascensão do Senhor: Jesus, após 40 dias de ressuscitado, sobe aos céus, para sentar à direita de Deus (cf. At 2,33; 7,56; Lc 22,69; Mt 26,64; também Sl 110,1; Mt 22,44; At 2,34-35; Hb 1,13). Tal ascensão ao céu poderia fazer-nos pensar na ausência do Senhor na vida dos seus seguidores. Também poderia levar-nos ao sentimento dos dois discípulos, chamados de “discípulos de Emaús”. O relato indica que esses dois discípulos, dos quais apenas um se conhece o nome, Cléofas, estavam decepcionados e frustrados com o acontecimento da cruz.  A incapacidade deles de atentarem para o novo tempo em que estavam vivendo, o tempo da Ressurreição, fazia com que eles nem sequer dessem crédito às mulheres, que não encontraram o corpo no túmulo e viram anjos que afirmavam que Ele estava vivo e aos outros discípulos que comprovaram o que as mulheres tinham dito sobre o túmulo vazio; mas, são taxativos: a Ele, não viram (cf. Lc 24,13-35). E agora que Ele subiu ao céu, a ascensão significa que Ele abandonou os seus?

Nada mais estranho ao próprio significado da Ressurreição, como também, ao fato do dom do Espírito Santo, pensar que Jesus foi embora e que abandonou os seus seguidores. Com o Espírito Santo, a vida e a mensagem de Jesus continuam presentes no mundo. Não podemos esquecer: embora São Lucas apresente a vinda do Espírito Santo, prometido por Jesus nos discursos de despedida (cf. Evangelho de São João, capítulos 13-17), 50 dias após a Páscoa, na festa judaica de Pentecostes, o evangelista são João apresenta o dom do Espírito Santo no mesmo dia da Ressurreição, o “primeiro dia da semana” (cf. Jo 20,19-23). Assim entendemos: de fato, Jesus crucificado e ressuscitado, ao subir aos céus, ao ser elevado à direita do Pai, não deixou órfãos os seus seguidores. Ele continua presente na vida de todos os que nele creem, pois o dom do Espírito, com a sua “missão”, faz-nos todos filhos e filhas no Filho, Jesus Cristo (cf. Gl 4,6).

A Igreja, continuadora da missão de Jesus, sustentada pela missão do Espírito Santo, é bem consciente dessa presença constante do Senhor, crucificado e ressuscitado, na vida dos seus membros. Assim se expressa a Igreja, quando celebra a Ascensão do Senhor: “Vencendo o pecado e a morte, vosso Filho, Jesus, rei da glória, subiu [hoje] ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (MISSAL ROMANO. Prefácio da Ascensão do Senhor I). Quem faz acontecer a presença contínua do Senhor na vida dos seus seguidores é o Espírito Santo. De fato, é isso o que testemunha o livro dos Atos dos Apóstolos: “Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo” (At 2,3). “A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disso nós somos testemunhas. Portanto, exaltado à direita de Deus, ele recebeu o Espírito Santo prometido e o derramou, e é isto que vedes e ouvis” (At 2,33). O próprio Jesus tinha prometido aos seus apóstolos: “Quando vos conduzirem…perante as autoridades, não vos preocupeis como ou com o que vos defender, nem como o que dizer, pois o Espírito Santo vos ensinará naquele momento o que deveis dizer” (Lc 12,11-12).

Assim, “a vida de Jesus na Terra ainda não está consumada. Cristo continua vivendo sua vida na vida dos seus seguidores” (Dietrich Bonhoeffer)

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