Por Dom Fernando Saburido*
No Brasil, a Igreja Católica consagra setembro como o “Mês da Bíblia”. Nesse ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como livro a 1ª carta de João. Como nesses quatro anos mais recentes, quis continuar com o mesmo tema geral: “Para que nele nossos povos tenham Vida”.
É muito importante que não se divida a fé da realidade que vivemos, tanto no plano pessoal (interior), como no social. Quando Jesus afirmou “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10), deixa claro: seus discípulos constituídos como pastores devem cuidar da vida das ovelhas, em todas as suas dimensões e não apenas das almas e dos costumes religiosos. Jesus se encarnou na realidade e assumiu nossa condição humana em todos os seus aspectos, menos o pecado.
Assim também, seus discípulos devem assumir as preocupações e questões sociais. Fazemos isso ao participar do caminho dos movimentos sociais organizados, mesmo se seus dirigentes e representantes nem sempre têm a mesma sensibilidade e, em todos os assuntos, as mesmas posições e a mesma metodologia de ação, iluminados pelos valores do Evangelho, que nós, pastores da Igreja, costumamos defender. Conforme o espírito de Jesus, não devemos nos inserir só quando temos o controle de tudo e sim dialogar e participar em tudo o que diga respeito ao bem comum, à vida dos pobres e ao cuidado com a casa comum.
Desde 1995, através das pastorais sociais, a CNBB criou o “Grito dos Excluídos”. Até hoje, os assessores que articulam o Grito e preparam cada edição anual são padres e religiosos do Serviço Pastoral dos Migrantes, da Caritas Nacional e das pastorais sociais.
Aqui no Recife, todos os anos, muitos irmãos e irmãs das comunidades de periferia e das pastorais sociais são o rosto da nossa arquidiocese nesse evento. Seria importante a participação do clero e das pastorais sociais, como sinal de que respondemos positivamente ao apelo do papa Francisco ao dialogar com os movimentos sociais e propor uma Igreja em saída.
Como sempre esse 25º Grito dos Excluídos acontecerá na data da comemoração da independência do Brasil. Ele se inspira em palavras do papa aos movimentos sociais e tem como tema “A vida em primeiro lugar. Esse sistema não vale. Lutamos por Justiça, Direito e Liberdade”.
O Grito dos Excluídos sempre começa com uma concentração que nesse ano se realizará a partir das 8h da manhã do dia 7 de setembro na Praça do Derby. De lá sairá uma caminhada que deverá retornar ao ponto de partida.
Desta vez, a coordenação nacional propõe que se possa:
1º – resgatar o projeto que deu origem e sentido ao Grito dos Excluídos.
2º – apontar caminhos a seguir nesse momento atual, tão difícil para o nosso país.
O projeto que deu origem e sentido ao Grito foi que a Igreja possa viver sua catolicidade (universalidade) como Igreja de todos, mas a partir de baixo: dos mais pequenos e da intuição bíblica de que a adoração a Deus só é aceita se for baseada na prática da justiça e do direito.
Os caminhos a seguir não compete a nós definirmos já que o Grito é dos Excluídos e nós o apoiamos. Assim, testemunhamos que Deus é Amor e está sempre do lado dos pequenos. Nós todos, pastores e fiéis estamos com o Deus que é “Deus conosco” e como propõe o papa Francisco como “Igreja em saída”.
*arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife