Jesus sempre fascinou as pessoas, as multidões, com sua pregação. Elas acorriam a Ele e levavam consigo também suas necessidades e dificuldades: “Uma grande multidão O seguia, porque via os sinais que Ele operava a favor dos doentes” (Jo 6, 2). O capítulo do Evangelho de João 6 é uma página explicitamente eucarística, fala-nos de Jesus como o Pão do céu, o único Pão que sacia a humanidade inteira. Jesus realiza o milagre da multiplicação dos pães e o faz a partir da debilidade de um menino que portava somente cinco pães e dois peixes: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6, 9).
As exigências da escuta atenta da Palavra de Deus reclamam-nos a estar no lugar do menino que possuía tão pouco alimento e com a voz do discípulo podemos também perguntar a Jesus: “Mas o que é isto para tamanha multidão?”. Aquele pequeno menino não sabia, mas sua atitude orienta-nos para a Cruz e Ressurreição, para os efeitos eficazes da Eucaristia. O milagre de Deus na nossa vida nunca se realiza a partir do nada, mas sempre nos pede a atitude de partilha e de confiança. E qual é o caminho dessa confiança que às vezes nos custa tanto? Basta olharmos para o caminho de Jesus. Ele se oferece como dom de amor a todos os homens, e perpetua esse dom na missão da Igreja; somos todos, como seus discípulos e missionários, chamados a ter a mesma confiança espontânea do menino que só tinha cinco pães e dois peixes, mas que deu tudo, que se ofereceu todo na partilha que tinha nas mãos.
Na Eucaristia a Igreja aprende a dar tudo porque Ele se deu todo a nós. Não existe espaço para o egoísmo e o acúmulo de bens. Somos como que educados a partilhar, e a partilhar não somente as coisas que julgamos ter, mas, principalmente, oferecer a vida inteira em favor de nossos irmãos. As multidões que contemplaram o milagre dos pães caíram na tentação de querer ostentar Jesus como um rei terreno, cheio de expectativas meramente humanas, quando Ele é um rei diferente, um rei que serve, que se inclina sobre o homem e suas reais necessidades para saciar não apenas a fome material, mas, especialmente, a fome mais profunda, a fome de sentido, de verdade, a fome de Deus. Que Nossa Senhora, a Mulher Eucarística, a Mãe do Pão vivo que desceu do céu, ajude-nos a ter a mesma coragem e disposição do menino que deu tudo, e deu porque confiou no milagre de Jesus!
Dom Manoel Delson
Arcebispo Metropolitano da Paraíba