Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal
Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31), a Campanha da Fraternidade de 2025 propõe promover um processo de conversão integral em tempos de crise socioambiental, ouvindo o grito dos pobres e da Terra. Entre os objetivos específicos, destacam-se denunciar os males do estilo de vida atual que geram a crise socioambiental e apontar as causas da grave crise climática global, ressaltando a necessidade de mudanças profundas nos modos de vida e a rejeição das “falsas soluções” para a transição energética.
A Ecologia Integral, como apresentada na Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco e adotada pelo Texto Base da Campanha da Fraternidade 2025, enfatiza a interligação entre o Criador, o ser humano e toda a criação. É um conceito que une dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas e espirituais, promovendo uma visão integradora em que o ambiente é reconhecido como uma casa a ser cuidada, e não como um recurso a ser explorado.
A Laudato Sí apresenta um conceito de Ecologia Integral em quereconhece que “tudo está interligado” e que os desafios ambientais não podem ser compreendidos ou enfrentados isoladamente de outras dimensões da vida humana (LS n. 138-162). O Papa observa que o ser humano é parte de uma rede interconectada com o meio ambiente e que as ações em qualquer âmbito têm impacto sobre todos os outros. Segundo a Laudato Si’ a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum, que diz respeito ao desenvolvimento integral de todas as pessoas, incluindo as gerações futuras. O Papa afirma que “a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana” (LS, 8) e que “a saúde das instituições de uma sociedade tem consequências no meio ambiente” (LS, 142).
No Texto Base da Campanha da Fraternidade 2025, destaca-se que a ecologia integral requer que o ser humano concilie uma perspectiva antropocêntrica, voltada às necessidades humanas, com uma cosmocêntrica, que reconhece a criação como manifestação de Deus (Texto Base CF, n. 46-47). A ecologia integral exige uma conversão ecológica profunda e abrangente, que inclui o reconhecimento do pecado ecológico. Este se refere à violação do equilíbrio da criação, seja pelo uso predatório dos recursos naturais, pela poluição ou pela indiferença às mudanças climáticas. O Papa Francisco define o pecado ecológico como um crime contra a natureza e contra a humanidade, destacando sua gravidade em relação à nossa Casa Comum (cf. Laudato Si’, n. 8). O Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2025 reforça que essa ofensa exige arrependimento sincero e ações concretas de reparação, implicando uma mudança de mentalidade e estilo de vida que englobem renovação espiritual e ética. Esse processo inclui práticas como redução do consumo, combate ao desperdício e a adoção de atitudes sustentáveis, como priorizar o transporte público e consumir alimentos locais e saudáveis. Além disso, essa conversão deve refletir-se no âmbito comunitário, por meio da promoção da educação ambiental, do uso de energias renováveis e da organização de mutirões ecológicos (Texto-Base CF 2025, n. 156). A Ecologia Integral, conforme apresentada na Laudato Si’ e aprofundada pela Campanha da Fraternidade 2025, promove uma visão holística e transformadora para enfrentar a crise socioambiental. Esse paradigma interliga as dimensões da vida humana com o cuidado da criação, buscando justiça social, preservação ambiental e um futuro sustentável para as próximas gerações.