Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
Prezados leitores/as,
Há 15 dias, muitas das nossas Paróquias abriram suas igrejas matrizes para a celebração da Missa. Algumas abrirão neste fim de semana, possibilitando a presença, embora reduzida, de nossos fiéis. Desde a pandemia a celebração da Missa acontecia com um número ainda mais reduzido, alguns membros da Equipe de Liturgia ou Equipe de Celebração, alguns membros dos grupos de canto litúrgico. Graças a Deus nossos fiéis católicos estão conscientes e prudentes quanto a ida às Missas. Certamente, e isso envolve ministros ordenados, religiosos e religiosas e leigos e leigas, todos nós sentíamos “saudade” de nossos encontros comunitários, sentíamos a falta do que se apresenta, desde os tempos da Igreja Primitiva, como o centro de nossa fé: a Eucaristia, fonte e cume da vida cristã.
Creio que todos são conscientes, também, de que a decisão de fechar as nossas igrejas e reduzir a participação dos fiéis, foi uma decisão prudente, acertada, pois o que nos levou a tal decisão não foi o medo desesperador ou fraqueza na fé, mas atitude de respeito, de responsabilidade, de atenção às pessoas de risco, atitude de amor. Todos entenderam que o Mistério Eucarístico não deixou de ser celebrado em nossas comunidades. E o fato de assistirem pelos meios de comunicação: televisão e as mídias sociais, como também acompanharem pelas rádios, embora não tenha acontecido como o “normal”, o que expressa o significado da Eucaristia, do Corpo de Cristo partilhado, oferecido e dado para comer por aqueles que são os membros do seu Corpo, a Igreja não deixou de mostrar aos fiéis católicos de que a família reunida para rezar, e na harmonia do testemunho, é uma verdadeira “Igreja doméstica”.
No momento em que muitos refletem como será o “novo normal”, a Igreja nos exorta a que não deixemos de reconhecer que o mundo não será mais o mesmo de antes. E ainda, como o Papa Francisco chama a atenção, devemos também ver que com essa pandemia do coronavírus vieram outros “tipos de pandemia”, se não de origem viral, mas que nos preocupam e que tem instigado a sociedade e os povos ao senso de justiça e sensibilidade para buscar diminuir as desigualdades sociais. Toda a humanidade, muito consciente, tirando lições e assumindo papéis, projetos para evitar novas pandemias. E a Igreja também assume a missão, neste mundo globalizado, sempre à luz de Jesus Cristo, a partir dele, com Jesus Cristo no centro, como afirmou recentemente o Papa Francisco, de inspirar valores, atitudes e projetos para diminuir e combater as desigualdades sociais, promovendo o bem comum, a solidariedade e o respeito pela dignidade humana, princípios que estão inscritos na sua Doutrina Social. A Igreja não pode se furtar a ser parceira da humanidade nesse caminho de configuração nessa realidade instigante e tão complexa.
Somos conscientes, como católicos, daquilo que faz parte essencialmente de nossa fé: a experiência do encontro pessoal com Cristo, a realidade gratificante e cheia de dinâmica do discipulado missionário, a pregação do Reino de Deus, instaurado por Jesus e destinado a todos os homens e mulheres, o cuidado e o respeito pela Casa Comum, criação de Deus e dom de amor para todos, a busca pela comunhão que define o sentido da fé, a exigência e urgência da vivência do mandamento do amor, deixado por Jesus, a seriedade e beleza da catequese mistagógica e querigmática, a paciência com a índole e a história de cada ser humano, a esperança da pátria definitiva, onde Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28), tudo isso, não é passado e a pandemia não destruiu.
Faço votos de que todas as nossas comunidades estejam determinadas a seguir nesse caminho para que, refletindo o Rosto de Cristo em sua vida, sejam também corajosas e destemidas, em buscar iluminar esse mesmo Rosto, presente em cada irmão e cada irmã.