Formado em Filosofia e Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, o coordenador nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom) do Brasil, Marcus Tullius, comentou a mensagem do Papa Francisco para o 54º Dia Mundial das Comunicações deste ano que tem no ato de contar histórias e fazer memórias sua reflexão central. O Dia Mundial das Comunicações é celebrado pela Igreja Católica na Ascensão do Senhor. Este ano, a solenidade cai no dia 24 de maio. A mensagem do Santo Padre tem o seguinte título: “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história”.
Marcus Tullius também refletiu sobre os desafios enfrentados pela Igreja no Brasil e pela Pascom neste tempo de pandemia e de avanço do novo Coronavírus. “Tivemos que nos reinventar de maneira brusca e num período muito curto, sem o planejamento devido para suprir necessidades urgentes. Fomos aprendendo com a crise. Fomos fazendo com a crise. Fomos crescendo com a crise. Estamos nos transformando com a crise”, afirmou.
Para Marcus Tullius, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações deste ano, o Papa convida a refletir sobre duas realidades importantes: memória e história. E para contar histórias e produzir memória o Papa, ressalta o coordenador da Pascom, não usou em nenhum momento expressões ligadas às tecnologias, mas por três vezes usa o verbo tecer. “Tecer envolve habilidade, tempo desprendido, afeto”, disse.
“A mensagem do pontífice é providencial e provocante, pois, na escolha do tema e sua posterior divulgação, ninguém de nós imaginaria passar esta data mergulhado numa pandemia. Fomos forçados a parar e, “nesta pausa restauradora na nossa caminhada rumo ao céu”, a celebração do 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais lança muitas luzes e lampejos de esperança para viver este tempo”.
De acordo com o coordenador da Pascom Brasil, a escolha da citação de Ex 10, 2 como título e inspiração da mensagem não é casual. “O livro de Exôdos é repleto de memórias. É a partir da memória e do conhecimento intelectual do passado que o povo abatido alimentou a sua fé no Deus que revigora o ânimo e está disposto a caminhar de novo com o povo sofrido”, afirmou.
Segundo Marcus Tullius, os comunicadores de hoje, como os de outrora, têm a missão de testemunhar o tempo presente por meio das histórias narradas. O agente da Pascom reforça que a pandemia colocou o desafio para os meios de comunicação sobre o quê comunicar? Num contexto de notícias ruins, a Pascom, em sua avaliação, precisa promover uma comunicação positiva, promotora do bem, da vida, de uma comunicação que conte boas histórias, como impulsiona o Papa Francisco.
“A Pascom deve ser a voz que clama no deserto e proclama a boa notícia que acontece nas comunidades, paróquias e dioceses de todo o Brasil. Precisamos nos unir e fazer com que a mensagem ecoe pelas mídias de inspiração católica e também na mídia secular. Contar histórias é algo inerente à missão dos comunicadores. É preciso tecer histórias e não pode ser uma história qualquer”, afirmou.
A pandemia, em sua avaliação, ensinou que é muito bom estar perto fisicamente, mas que os fieis podem permanecer unidos e utilizar outras formas para expressar sua união. Marcus Tullius reforça que o avanço do Coronavírus fez a Igreja entrar de vez no ambiente digital e que não poderá abri mão dele quando tudo passar.
“Quando as nossas igrejas-templo forem reabertas e nossas celebrações com a presença do povo forem retomadas, não podemos nos esquecer dos fieis que, da sua igreja doméstica, permanecerão ali conectados. Vamos caminhar par a par com o Magistério da Igreja, com as reflexões teológicas e tecnológicas para aprimorar ainda mais nossa presença neste ambiente. É preciso que as pessoas, ali, continuem sentindo a presença da Igreja”, concluiu.
Abaixo, Marcus Tullius destaca as ideias centrais da mensagem do Papa Francisco para o 54º Dia Mundial das Comunicações.
CHAMADOS A CONTAR HISTÓRIAS QUE IDENTIFIQUEM E SEJAM VERDADEIRAS: fazer o bem resplandecer sempre. “Precisamos de sabedoria para receber e criar relatos belos, verdadeiras e bons. Necessitamos de coragem para rejeitar os falsos e malvados.”
CONTAR HISTÓRIAS QUE AJUDAM A REENCONTRAR RAÍZES: reconhecer os homens e mulheres que encarnaram de tal forma a História das histórias, a ponto de sua própria existência ser um testemunho vivo do Evangelho. “Cada um de nós conhece várias histórias que cheiram a Evangelho, que dão testemunho do Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas.”
A MENSAGEM DO PAPA É ANTROPOCÊNTRICA: Francisco coloca o ser humano no centro da mensagem, pois não há história sem personagem. O homem é um ser narrador e também tem necessidade de ser narrado. Ele tem fome de histórias e precisa revestir-se de histórias. “O ser humano é um ser narrador, porque é um ser em realização: descobre-se e enriquece-se nas tramas dos seus dias.”
RESPLANDECER O DINAMISMO DO BEM E DA TERNURA: perceber os sinais de redenção, mesmo quando os teares da comunicação são impregnados de histórias falsas e más. “Uma boa história é capaz de transcender os limites do espaço e do tempo: à distância de séculos, continua sendo atual, porque alimenta a vida.”
EXERCITAR A PACIÊNCIA E A CAPACIDADE DE ESCUTA: Não dá para contar uma boa história sem cultivar a paciência. “Precisamos de paciência e discernimento para redescobrir histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras dilacerações de hoje”.
ATUALIDADE DA HISTÓRIA: A partir da história de Cristo, renovar a nossa história. “A história de Cristo não é um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus se importa muito com o ser humano, a nossa carne, a nossa história, a ponto de se fazer homem, carne e história.”
TER ABERTURA AO ESPÍRITO SANTO: sem abertura ao Espírito Santo, criador e criativo, não há como contar boas histórias. “O Espírito Santo é livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus.”
CONTAR BOAS HISTÓRIAS NÃO É FAZER PUBLICIDADE: contar fatos da vida cotidiana, repletos de verdade. Histórias que façam memória. “Aqui a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: essa narração entra na vida de quem a escuta e a transforma.