“Gentileza gera Gentileza”

Dom Antônio Fernando Saburido
Arcebispo de Olinda e Recife
Presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso

 

 

Este é o tema da Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2020. No Brasil, a cada ano, entre as solenidades da Ascensão e Pentecostes, a Igreja Católica e outras Igrejas cristãs, membros do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) se unem para pedir especialmente a Deus a graça da unidade visível das Igrejas. Nestes dias, de modo especial, devemos testemunhar ao mundo que este dom de Deus só poderá vir se nos abrimos uns aos outros e nos dispomos a dar sinais de fraternidade e de comunhão, como Jesus nos mandou fazer.

Há mais de 60 anos, o papa João XXIII convocou todos os bispos católicos do mundo para o Concílio Vaticano II. Foi o 21º Concilio Ecumênico da Igreja e teve dois objetivos: a renovação interna da Igreja Católica e a unidade de todas as Igrejas cristãs. Atualmente, o papa Francisco tem repetidamente nos recordado a prioridade desta preocupação que foi o pedido de Jesus ao Pai, na noite da 5ª feira santa: “Pai, que os meus discípulos e todos aqueles que, um dia, hão de crer em mim, sejam Um, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17, 19- 20).

Atualmente, nestes dias de grande sofrimento para a humanidade, cristãos de diversas Igrejas têm atuado juntos no apoio às pessoas mais vulneráveis. No Recife, temos nos unido a movimentos sociais e a grupos de algumas Igrejas evangélicas, no atendimento de urgência às pessoas em situação de rua no centro da cidade, assim como em outros projetos de solidariedade aos mais necessitados.

Em um Brasil, no qual há grupos que fomentam ódio e intolerância, se torna mais urgente do que nunca testemunharmos que Deus é amor e que como nos ensinou o Concílio Vaticano II: “a unidade é o desejo do Pai para toda a humanidade” (UR 1).

Neste ano, o tema da gentileza foi pensado quando ninguém ainda imaginava a pandemia. Baseia-se em uma passagem dos Atos dos Apóstolos, na qual Paulo, levado de navio a Roma como prisioneiro, sofre um naufrágio. Ele e seus companheiros desembarcam em uma ilha. Ali são recebidos com muita hospitalidade e amorosidade pelos nativos que os recebem com uma “gentileza fora do comum” (At 28,2). Esta história é comum a todas as Igrejas cristãs, que a leem na mesma Bíblia. Neste momento em que estamos obrigados a ficar em casa, podemos desenvolver no coração o espírito de acolhida e de gentileza com todos os irmãos e irmãs, especialmente aqueles que, embora de outra Igreja, são chamados à mesma fé e a mesma missão de testemunhar o amor divino presente no mundo. Peço a todos os irmãos e irmãs da nossa arquidiocese que, mesmo neste momento de distanciamento social, oremos pela unidade das Igrejas e aceitemos, sempre que possível, dar sinais de acolhida e gentileza para com os irmãos de outras Igrejas. Apesar das divisões que ainda existem, como escreveu o apóstolo Paulo: “Há um só corpo (o corpo de Cristo) e um só Espírito (O Espírito Santo). Há uma só a esperança à qual fomos chamados. Há uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, acima de todos, no meio de todos e em todos” (Ef 4,4- 6).

Impossibilitados de nos encontrarmos pessoalmente para a realização de celebrações, nesta semana de oração pela unidade dos cristãos, insisto na necessidade de rezar, pessoalmente ou comunitariamente, pela unidade dos cristãos. Façamos também uso da criatividade, promovendo encontros ecumênicos on-line.

 

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