Queridos irmãos e irmãs!
Na semana passada, o Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin, numa entrevista, chamava a atenção para a mudança de paradigma que vem acontecendo com o Papa Francisco, especialmente nos seus gestos, palavras e, sobretudo, com os escritos, Evangelii gaudium, Laudato si, Misericordiae vultus, Amoris laetitia. Um paradigma vivido nos Sínodos dos Bispos, onde se ressalta a “sinodalidade”, a responsabilidade missionária de todos os batizados, e a preocupação com o sofrimento da humanidade, especialmente dos pobres, dos enfermos e dos refugiados. Em relação à atitude de conversão pastoral, já desejada pela Igreja na América Latina e no Caribe, expressa no Documento de Aparecida, o Papa Francisco expôs a necessidade de que sejamos “Evangelizadores com espírito”.
No último capítulo da Exortação apostólica Evangelii gaudium (cap. V), intitulado, justamente assim, “Evangelizadores com espírito”, o Papa Francisco propõe “algumas reflexões acerca do espírito da nova evangelização” (EG 260). Afirma o Papa no início do capítulo V: “evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo”. É necessário invocar o Espírito pela oração, sem a qual toda ação corre o risco de ficar vã e o anúncio carece de alma. A presença do Espírito traz para a Igreja uma estação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até o fim e feita de vida contagiante. Mas isso só pode acontecer se arder em nossos corações o fogo do Espírito. Uma evangelização com espirito quer dizer uma evangelização com o Espírito Santo. Ele é a alma da Igreja evangelizadora (EG 261).
O espirito da nova evangelização leva os evangelizadores a rezar e trabalhar. Para o Papa Francisco e isso é um dos aspectos mais fascinantes da renovação conciliar, “não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme os corações” (EG 262). Este é um critério de discernimento da verdadeira espiritualidade cristã. O Papa retoma uma proposição do Sínodo dos Bispos, e recomenda que “é preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade” (idem). Não é possível à Igreja dispensar o “pulmão da oração”, isto é, “sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado e o ardor apaga-se” (idem). O Papa não recomenda, por isso, uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação. Uma falsa espiritualidade que gere privatização do estilo de vida nunca levará à dedicação da vida à missão.
É preciso, pois, recordar o exemplo dos primeiros cristãos. Eles, segundo Papa Francisco, se mantiveram transbordantes de alegria, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e capazes de uma grande resistência ativa. Deram testemunho da força do Espírito Santo num mundo que não era favorável ao anúncio do Evangelho, nem à luta pela justiça, nem à defesa da dignidade humana, como era o contexto do Império Romano. O Papa exorta a que aprendamos com os santos que nos precederam e enfrentaram as dificuldades próprias do seu tempo. Vivemos, não num tempo mais difícil. O nosso tempo é diferente. Também hoje sentimos a fraqueza humana, egoísmo, concupiscência, limitação humana. Mas, é preciso recuperar as verdadeiras motivações que nos ajudem a imitar os primeiros cristãos e sermos evangelizadores com espirito (cf. EG 263).