Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife
Desde 1971, através da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, a CNBB propõe que a Igreja Católica no Brasil consagre setembro como Mês da Bíblia. A cada ano, escolhe-se um livro ou tema bíblico, em geral, ligado à Campanha da Fraternidade ou a uma realidade à luz da qual precisamos ler a Palavra de Deus. Neste ano, este setembro coincide com as comemorações dos 200 anos da independência. Além de dar graças a Deus pelo evento cívico que, oficialmente, tornou o nosso país independente, a cada dia, precisamos completar a independência formal e política do Brasil com dignas condições de vida para todo o povo brasileiro.
Por isso, a comissão que preparou o mês da Bíblia para este ano escolheu como tema o Livro de Josué e indicou como lema “O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes” (Js 1,9). Ao fazer isso, a comissão deixou claro que, à luz da comemoração dos 200 anos da “Independência do Brasil” (1822), propõe refletir sobre a importância da terra na nossa história, alimentar a esperança do nosso povo e valorizar em toda a nossa história a presença e ação salvadora de Deus.
Na Bíblia, o Livro de Josué vem logo depois dos cinco primeiros livros (o Pentateuco). Conta a história da entrada do povo bíblico na Terra Prometida, depois que Deus tinha libertado os hebreus da escravidão no Egito e, durante 40 anos, os conduzira pelo deserto. O livro começa com a entrada na terra e se conclui com as tribos reunidas em Siquém. (Js 24). Ali, descobriram que a aliança com Deus está ligada ao pacto de solidariedade com os outros. Não se pode, como mais tarde, dirá Jesus, desligar o amor a Deus da preocupação com a solidariedade e a justiça eco-social.
Josué nem sempre é leitura fácil. Há passagens que parecem justificar guerras em nome de Deus, que ali aparece como se fosse um deus guerreiro. São textos escritos, justamente, para devolver ânimo aos oprimidos que sofrem injustiças e assegurá-los de que Deus está do seu lado.
Para nos ajudar na compreensão do livro de Josué, existem vários subsídios bons e acessíveis. Em nossa arquidiocese, a Comissão para a animação bíblico-catequética está promovendo encontros sobre esses temas.
Por sua proposta, neste ano, o mês da Bíblia se liga a outro evento que a CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a AÇÃO SOCIOTRANSFORMADORA propõe para o 7 de setembro e a Semana da Pátria: o Grito dos Excluídos. Desde 1994, a partir da 2ª Semana Social Brasileira da CNBB, surgiu a iniciativa de organizar em todo o país, o Grito. As pastorais sociais se juntam aos movimentos populares para expressar os gritos justos e necessários das pessoas sofridas que formam a imensa maioria do povo brasileiro.
No ano passado, diante de ataques ao Grito dos Excluídos, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB afirmou: “Causa perplexidade saber que o Grito dos Excluídos traz incômodos e desconfortos para muitas pessoas, insensíveis ante a multidão de pobres e vulneráveis. Ao invés de cultivarem compaixão, reprovam o evento anual realizado no Dia da Pátria e dedicado aos excluídos. Agora, com os vergonhosos cenários de pobreza da sociedade brasileira se multiplicando, não há outro caminho: os gritos dos excluídos precisam ser ouvidos. Não se trata de questão política, muito menos se relaciona com jogos de interesse de contextos ideológico-partidários, mas uma consideração humanitária diante dos que sofrem. O Brasil está emoldurado por cenários de fome e, por isso, torna-se urgente qualificar a escuta do coração e engajar-se nas ações que impulsionam mudanças, com velocidade ainda mais veloz, para vencer o sofrimento que vitima tantos pobres, mergulhados na insegurança alimentar, passando fome” (Cf: https://www.cnbb.org.br/860675-2/).
Que o Deus da Vida nos conduza por caminhos novos de Justiça, Paz e possamos viver o que propõe o tema do nosso XVIII Congresso Eucarístico Nacional: “Pão em todas as mesas”.