Ser pai, uma vocação

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal

Queridos irmãos e irmãs!

No segundo domingo de agosto, seguindo a dinâmica do Mês vocacional, celebramos o Dia dos Pais. Uma ocasião propícia para uma ação de graças por aqueles que, juntamente com as mães, são responsáveis pela doação da vida. Num mundo marcado pelo desprezo da autoridade e seu significado verdadeiro, celebrar e agradecer pelos pais nos leva a uma reflexão sobre a graciosidade e a ternura do ser pai. Uma ternura que nós não podemos deixar desaparecer, sob o risco de transformar a vida numa experiencia insuportável, o que é, segundo a Revelação divina, algo completamente distante do projeto de Deus em relação aos homens e às mulheres.

Comecemos pelo reconhecimento da Paternidade de Deus. Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica: “Ao designar Deus com o nome de «Pai», a linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente, e, ao mesmo tempo, que é bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos. Esta ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade” (n. 239). No Antigo Testamento podemos ver, embora com bastante cuidado em respeito à transcendência divina, alusões a Deus como pai. Há um texto muito significativo do profeta Isaías, onde Deus assume um amor visceral pelo seu povo, manifestando que o Ele é “um pai com entranhas de mãe: “Sião vinha dizendo: ‘O Senhor me abandonou, o Senhor esqueceu-se de mim!’. Pode uma mulher esquecer-se de seu filhinho, a ponto de não compadecer-se do filho de suas entranhas? Mesmo que ela se esquecesse, eu, contudo, não me esquecerei de ti!”. Que Deus seja “Pai” é uma revelação primordial de Jesus Cristo: Ele é o Pai de Jesus Cristo. Mas, a revelação de que Deus é o Pai de Jesus Cristo tem como destinação, também, a revelação de que Deus é o nosso Pai: PAI NOSSO, assim proclamamos na oração por excelência do cristão. Alegra-nos reconhecer essa verdade de nossa fé: ao chamar Deus de Pai nós estamos já dentro da relação de amor que existe entre Deus e Jesus, entre o Pai e o Filho. Como é necessário para a nossa vida de fé ter isso bem presente. Nessa relação em que estamos, intimidade divina, Deus em nós, precisamos deixar que a ternura divina nos encha, nos cumule e nos faça propagadores dessa mesma graça.

Em segundo lugar, como consequência natural da ação paterna de Deus em nossa vida por causa do amor que Ele tem para com o Filho Jesus Cristo, está o exercício da paternidade humana. São Paulo diz, na carta aos Efésios: “por isso dobro os joelhos diante do Pai, de quem recebe o nome toda a paternidade no céu e na terra” (Ef 3,15). Outra versão diz: “a quem a família no céu e na terra deve a existência”. Deus é Pai não como os homens são pais, mas os homens devem ser pais como Deus é Pai. Grande, portanto, é a vocação paterna. O Papa Francisco, numa catequese dedicada às famílias, assim resume o significado de ser pai: “… se alguém pode explicar até ao fundo a oração do «Pai-Nosso» ensinada por Jesus, é precisamente quem vive pessoalmente a paternidade. Sem a graça do Pai que está nos céus, os pais perdem a coragem e abandonam o campo. Mas os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele; quando não o encontram, são-lhes abertas feridas difíceis de cicatrizar” (FRANCISCO. Audiência geral, 4 de fevereiro de 2015).

Desejo a todos os pais um dia feliz e abençoado. E que vivam esse dia no abraço cheio de ternura nos filhos, fruto do amor.

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