A Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL) anunciou a realização de um congresso internacional com o tema “Comunhão e participação”, por ocasião dos 40 anos da III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano de Puebla.
A Conferência de Puebla (México) ocorreu em 1979 e seguiu as do Rio (Brasil), em 1955, e Medellín (Colômbia), em 1968. O Papa João Paulo II participou deste evento em sua primeira viagem ao México, que teve como fruto o documento de Puebla.
O evento da CAL acontecerá de 2 a 4 de outubro de 2019, na Cúria Geral dos Jesuítas, em Roma.
A conferência tem quatro partes. A primeira é intitulada “América Latina e a ‘década de sangue’”, a segunda trata “A preparação da Conferência”, a terceira é a “A Agenda de Puebla”, enquanto a quarta será sobre “A herança de Puebla”.
O peruano Gustavo Gutiérrez estará encarregado da conferência sobre “A opção preferencial pelos pobres”. A presença do sacerdote dominicano, de 91 anos, é a mais surpreendente e controversa na lista de convidados.
O autor de “Teologia da Libertação – Perspectivas” (1971) e “Força histórica dos pobres” (1978) foi investigado pela Congregação para a Doutrina da Fé pela promoção do marxismo na sua teologia.
Em março de 1983, o dicastério elaborou o documento “Dez Observações à Teologia de Gustavo Gutiérrez”, apresentado aos bispos peruanos de então, durante a visita ad limina, no qual assinalava que o marxismo “é o princípio determinante a partir do qual Gutiérrez procede para reinterpretar a mensagem cristã”.
Gutiérrez, ao final dos anos 1970, se opôs ferrenhamente à convocação da Conferência de Puebla, porque considerava que a realizada em Medellín, da qual havia participado ativamente como conselheiro, poderia sofrer um “retrocesso” no campo sociológico e político.
Gutiérrez não só não foi convidado para a reunião em Puebla, inaugurada pelo Papa João Paulo II, em 28 de janeiro de 1979, como também fez parte de um grupo paralelo de intelectuais partidários da teologia marxista da libertação, claramente opostos à linha de Puebla.
As teses que Gutiérrez promoveu durante a Assembleia de Puebla, foram depois censuradas explicitamente pelo documento da Congregação para a Doutrina da Fé, “Libertatis Nuntius” de 1984.
Outro palestrante no congresso será o leigo britânico Austen Ivereigh, autor do livro “O grande reformador: Francisco, retrato de um Papa radical”, que falará sobre “A originalidade histórica de um pontificado latino-americano”.
No entanto, uma opinião polêmica em sua conta no Twitter, em abril de 2018, em favor da justiça britânica e contra o direito à vida do pequeno Alfie Evans, rendeu-lhe as críticas da ‘The Catholic Association’ (TCA), que qualificou como “confuso e decepcionante ver líderes católicos como Austen Ivereigh, de Vozes Católicas U.K., abandonando a doutrina social da Igreja e se afastando do Papa ao defenderem o governo em vez de Alfie e sua família”.
Outro participante do congresso de outubro é o sacerdote brasileiro José Marins, considerado um especialista em Comunidades Eclesiais de Base (CEB) surgidas no Brasil.
Embora tenham sido positivas em seu início, com o tempo as CEB assimilaram “algumas ideias do marxismo, um ideal socialista”, como explicou um bispo brasileiro durante a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina em Aparecida, em 2007.
Também participarão do Congresso pelos 40 anos de Puebla: Rodrigo Guerra López, membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz; o uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour, doutor em Direito e Ciências Sociais, que serve há mais de 40 anos no Vaticano, tendo colaborado com Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI; o brasileiro Pe. Alexandre Awi Mello, membro da Fraternidade de Padres de Schoenstatt e serve desde 2017 como secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; entre outros.