Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
Prezados leitores/as!
Na próxima quinta-feira, Quinta-feira santa, a Igreja se reúne para celebrar a memória da última ceia do Senhor Jesus com seus discípulos. Às vésperas de sua morte na cruz, Jesus deixa o seu testamento: a Eucaristia e o Sacerdócio. Dois dons intimamente ligados ao seu coração, repleto de amor. O mandamento novo, “amai-vos, uns aos outros, como eu vos amei”, se manifesta e se concretiza no Sacramento da Caridade e na nossa participação no seu Sacerdócio, isto é, na sua vida toda entregue aos homens e às mulheres. A Eucaristia e o Sacerdócio são entregues a nós. Que consoladora é essa doação que Ele faz para nós. Já não podemos ficar tristes ou angustiados, desesperados ou deprimidos, pois, o Filho de Deus, Aquele que se fez um de nós, para que pudéssemos ser como Ele, neste dia, dá para todos nós a condição para isso acontecer. Ó caridade incomensurável! Não só nos dá a missão, mas a condição para cumpri-la.
Conforme uma antiquíssima tradição, antes de celebrar a Missa da Ceia do Senhor, o Bispo celebra com seus presbíteros, a Missa do Crisma. Nesta Solene Concelebração, dois momentos são significativos: a renovação das promessas sacerdotais e a bênção dos óleos que serão usados nos Sacramentos: bênção e consagração do Crisma, benção do óleo dos enfermos e do óleo dos catecúmenos.
Por isso, numa celebração que reforça a nossa condição sinodal, estaremos reunidos, ministros ordenados e leigos. Sim, a benção dos santos óleos significa que o que celebramos no Batismo, na Confirmação, na Unção dos enfermos e na Ordenação, vem da virtude do Espírito Santo, pois todos somos ungidos, leigos e ministros ordenados, feitos participantes do Sacerdócio de Cristo, isto é, de sua vida, chamados a viver na comunhão com o Pai, semelhantes a Cristo, feitos filhos no Filho, habitados pelo Espírito, vivendo no vínculo de amor que une a Santíssima Trindade e nos une como irmãos e irmãs.. Ah! Como desejo que a nossa Igreja viva intensamente a comunhão. Somos um povo que caminha nas estradas da vida, rumo ao Reino definitivo. Pela vida sacramental, Jesus nos envolve com o seu Espírito para vivermos em comunhão. Essa comunhão é o grande testemunho para um mundo marcado pelo individualismo, pelo subjetivismo, inflamação do egoísmo, da indiferença, entre nós, não deve ser assim. Pelo contrário, a Igreja é a reunião dos que foram tratados com misericórdia, e por isso, tratam-se com misericórdia.
Sempre temos necessidade de renovar essa comunhão. É o que faremos na Celebração do Crisma. Como afirmei, os presbíteros, reunidos com o seu Bispo, na Catedral, fazem a renovação das promessas sacerdotais. Um momento especial, propício para continuarmos seguindo o Mestre de Nazaré. Na verdade, não é por Ele que somos ministros ordenados? Não é Ele o nosso modelo? A quem imitamos, senão ao Filho, servo obediente e cheio de caridade, que veio para servir e não ser servido? Assim, queridos padres, ao renovarem suas promessas sacerdotais, tenham a firme convicção de que somente imitando Jesus, é que podemos ser fiéis. A fidelidade se constrói na caridade. Sem caridade, não há fidelidade. Mas, também sem caridade não há cristianismo. Nós somos responsáveis pela continuação, perpetuação do querigma, anúncio da salvação de Cristo. Isso se faz com a Tradição. Mas, o que é a Tradição? Não é voltar ao passado de elementos que não dizem mais nada. A Tradição significa transmissão do anúncio salvador: Deus ama o homem e a mulher. Deus é ternura sem medida. Deus é alegria infinita. Deus nunca rejeita o ser humano. Todo o sofrimento de Cristo é manifestação dessa verdade sobre Deus.
Que a Virgem da Apresentação, Mãe do Sacerdote, cubra cada padre e todos os fiéis leigos e leigas com seu manto materno, e seja ela, também, imitada na escuta da Palavra e na caridade ao próximo. Deus vos abençoe! E bom Tríduo Pascal para todos.