Nesta quarta-feira, 22 de março, Dia Mundial da Água, a Cáritas Brasileira, por meio do projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras, estreia websérie que traz histórias de pessoas migrantes e refugiadas da Venezuela e de pessoas brasileiras em situação de rua atendidas pela iniciativa no Acre, Pará, Piauí, Rondônia e Roraima.
Serão lançados cinco episódios que retratam as ações nos estados e, no mês de abril, será disponibilizado o episódio especial, mostrando a articulação da Rede Cáritas por meio das instâncias institucionais e parcerias. O material ficará disponível no canal da entidade no YouTube – CaritasBrasileiraCB.
O Orinoco é um projeto da Cáritas Brasileira que, desde 2019, desenvolve ações de WASH – acesso à água, saneamento e higiene – ligadas na prevenção contra a Covid-19. A partir de 2021, as ações de Proteção integram o escopo da iniciativa, fortalecendo o apoio com regularização migratória, enfrentamento à violência baseada em gênero e outras associadas à temática, além de promover garantia de direitos, como saúde e educação, proporcionando aos mais vulneráveis acesso justo e igualitário a recursos, serviços e oportunidades. O projeto está em sua terceira fase de realização e recebe apoio do Escritório de População, Refugiados e Migração do Governo dos Estados Unidos (PRM).
“No cenário de intensificação dos fluxos migratórios para o Brasil, a Igreja Católica tem atuado como uma das grandes protagonistas no trabalho junto aos irmãos e irmãs que chegam da Venezuela em busca de uma vida digna aqui em nosso país”, declara Dom Mário Antônio, arcebispo metropolitano de Cuiabá e presidente da entidade. “Nesse sentido, a Cáritas Brasileira, como braço missionário da Igreja, segue as lições do Papa Francisco de acolher, proteger, promover e integrar migrantes, refugiados e refugiadas, sempre com respeito às suas culturas”.
Assim, o projeto Orinoco nasce nesse contexto, como uma resposta da Igreja à crise migratória e à pandemia da Covid-19. Durante as três fases de realização, a iniciativa conseguiu atingir mais de 26 mil famílias, totalizando cerca de 56 mil pessoas alcançadas por suas diversas ações. Em torno de 85% das famílias foram atendidas no estado de Roraima. Ao longo do Orinoco 3, com financiamento do PRM, o projeto conseguiu atingir 11.359 famílias e 25.013 indivíduos.
Acesso à água, saneamento e higiene
Nas Instalações WASH construídas e adaptadas à iniciativa, as pessoas que chegam de longas caminhadas e aquelas que não têm um lar podem matar a sede, tomar um banho, atender às necessidades básicas, amamentar e trocar seus bebês, lavar e secar roupas, além de participarem de formações em promoção de higiene, com o recebimento de kits contendo produtos de uso pessoal. Hoje, o público também encontra apoio para a garantia de seus direitos no Brasil, incluindo orientação quanto à regularização migratória.
“No momento em que eu cheguei, todos estavam atentos e me entregaram o kit [de higiene pessoal], me explicaram o uso do álcool-gel, como deveria lavar as mãos, em que momentos deveria lavá-las, orientaram sobre o uso de máscaras e distanciamento”, relata Emily Del Carmo, no Acre há quase um ano. “Então a Cáritas é um apoio que eu, como venezuelana, necessitei e aqui me orientaram. É como uma família!”.
Além do acolhimento do público nas Instalações WASH, que possuem cabines de banheiros e chuveiros, bem como trocadores, salas de amamentação e lavanderias, as equipes de agentes Cáritas também atuam em ocupações espontâneas e vilas onde alguns migrantes adquirem ou alugam imóveis, garantindo o acesso à água potável com a entrega e orientação de uso de filtros de barro, por exemplo, e por meio da construção de módulos de banheiros e duchas, bem como sistema de saneamento.
Acesso a direitos
Devido à conjuntura dos últimos anos, a população de rua cresceu imensamente nas cidades, o que levou a Cáritas a incluir o atendimento a esse público por meio do projeto Orinoco nos estados de atuação. Além de se beneficiarem das ações em WASH, indivíduos e famílias brasileiras em situação de rua também contam com atendimentos em Proteção, que incluem a regularização documental e garantia de acesso a direitos por meio de incidência política junto a instâncias do poder público, como secretarias de saúde e de justiça, defensorias públicas, entre outras.
Foi por meio da incidência da Cáritas junto ao poder público que o pedreiro Sérgio Augusto conseguiu regularizar sua documentação e retomar o processo de aposentadoria, que estava parado há anos no INSS e que, com o apoio da entidade, foi concluído com sucesso. “A Cáritas eu conheci quando veio a Reforma da Previdência, principalmente, que nos deixou vulneráveis. Aí eles foram mostrando o projeto pra nós e foi bonito ver o andamento. Aí eu comecei a procurar o rumo certo, da onde eu ia arrumar apoio moral e psicológico que eles deram muito pra nós”, conta Sérgio, que viveu por um tempo em situação de rua em Porto Velho, Rondônia.
Dentre a população migrante e refugiada venezuelana, há um importante contingente de indígenas das etnias Taurepang e Warao. Em virtude disso, tem-se a preocupação de adaptar os materiais de Comunicação aos idiomas desses povos, promovendo assim o acesso à informação. Além disso, em alguns estados de atuação, o projeto solicitou aos governos locais que incluíssem as etnias indígenas venezuelanas como grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19 e outras doenças.
Fonte: CNBB