A Igreja do Brasil, no ensejo de reforçar a cultura do encontro, tão fundamentada pelo Papa Francisco, propõe uma caminhada de reflexão social com a Campanha da Fraternidade, que tem como tema neste ano: “Fraternidade e Superação da Violência”. Tal reflexão deve ser acompanhada do contexto espiritual e litúrgico da Quaresma. Não existe separação entre esses âmbitos de transformação da vida do fiel católico. A transformação do coração leva, inquestionavelmente, ao processo de mudança social.
O grande objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano é promover o empenho da paz, da reconciliação e da justiça, a partir do alegre convívio com a Palavra de Deus. Quer-se superar a violência a partir da paz reconciliadora com Deus e com os irmãos. “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23, 8). As sociedades contemporâneas estão visivelmente tomadas pelo montante de pequenas e grandes violências. Em quase todos os momentos escuta-se seus registros alarmantes. O Brasil responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Esses dados são desesperadores e presentes proximamente em nossas convivências.
E como seguidores de Jesus o que estamos fazendo para emplacar definitivamente a cultura da paz? O testemunho cristão jamais poderá ausentar-se do compromisso social da paz. Esta que é sempre fruto de uma experiência pessoal com o amor de Deus, fruto da convicção de que o Senhor da vida mora em nosso meio, no meio de nossas comunidades de fé. Não podemos separar a norma da oração da norma do convício social – elas devem caminhar sempre juntas. Talvez um gesto bastante concreto que poderíamos empenhar-nos em promover seja: ser arauto da paz no mundo virtual, nas chamadas redes sociais. O mundo virtual é um maravilhoso dom que propicia a evangelização da Igreja, mas frequentemente percebemos que este espaço também se torna um palco de guerras e de violências através da cultura do insulto e da falta de respeito com o próximo. Falta-nos concretamente o espírito de misericórdia e o olhar contemplativo, que vê o outro como um irmão, e não como um inimigo a ser combatido e destruído.
Que o dom do Espírito Santo, tão invocado pela Igreja e pela súplica permanente da Virgem Maria, obtenha-nos espaços sociais que geram a paz e a reconciliação entre irmãos. Que a penitência quaresmal favoreça-nos o bom e o necessário fruto da cultura da Paz. A Paz é um dom de Deus, mas um dom a ser acolhido no esforço humano!
Dom Manoel Delson
Arcebispo Metropolitano da Paraíba