Páscoa: renovação da vida | Dom Jaime Vieira Rocha

Queridos irmãos e irmãs!

“Cristo ressuscitou, aleluia, venceu a morte com amor, aleluia!”

Essas palavras de um canto da Liturgia pascal nos introduz no significado do Tempo que se introduz com a celebração da Vigília Pascal, celebrada no Sábado Santo da Ressurreição do Senhor. Eis que chegamos ao Tempo para o qual convergem todos os outros tempos litúrgicos da Igreja. O Tempo Pascal é o centro do Ano Litúrgico, e nele nós encontramos o cume da vida litúrgica, meta de todas as celebrações do Mistério santo que nos envolve e nos encaminha para aquela liturgia eterna, na adoração desse mesmo Mistério, eterno e bem supremo para o homem e a mulher.

Desde domingo passado, o Domingo de Ramos e da Paixão, a Igreja entrou na paixão do seu Senhor, reconhecendo nela a solidariedade do Filho de Deus, Verbo encarnado, com a humanidade, sofrida por causa do pecado, mas pertencente a Ele desde o início de sua existência. E é gratificante reconhecer essa verdade: Jesus Cristo se solidariza com o que lhe pertence desde sempre. Isso significa: o homem pecador é o homem criado por Deus segundo a sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26s). O homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. Essa verdade dogmática e antropológica, “o homem é imagem de Deus”, se explica a partir do entendimento dado pela exposição paulina de que “[Cristo] é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), onde vemos a diferença entre Cristo e o homem. O homem foi criado à imagem, isto é, segundo a imagem de Deus, que é Cristo, o Filho eterno que se tornou Filho de Maria, a Virgem. O homem é criado para ser “filho no Filho” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo, Gaudium et spes, n. 22). E mais: seguindo São Paulo, afirmamos: “Adão, figura daquele que devia vir” (Rm 5,14). É interessante que, unida a esta mesma citação da Carta aos Romanos, o Concílio cite um texto de Tertuliano, escritor eclesiástico do século III, que afirma, na obra “De carnis ressurrectionis, n. 6: “Quodcumque limus exprimebatur, Christus cogitabatur homo futurus”, isto é: “de qualquer modo em que se exprimisse no barro, pensava-se em Cristo que seria o homem futuro”. Com a morte na cruz, Cristo redime o homem porque esse lhe pertencia desde sempre. Redime para que encontre aquela razão de ser para a qual foi criado: para o encontro permanente com Deus, sentido mais profundo da fé e da essência do Cristianismo (cf. BENTO XVI. Carta Encíclica Deus caritas est, n. 1).

E a prova de que esse encontro é a vontade de Deus, Deus mesmo ressuscita seu Filho, para que Ele seja o primogênito dos mortos e continue sendo o mediador, aquele que faz, no Espírito Santo, o elo permanente, a ponte por excelência entre Deus e o homem. Ressurreição-Páscoa quer dizer: Deus possibilita ao homem unir-se ao homem, para sempre. E essa união é a grande missão da Igreja: a Igreja existe para proclamar, para servir e para incutir nos corações, a união de Deus com os homens e as mulheres, e com isso, deixar-se envolver pela salvação prometida desde os primórdios da humanidade. Por isso, a alegria da Páscoa do Senhor é a nossa grande alegria, nossa esperança e nela se sustenta a missão da Igreja.

É dessa alegria renovadora que a Igreja se nutre e se fortalece para anunciar aos homens e às mulheres a mensagem de libertação trazida por Cristo. Mensagem que se concretiza no amor ao próximo, expressa por Cristo aos seus discípulos, durante a Ceia (cf. Jo 15,12.17).

Somos assim libertos para o amor, porque liberto pelo Amor. Com a Páscoa Deus nos revela que é da parte do homem e da mulher. E tudo o que diminui ou traz prejuízo à dignidade do ser humano é ofensa, desagrada a Deus. Da Ressurreição do Senhor, celebrada já na vigília no Sábado santo, a Igreja retira o seu “humanismo integral”, tão necessário e atual, a partir do qual proclama a urgência da justiça social, o respeito pelo bem comum, o respeito pela propriedade privada com sua hipoteca social, e o apelo justo pelo respeito à casa comum.

Boa Páscoa para todos. Que a alegria do Ressuscitado inunde a vida e a casa dos todos. Amém.

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