Papa Francisco: dez anos de um pontificado de impulso missionário, nos caminhos da misericórdia e da paz

Dez anos se passaram desde 13 de março de 2013, dia em que Jorge Mario Bergoglio foi eleito à Cátedra de Pedro. O seu pontificado é marcado pela paixão pela evangelização e pelo constante caminho de reforma da Igreja em sentido missionário. Uma década em que o tempo assumiu duas dimensões diferentes: a progressiva, para iniciar processos, e a circular, para ir ao encontro do outro e voltar enriquecidos no pensamento e no coração.

“O tempo é maior que o espaço”: esta afirmação do Papa Francisco, contida em sua primeira exortação apostólica, Evangelii gaudium, sintetiza de forma fecunda os dez anos que se passaram desde o início de seu pontificado. Para Jorge Mario Bergoglio, de fato – o primeiro Papa jesuíta, o primeiro nativo da América Latina, o primeiro a escolher o nome de Francisco e, nos tempos modernos, a ser eleito após a renúncia de seu antecessor – “o espaço cristaliza os processos, o tempo, pelo contrário, projeta-se para o futuro e impele a caminhar com esperança”. Eis, então, que esta acepção do tempo se torna uma chave para entender o Pontificado atual que se desenvolve em duas modalidades: uma progressiva e outra circular. A primeira é aquela que permite “iniciar processos”; a segunda, é a dimensão do encontro e da fraternidade.

Na dimensão progressiva há, em primeiro lugar, a Constituição Apostólica Praedicate evangelium. Promulgada em 2022, dá uma estrutura mais missionária à Cúria. Entre as inovações introduzidas, destacam-se a criação do Dicastério para o Serviço da Caridade e do novo Dicastério para a Evangelização, presidido diretamente pelo Pontífice. O documento também se concentra no envolvimento de leigos e leigas na Cúria Romana e finaliza as numerosas reformas implementadas, ao longo de uma década, pelo Papa Francisco na esfera econômica e financeira, incluindo a criação da Secretária para a Economia em 2015.

Os processos iniciados por Bergoglio também dizem respeito ao ecumenismo, ao diálogo inter-religioso e à sinodalidade. Em 2015, foi instituído o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado todos os anos no dia 1º de setembro junto com a Igreja Ortodoxa, para exortar os cristãos a uma “conversão ecológica”. Uma exortação reiterada também na segunda encíclica do Pontífice (a primeira, Lumen fidei, é compartilhada com seu predecessor, Bento XVI), Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, publicada também em 2015. A espinha dorsal do documento é a exortação a uma “mudança de rumo” para que o homem assuma a responsabilidade de “cuidar da casa comum”. Um compromisso que inclui também a erradicação da pobreza, a atenção aos pobres e o acesso justo de todos aos recursos do planeta.

Em 12 de fevereiro de 2016, porém, em Cuba, Francisco se encontrou com o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Kirill, e com ele assinou uma declaração conjunta para colocar em prática “o ecumenismo da caridade”, ou seja, o compromisso comum dos cristãos para construir uma humanidade fraterna. Um compromisso tragicamente atual quando, em 16 de março de 2022, em plena guerra na Ucrânia, Francisco e Kirill tiveram uma conversa on-line, na qual reafirmaram seu esforço comum de “deter o fogo”, focando no “processo de negociação”. Inesquecível, portanto, foi a peregrinação ecumênica de paz ao Sudão do Sul, realizada no mês passado pelo Pontífice junto com o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e o moderador da assembleia geral da Igreja da Escócia, Iain Greenshields.

Quanto ao diálogo inter-religioso, um marco é representado pelo documento sobre a Fraternidade humana para a paz mundial e a coexistência comum, assinado em 4 de fevereiro de 2019 pelo Papa e o Grão Imame de Al-Azhar Ahamad al-Tayyib, em Abu Dhabi. O texto é um passo fundamental nas relações entre cristianismo e Islã, pois incentiva o diálogo inter-religioso e condena inequivocamente o terrorismo e a violência. No âmbito da sinodalidade, Francisco implementa uma importante mudança: a próxima assembleia geral ordinária, a 16ª, marcada, no Vaticano, em dois momentos, em 2023 e em 2024, sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, será a etapa final de um caminho de três anos feito de escuta, discernimento, consulta e dividido em três fases: diocesana, continental, universal.

Na progressiva escansão temporal de Francisco há também a luta contra os abusos, culminando na cúpula sobre a proteção de menores, realizada no Vaticano em fevereiro de 2019. Expressão clara da vontade da Igreja de agir com verdade e transparência, o encontro tem que como resultado, o Motu proprio Vos estis lux mundi, que estabelece novos procedimentos para denunciar assédio e violência e garantir que bispos e superiores religiosos prestem contas ​​de suas ações.

A segunda dimensão, a “circular” do tempo do Papa Bergoglio, gira em torno da atenção às periferias, tanto geográficas quanto existenciais: daqui, diz Francisco, vê-se melhor a realidade do que do centro, e é daqui que se volta enriquecidos em pensamento e no coração. São emblemáticas as 40 viagens apostólicas internacionais, quase todas com metas periféricas, bem como as 36 visitas a Itália, divididas entre momentos privados e viagens públicas: a primeira, realizada em 8 de julho de 2013, teve como destino a ilha de Lampedusa, o centro dramático do fenômeno migratório no Mediterrâneo. De grande importância também a visita, em abril de 2016, ao campo de refugiados de Lesbos, na Grécia, ao final da qual Francisco acolhe 12 refugiados sírios no voo papal, para que sejam ajudados em Roma. O tema das migrações, (a desenvolver segundo quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar) é outra declinação do “tempo circular” do atual Pontificado, pois engloba a luta constante contra a “cultura do descarte” e a “globalização da indiferença”.

Do “tempo circular” de Bergoglio faz parte também o compromisso incessante pela paz. Uma expressão admirável disso é a Encíclica Fratelli tutti. Divulgada em 4 de outubro de 2020, ela convoca à fraternidade e à amizade social e diz firmemente não à guerra. Dois anos depois, quando se deflagra o conflito na Ucrânia, parecerá profética a exortação contida neste documento para uma “paz real e duradoura” que parta de uma “ética global da solidariedade”, num mundo que vive cada vez mais “uma terceira guerra mundial em pedaços”.

Outros exemplos desta “diplomacia da paz” promovida pelo Papa são a “Invocação pela paz na Terra Santa”, realizada em 8 de junho de 2014 nos Jardins Vaticanos junto com os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Palestina, Mahmoud Abbas; e o estabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, em 17 de dezembro do mesmo ano. Um acontecimento histórico pelo qual o próprio Francisco passou meses, enviando cartas aos chefes de Estado dos dois países, Barack Obama e Raúl Castro, para exortá-los a “iniciar uma nova fase”. Na mesma linha também segue o acordo provisório entre a Santa Sé e a República Popular da China sobre a nomeação dos bispos, estipulado em 2018, renovado em 2020 e prorrogado por mais dois anos em 2022. Neste último ano, aliás, marcado polo conflito na Ucrânia, o Papa está pessoalmente comprometido com a paz: em 25 de fevereiro de 2022, visitou o embaixador da Federação Russa junto à Santa Sé, Alexander Avdeev, e em várias ocasiões falou ao telefone com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Além disso, seus apelos para calar as armas foram numerosos e repetidos.

Também a evangelização – aliás, a paixão pela evangelização, como afirma o tema do ciclo de catequese da audiência geral em andamento – faz parte da dimensão temporal “circular” de Francisco: explicitada em 2013 desde a Evangelii gaudium, deve ser caracterizada pela alegria, pela “beleza do amor salvífico de Deus”, por uma Igreja “em saída”, próxima aos fiéis, pronta para a “revolução da ternura”.

Além disso, o vínculo entre Francisco e seus predecessores é forte, marcado em 27 de abril de 2014, pela canonização de João XXIII e João Paulo II. A eles se unem Paulo VI, canonizado em 14 de outubro de 2018, e João Paulo I, beatificado em 4 de setembro de 2022, cujo o Papa atual recorda o sorriso, símbolo de “uma Igreja com rosto feliz”. No entanto, um lugar especial cabe ao Papa Emérito Bento XVI, falecido em 31 de dezembro de 2022. Em dez anos, o Papa não esconde o imenso respeito que sente por Joseph Ratzinger: em diversas ocasiões elogia sua sutileza teológica, gentileza e dedicação. Em 5 de janeiro deste ano, presidiu seu funeral na Praça São Pedro, o primeiro Pontífice da era contemporânea a celebrar o funeral de um seu predecessor.

Agora, portanto, Francisco inicia o décimo primeiro ano de pontificado e o faz acompanhado de esperança: quem espera nunca será desiludido, diz o Papa, porque a esperança tem o rosto do Senhor Ressuscitado.

Fonte: CNBB com informações Isabella Piro – Vatican News

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