O Papa Francisco, entre a série de audiências da manhã desta sexta-feira (24), recebeu na Sala do Consistório, no Vaticano, um grupo de 200 pessoas, participantes de uma conferência da Pastoral Universitária nas Universidades Católicas. O encontro encerrou as atividades de dois dias dos capelães e líderes da pastoral, iniciativa promovida pelo Dicastério para a Cultura e a Educação.
A presença da delegação no Palácio Apostólico, disse o Pontífice, “transmite o eco das vozes” dos estudantes, dos professores e de toda a comunidade universitária, que também tem abraçado “os muitos jovens para os quais o direito de estudar ainda representa um privilégio inacessível, como os mais pobres e os refugiados”.
Ao aprofundar o tema da conferência e do próprio discurso do Pontífice, “Rumo a uma visão poliédrica”, Francisco comentou aprecia essa imagem multifacetada, usada inclusive desde o inízio do seu pontificado, quando disse que o ministério pastoral deveria seguir o modelo de um poliedro, “permitindo que sua coralidade ressoe de diferentes maneiras na vida das pessoas, como uma única melodia capaz de se expressar com diferentes timbres”. A partir dessa visão, Francisco recomendou três atitudes a serem desenvolvidas no serviço às instituições: apreciar as diferenças, acompanhar com o cuidado e agir com coragem.
Apreciar as diferenças
“O poliedro não é uma figura geométrica fácil”, explicou o Papa, “tem uma qualidade irregular, como a própia realidade às vezes”: mas é essa complexidade “a base de sua beleza”. Ter uma visão poliédrica, disse Francisco, “implica treinar os olhos para captar e apreciar” as diferenças, como se faz com os cristais de quatzo, minerais resultantes de um longo processo geológico:
“A partir dessa metáfora, a serviço da formação, acolher as pessoas com espírito paterno e materno, as luzes e as sombras presentes nelas e nas situações, já é uma missão: facilita o crescimento daquilo que Deus semeou dentro de cada um de maneira única e irrepetível. Cada pessoa deve ser aceita como é e, a partir daí, o diálogo começa; a partir daí, o caminho; a partir daí, o progresso.”
Acompanhar com o cuidado
Esse estilo “paciente, acolhedor e creativo”, que recorda àquele de Deus, também inspira outra atitude recomendada pelo Papa, de acompanhar a comunidade universitária, sobretudo os jovens, com cuidado e valorizando cada história, sem medo de assumir essas realidades:
“O Senhor nos ensina exatamente essa arte do cuidado: Ele, que criou o mundo a partir da escuridão do caos e que ressuscitou da noite da morte para a vida, nos ensina a tirar o melhor proveito das criaturas, começando por cuidar do que há de mais frágil e imperfeito nelas. Portanto, diante dos desafios formativos que vocês encontram todos os dias, em contato com pessoas, culturas, situações, afetos e pensamentos tão diferentes e, às vezes, problemáticos, não desanimem; cuidem deles, sem buscar resultados imediatos, mas com a esperança certa de que, ao acompanhar os jovens com proximidade e ao rezar por eles, as maravilhas florescem. Mas não florescem da uniformidade: prosperam precisamente com as diferenças, que são a sua riqueza.”
Uma proximidade, também comenta o Pontífice, revelada através de um gesto feito por alguns participantes da conferência que “contribuíram financeiramente para que até mesmo aqueles que tinham menos possibilidades” pudessem participar do encontro e “com aquele pudor que a esmola cristã tem”. Ou seja, quando um cristão faz a sua doação, é delicadeza, sem ofender e sem anunciar a todos: “mantenham essa grandeza de espírito ao doar, mas também o pudor na maneira de fazê-lo. Isso é muito bonito”.
Agir com coragem
Dessa forma, o Papa motiva também a agir com coragem, alimentando “a alegria do Evangelho no ambiente universitário”, a dizer sim a essa “aventura emocionante, mas também exigente”: “o pior para um educador é não arriscar. Quando não se arrisca, não há produtividade: essa é uma regra”, alerta o Pontífice. É necessário uma coragem que não gosta de enfeites, mas vai direto ao ponto:
“É a coragem dos primeiros discípulos, é a virtude dos ‘pobres em espírito’ (Mt 5,3), daqueles que, sendo necessitados de misericórdia, imploram a graça sem medo e, em sua indigência, amam sonhar grande. Sonhar grande: os jovens devem sonhar e vocês devem fazer todo o possível para sonhar, aspirando às proporções de Cristo: à altura, à largura e à profundidade do seu amor (cf. Ef 3,17-19). Desejo que vocês sempre cultivem, na vida e no ministério, a confiança ousada daqueles que creem. E quem é Aquele que nos dá a coragem de ir em frente? O Espírito Santo, o ‘Grande Oculto’ na Igreja. Mas é Ele quem nos dá força, a coragem: devemos pedir ao Espírito que nos dê essa coragem.”
Fonte: Andressa Collet - Vatican News