Dom Genival Saraiva
Bispo emérito de Palmares (PE)
No processo de comunicação, destacam-se “a linguagem verbal e a linguagem não verbal” “A linguagem verbal é aquela expressa através de palavras escritas ou faladas, ou seja, a linguagem verbalizada. Já a linguagem não verbal utiliza dos signos visuais para ser efetivada, por exemplo, as imagens nas placas e as cores na sinalização de trânsito.” Na prática da comunicação, prevalece o uso da linguagem verbal, na forma falada ou escrita. O silêncio, por sua vez, também tem sua linguagem como forma de comunicação, em cada contexto.
Encontram-se referências à palavra e ao silêncio em vários âmbitos, como religião e ciência, com significado peculiar, convergente ou divergente, conforme a ordem de compreensão. Eis o que diz a Sagrada Escritura, entre muitas referências: “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de calar e tempo de falar”. (Ecle 3,1.7) “Sabeis, meus amados irmãos, que cada um deve ser pronto para ouvir e lento para falar e lento para se irar”. (Tg 1,19)
As diversas culturas fazem sua leitura a respeito dessas importantes formas da comunicação: “O silêncio é um traço característico que distingue as culturas. A interpretação dada ao silêncio – seus empregos, suas significações, seus valores – difere de uma cultura para outra. A maior parte das sociedades ocidentais teme o silêncio, enquanto que no Oriente, sobretudo na Ásia, ele é considerado como sinônimo de respeito e de sabedoria. Um discurso bem pontuado, com pausas bem calculadas, uma fala em tom moderado, tudo isso é considerado por muitos como virtuosidade e autodomínio.
Por outro lado, aquele que fala alto, rápido e muito pode ser interpretado como ignorante, medíocre e sem educação.” Uma expressão lapidar do senso comum diz tudo: “A palavra é prata, o silêncio é ouro”. O ensinamento pedagógico desse antigo “provérbio árabe” contém uma sabedoria inquestionável: “falar (isto é, tomar a palavra) no momento certo é importante, mas manter a reserva ou saber conter-se em determinadas ocasiões é-o ainda mais. O povo diz, sabiamente: “Quem muito fala muito erra.” “Em boca fechada não entra mosquito.” As consequências desse modo de agir são diferentes, obviamente.
Em seu magistério, antigo e atual, a Igreja reconhece a importância e o lugar dessas duas linguagens, na comunicação interpessoal e institucional. “É melhor calar e ser, do que falar e não ser. É bom ensinar, se aquele que fala, faz. De fato, há um único mestre, aquele que disse e era. E o que ele fez, calando, são coisas dignas do Pai. Aquele que possui verdadeiramente a palavra de Jesus pode escutar também seu silêncio, a fim de ser perfeito, para realizar o que diz ou para ser conhecido pelo seu silêncio.” (Santo Inácio de Antioquia (séc. I), na Carta aos Efésios).
O Papa Bento XVI, em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2012, escreveu sobre “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”: “Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos.” Uma recente palavra do Papa Emérito, Bento XVI, clara manifestação da lucidez de sua personalidade e de sua amadurecida experiência, revela a importância do silêncio, na sua vida, diante de um dos limites da sua condição atual – a paulatina perda da palavra: “O Senhor me tirou a palavra para me fazer apreciar o silêncio.”
A palavra é um atributo do ser humano. Apenas ele tem a capacidade de falar, exprimindo sua racionalidade. Daí, a expectativa de que saiba usar a palavra, de forma apropriada, quaisquer que sejam o seu perfil, mais ou menos sábio, e sua condição de vida. No entanto, no dia a dia, é muito comum encontrar-se palavra inapropriada em quem tem conhecimento, em níveis elevados, e em quem ocupa funções relevantes na sociedade, enquanto é sábia e prudente a atitude de quem pratica o silêncio, por entender que é a melhor forma de se comunicar, no contexto em que se encontra.
Falar ou silenciar, conforme o caso, é atitude de que tem bom senso, uma “capacidade intuitiva do ser humano de fazer a coisa certa.” Em qualquer situação, o uso da palavra ou a opção pelo silêncio fala do amadurecimento do ser humano ou da sua imaturidade. Assim, convém que, nessa matéria, cada pessoa conheça sua própria medida.