Dom Fernando Saburido
Arcebispo emérito de Olinda e Recife (PE)
e referencial para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso na CNBB NE 2
“Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27) é o tema escolhido para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano de 2024. Os subsídios para essa semana foram elaborados por uma equipe ecumênica de Burkina Faso, na África, equipe coordenada pela Comunidade Chemin Neuf (CCN) naquele país.
No Brasil, a cada ano, nos dias anteriores à festa de Pentecostes (nesse ano, de 12 a 24 de maio), a Igreja Católica e outras Igrejas cristãs, membros do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) se unem para pedir especialmente a Deus a graça da unidade visível das Igrejas.
De fato, ainda hoje, muitos cristãos e mesmo ministros de Deus não se deram ainda conta da importância do movimento pela unidade cristã (Ecumenismo). Já em 1964, há 60 anos, todos os bispos católicos do mundo, reunidos no Concílio Vaticano II afirmaram: “A divisão do Cristianismo em Igrejas é contrária à vontade de Cristo. Essa divisão é consequência do pecado e é um escândalo para o mundo. Por isso, o trabalho para recompor a unidade das Igrejas é essencial à fé e à missão da Igreja” (Decreto Unitatis Redintegratio, n. 1).
O caminho para reconstituir a unidade é trabalho de conversão interior e comunitário de todos os cristãos das diversas Igrejas. Trata-se de conversão a Jesus Cristo e ao seu projeto de amor e justiça. Essa unidade não se fará como uniformidade institucional e sim no respeito à diversidade e autonomia de cada Igreja.
Em 1898, o papa Leão XIII propôs a todas as comunidades católicas prepararem a festa de Pentecostes através de uma Semana de Orações pedindo a manifestação da vinda do Espírito Santo. E o papa indicou que essa semana especial de orações deveria ter como tema central a oração pela unidade das Igrejas. A unidade é dom gratuito de Deus.
De fato, o melhor modo de nos prepararmos para celebrar um novo Pentecostes, ou seja, uma nova manifestação do Espírito Santo nas Igrejas e no mundo é nos dispormos a nos reconciliar e a testemunhar que, como discípulo e discípulas de Jesus precisamos nos unir. E a primeira coisa que podemos fazer pela Unidade é orarmos pela Unidade.
Nessa semana da Unidade, a oração proposta é vivida por cada pessoa individualmente. Também deve ser vivida por cada Igreja local que aceitar esse convite. Além disso, se possível e como for possível, é bom que cristãos/ãs de Igrejas diferentes se encontrem, nessa semana, para dar ao mundo esse sinal da busca da unidade pela oração e pelo diálogo.
Neste ano, a CNBB nos propôs a Campanha da Fraternidade com o tema: Fraternidade e Amizade Social e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8). Esse tema, desenvolvido a partir da encíclica Fratelli Tutti do papa Francisco, parece desembocar naturalmente no assunto desta Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos.
Em um Brasil, no qual há grupos que fomentam ódio e intolerância, se torna mais urgente do que nunca testemunharmos que Deus é amor e que como nos ensinou o Concílio Vaticano II: “a unidade é o desejo do Pai para toda a humanidade” (UR 1).
O Lecionário que seguimos na liturgia reserva para esses dias antes de Pentecostes a leitura da oração que Jesus fez ao Pai na noite da 5ª feira santa: “Pai, que todos aqueles que, um dia, hão de crer em mim, sejam Um, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17, 19- 20).
Entremos no mesmo modo de sentir de Jesus, fazendo nossa essa sua oração e procurando que nosso modo de viver a fé se coloque nessa mesma sintonia de unidade e amor.