A última reunião do ano do Grupo de Assessores das Comissões Episcopais Pastorais e Especiais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada nesta terça-feira, 22 de novembro, foi marcada por uma reflexão sobre os caminhos da Igreja no Brasil nestes tempos de polarização. Quem conduziu a reflexão, cujo objetivo foi levantar pistas para o trabalho pastoral, foi o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da entidade, dom Joel Portella Amado.
O secretário-geral aprofundou a realidade vivida a partir de uma perspectiva mais ampla de “mudança de época”, marcada pela crise da modernidade, fenômeno que está sendo vivenciado não apenas no Brasil, mas mundialmente. De acordo com dom Joel, vive-se um tempo em que predomina a “subjetividade autorreferencial”, o que gera seres humanos fechados em si e a negação da “alteridade’. “O outro não é diferente, o outro é oponente e inimigo e, portanto, precisa até mesmo ser eliminado”, disse.
Para o secretário-geral da CNBB, as consequências desta crise atuam sobre todas as dimensões da realidade (eclesial, social, ambiental e política) neste período caracterizado, pelo Papa Francisco, como uma “terceira guerra mundial aos pedaços”. Dom Joel falou também que a relação com a modernidade precisa ser mais bem aprofundada.
Outro fenômeno deste tempo, apontado pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro, é a individualização das causas. As principais causas atuais são a ambiental, proteção de menores, gênero e raça. São causas importantes, indispensáveis, afirmou, mas não podem ser exclusivas no sentido de serem vivenciadas em detrimento de uma perspectiva mais ampla de luta pela vida. Essas causas precisam de maior integração e articulação. Dom Joel fez referência à encíclica Laudato Si’, documento do Santo Padre que aponta que tudo está interligado e fala de um só clamor da vida diante de todas as ameaças.
Dom Joel apontou que o fenômeno da polarização, exacerbada no período eleitoral, atingiu também as igrejas, provocando descompassos em áreas como o discurso sobre a sinodalidade, de um lado, e prática do combate, de outro; o discurso, por um lado, da Igreja ser fermento e, por outro, as diferentes opções políticas se tornando critérios para a vivência do Evangelho. “Tem crescido uma sensação de que não é o Evangelho que tem incidido sobre a realidade, mas as opções políticas e ideológicas polarizadas que estão predominando sobre aquele”, disse.
Caminhos para a Igreja: sociabilidade e ministerialidade
De acordo com o secretário-geral da CNBB, as práticas capazes de abrir os olhos e os corações para a “alteridade” e para a valorização e respeito pelo outro, como o Papa Francisco tem insistido na Fratelli Tutti, são mais importantes que os discursos. Dom Joel defendeu também que duas palavras são fundamentais para a Igreja hoje: a sociabilidade e a ministerialidade. “Sem viver estas duas dimensões não vamos responder ao mundo que está aí”, disse.
O bispo defendeu que as comunidades eclesiais missionárias, assumidas pelo episcopado brasileiro, como espaços para cultivar a sociabilidade em pequenos grupos e a partir do sentido de pertença, permitem que o relacionamento humano seja mais forte, por exemplo, que as fake news. Por meio dessas pequenas comunidades, diversificadas, o princípio “pneumatológico” da diversidade e de uma Igreja ministerial, desejada pelo Papa Francisco, seja respeitado. “Num mundo super, hiper e multifechado, somos chamados a ser comunhão”, concluiu.
A reunião do GA seguiu com os informes sobre a construção do orçamento de cada comissão para 2023 a partir do sistema Servico da CNBB, sobre as ações e os assessores e com o levantamento da agenda da próxima reunião do GA marcada para o dia 14 de fevereiro do próximo ano.
Fonte: CNBB