Morre o Papa Francisco. O anúncio foi dado, com pesar, na manhã desta segunda-feira, diretamente da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, pelo camerlengo da Igreja, o cardeal Joseph Farrell, com as seguintes palavras:
“Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.
Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.
Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”
Última mensagem
Ontem, domingo, o Pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, deixando sua última mensagem para a Igreja e o mundo.
O texto, lido pelo Mons. Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, ressaltou a Páscoa como festa da vida:
“Cristo ressuscitou! Neste anúncio encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida. A Páscoa é a festa da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja! Aos seus olhos, todas as vidas são preciosas! Tanto a da criança no ventre da mãe, como a do idoso ou a do doente, considerados como pessoas a descartar num número cada vez maior de países.”
Este anúncio de esperança ressoa hoje ainda mais forte enquanto vemos todos os dias os inúmeros conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo. “Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes!”, escreve com pesar Francisco, que formula os seus votos:
“Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros” e “a ter esperança de que a paz é possível!” O Santo Padre então elenca os vários países e regiões em conflito, a partir da Terra Santa, onde este ano católicos e ortodoxos celebram a Páscoa juntos, manifestando preocupação com o crescente clima de antissemitismo e definindo como “dramática e ignóbil” a situação humanitária em Gaza.
Em sua última mensagem, o Papa também fez seus apelos pela paz, que “não é possível sem um verdadeiro desarmamento”. O pedido do Pontífice foi para que os recursos disponíveis sejam utilizados para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. “Estas são as ‘armas” da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!”, afirmou.
“Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade.” Por fim, os votos de que neste ano jubilar a Páscoa seja uma ocasião para libertar os prisioneiros de guerra e os presos políticos.
Biografia e trajetória eclesial
Nasceu na capital argentina no dia 17 de Dezembro de 1936, filho de emigrantes piemonteses: o seu pai Mário trabalhava como contabilista no caminho de ferro; e a sua mãe Regina Sivori ocupava-se da casa e da educação dos cinco filhos.
Diplomou-se como técnico químico, e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. A 11 de Março de 1958 entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanísticos no Chile e, tendo voltado para a Argentina, em 1963 obteve a licenciatura em filosofia no colégio de São José em San Miguel. De 1964 a 1965 foi professor de literatura e psicologia no colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966 ensinou estas mesmas matérias no colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970 estudou teologia, licenciando-se também no colégio de São José.
A 13 de dezembro de 1969 foi ordenado sacerdote pelo arcebispo dom Ramón José Castellano. De 1970 a 1971 deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, na Espanha, e a 22 de Abril de 1973 emitiu a profissão perpétua nos jesuítas. Regressou à Argentina, onde foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel, professor na faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do colégio.
No dia 31 de julho de 1973 foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do colégio de São José, e inclusive pároco em San Miguel. No mês de março de 1986 partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento; em seguida, os superiores enviaram-no para o colégio do Salvador em Buenos Aires e sucessivamente para a igreja da Companhia, na cidade de Córdova, onde foi director espiritual e confessor.
O cardeal Antonio Quarracino convidou-o a ser o seu estreito colaborador em Buenos Aires. Assim, a 20 de maio de 1992 João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. No dia 27 de Junho recebeu na catedral a ordenação episcopal precisamente do cardeal. Como lema, escolheu Miserando atque eligendo e no seu brasão inseriu o cristograma IHS, símbolo da Companhia de Jesus.
Concedeu a sua primeira entrevista como bispo a um pequeno jornal paroquial, “Estrellita de Belén”. Tendo sido imediatamente nomeado vigário episcopal da região Flores, a 21 de dezembro de 1993 foi-lhe confiada inclusive a tarefa de vigário-geral da arquidiocese. Portanto, não constituiu uma surpresa quando, a 3 de Junho de 1997, foi promovido arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Nem sequer nove meses depois, com o falecimento do cardeal Quarracino, sucedeu-lhe a 28 de Fevereiro de 1998 como arcebispo, primaz da Argentina e ordinário para os fiéis de rito oriental residentes no país e desprovidos de ordinário do próprio rito. Foi grão-chanceler da Universidade Católica argentina e autor dos livros Meditações para religiosos (1982), Reflexões sobre a vida apostólica (1986) e Reflexões de Esperança (1992).
“Não se esqueça dos pobres”
Três anos mais tarde, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001, João Paulo II criou-o cardeal, atribuindo-lhe o título de São Roberto Bellarmino. Convidou os fiéis a não virem a Roma para festejar a púrpura, mas a destinar aos pobres o dinheiro da viagem. Com Francisco, outros 41 cardeais, provenientes de 27 países, ingressaram no Colégio Cardinalício. Entre eles, dois brasileiros já falecidos, dom Geraldo Majella Agnelo e dom Cláudio Hummes. No dia da eleição do Papa Francisco, em 2013, o cardeal Cláudio Hummes, emérito da arquidiocese de São Paulo, disse ao então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio: “Não se esqueça dos pobres”. Essa frase inspirou, segundo o próprio Papa Francisco, seu magistério.
Em Outubro de 2001 foi nomeado relator-geral adjunto da décima assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, dedicada ao ministério episcopal. Uma tarefa que lhe foi confiada no último momento, em substituição do cardeal Edward Michael Egan, arcebispo de Nova Iorque, obrigado a permanecer na pátria por causa dos ataques terroristas de 11 de Setembro. No Sínodo, sublinhou de modo particular a “missão profética do bispo”, o seu “ser profeta de justiça”, o seu dever de “pregar incessantemente” a doutrina social da Igreja, mas também de “expressar um juízo autêntico em matéria de fé e de moral”.
Entretanto, na América Latina a sua figura tornava-se cada vez mais popular. Não obstante isto, não perdeu a sobriedade da índole, nem o estilo de vida rigoroso, que chegou a ser definido quase “ascético”. Com este espírito, em 2002 recusou a nomeação a presidente da Conferência episcopal argentina, mas três anos mais tarde foi eleito para tal cargo e depois confirmado por mais um triênio em 2008. Entretanto, em abril de 2005, participou no Conclave durante o qual tinha sido eleito Bento XVI.
Como arcebispo de Buenos Aires — diocese com mais de três milhões de habitantes — pensou num projeto missionário centrado na comunhão e na evangelização, com quatro finalidades principais: comunidades abertas e fraternas; protagonismo de um laicato consciente; evangelização destinada a cada habitante da cidade; assistência aos pobres e aos enfermos. O seu objectivo era reevangelizar Buenos Aires, “tendo em consideração os seus habitantes, o modo como ela é e a sua história”. Convidou sacerdotes e leigos a trabalharem juntos. Em Setembro de 2009 lançou a campanha de solidariedade a nível nacional, em vista do bicentenário da independência do país: duzentas obras de caridade a realizar até 2016.
Conferência de Aparecida, em 2017
E, em chave continental, alimenta fortes esperanças, no sulco da mensagem da Conferência de Aparecida, de 2007, chegando a defini-la “a Evangelii nuntiandi” da América Latina”. Ainda como Mário Bergoglio, desempenhou um papel significativo na Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe em Aparecida, em 2007. Ele foi um dos principais responsáveis pela elaboração do documento final da conferência.
Texto que abordou questões importantes para a Igreja na América Latina, como a evangelização, a pobreza e a justiça social. Sua influência e liderança foram fundamentais para moldar as diretrizes que buscavam uma Igreja mais próxima das necessidades do povo e comprometida com a transformação social. Essa conferência também ajudou a consolidar sua visão pastoral, que mais tarde se refletiria em seu papado.
Até ao início da sede vacante, foi membro das Congregações para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para o Clero, para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família, e da Pontifícia Comissão para a América Latina.
Documentos importantes publicados pelo Papa
Os documentos de um papa que fazem parte do magistério da Igreja Católica incluem encíclicas, exortações apostólicas, cartas apostólicas, constituições apostólicas e discursos. Cada um desses tipos de documento tem um papel específico na transmissão do ensino e da doutrina da Igreja, contribuindo para a formação e orientação dos fiéis. Os principais documentos do magistério do Papa incorporados ao magistério da Igreja foram:
1. Evangelii Gaudium (2013) – Esta é a sua primeira exortação apostólica, que fala sobre a alegria do Evangelho e a necessidade de uma Igreja em saída.
2. Laudato Si’ (2015) – Esta encíclica aborda questões ambientais e a responsabilidade da humanidade em cuidar da criação.
3. Amoris Laetitia (2016) – Uma exortação apostólica que trata sobre o amor na família e a pastoral familiar.
4. Gaudete et Exsultate (2018) – Esta exortação fala sobre a chamada à santidade no mundo contemporâneo.
5. Fratelli Tutti (2020) – Uma encíclica que discute a fraternidade e a amizade social, especialmente em tempos de crise.
- Dilexit nos (24 de outubro de 2024)
- Fratelli tutti (3 de outubro de 2020)
- Laudato si’ (24 de maio de 2015)
- Carta Encíclica Lumen fidei (29 de junho de 2013)
Esses documentos são fundamentais para entender a mensagem e a missão do Papa Francisco durante seu pontificado.
Fonte: CNBB