Mês mariano, Ano josefino

Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito da Diocese de Palmares (PE)

Maria e José têm um lugar na história da salvação, por desígnio divino. Encontram-se referências históricas e proféticas, em relação à missão da Mãe do Salvador e do seu Pai adotivo, em poucas, sóbrias, ricas e profundas passagens do Novo Testamento. No início do Evangelho de São Lucas, encontram-se a revelação a Maria do mistério da Anunciação do Verbo, através da mensagem do Arcanjo Gabriel e o relato de sua visita a Isabel. (cf. Lc 1-2) A respeito de São José, o Evangelista São Mateus o identifica em sua árvore genealógica, no seu estado de dúvida, em face da constatação da gravidez de Maria, do conhecimento, “em sonho”, do mistério que nela acontecia e da coabitação, em Nazaré (cf. Mt 1).Vão a Belém, onde nasce Jesus. Em razão da perseguição de Herodes, fogem para o Egito; voltam para Nazaré, após a morte de Herodes; durante a vida oculta de Jesus na Galileia, fazem peregrinação anual ao Templo de Jerusalém, na Festa da Páscoa. Com o início da vida pública de Jesus, encontram-se referências nos Evangelhos à Virgem Maria: em Caná da Galileia, em encontros com Jesus, enquanto anunciava o Reino de Deus, como mãe e discípula; participa do mistério da Paixão, Morte e Ressureição, participação na vida do grupo apostólico, na vida da Igreja na era apostólica, conforme os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos. Considerando-se ambos, mãe e filho, pela palavra de Jesus, pregado na cruz, “o discípulo a acolheu em sua casa.” (Jo 19,27) Na linguagem, “não muito clara”, do “Gênero Literário” usado por São João, a mulher do Apocalipse tem um “sentido eclesiológico (figura da Igreja peregrina) e um sentido mariológico (“Maria, mãe da Igreja que caminha”). (cf. Ap 12)

No seu calendário litúrgico, a Igreja celebra a memória da Virgem Maria e de São José, de muitas maneiras, com ritos devocionais, orações, cantos, novenas. De conformidade com a sua condição e missão na “Economia da salvação”, venera Maria com o culto de hiperdulia e José, “o primeiro dos santos”, com o culto de protodulia. Por isso, desde a fase primitiva até o momento presente, a Igreja, pela voz de seu magistério e pelas vivas expressões da devoção popular, se sustenta, em sua caminhada, e alimenta a vida cristã com a ação protetora e a prece intercessora de Maria e José. Assim, ao fazer um olhar no tempo, uma das formas de alimentação da devoção à Virgem Maria é a dedicação de maio como Mês Mariano, tradição que remonta ao século XII. “Mês de maio: quem o iniciou no sentido que temos hoje, com práticas cotidianas a Nossa Senhora, foi o sacerdote jesuíta A. Dionisi, com o livro: Mês de Maria (1725). No Brasil, essa prática é uma “herança europeia” que continua revelando o amor dos católicos à Mãe do Salvador, à Mãe da Igreja. Em maio, celebram-se a Festa de Nossa Senhora de Fátima, no dia 13, e de Nossa Senhora Auxiliadora, no dia 24. De igual maneira, o culto a São José tem raízes profundas na espiritualidade, na devoção dos fiéis. Por iniciativa do Papa Francisco, através da Carta Apostólica Patris Corde (Com o coração de Pai), celebra-se o Ano de São José, de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021, na comemoração dos 150 anos da Declaração de São José como Padroeiro da Igreja Católica pelo Papa Pio IX. Nessa Carta Apostólica, o Papa reconhece: “Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo.” Em seu culto, a Igreja lhe dirige “invocações especiais todas as quartas-feiras e, de forma particular, durante o mês de março inteiro, tradicionalmente dedicado a ele.”

Na Carta Apostólica, escrita no período da pandemia, o Papa Francisco volta-se para Maria e para São José, “esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós.” Pede a Maria: “Permanecei junto daqueles que assistem noite e dia os doentes, e dos sacerdotes que procuram ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e dedicação evangélica. Virgem Santa, iluminai as mentes dos homens e mulheres de ciência, a fim de encontrarem as soluções justas para vencer este vírus.”  Lembra os “que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.” Fala a todos, “ao longo destes meses de pandemia em que pudemos experimentar, no meio da crise que nos afeta, que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas)”. No seu tempo, São José era uma pessoa comum.

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