Mensagem de Natal
“Manifestou-se a bondade de Deus e o seu amor pela humanidade” (Carta a Tito, 3, 4).
Queridos irmãos e irmãs,
Essa palavra que escutamos na Missa da Aurora da festa do Natal fala do amor humano de Deus por nós, revelado na pessoa de Jesus e que se renova em cada celebração desse mistério. A fé nos confirma: Nós somos pessoas feitas de amor. Nossa vocação é nos deixar transformar pelo amor divino até nos tornarmos humanos como Jesus. Nesse Natal, um voto que poderíamos repetir para as pessoas deveria ser: “Faça como Deus: se torne humano”.
No dia 07 de dezembro de 1965, ao pronunciar sua última alocução no Concílio Vaticano II, o papa Paulo VI retomou a palavra de Teodoro de Mopsuécia, um pai da Igreja Oriental no século IV. E essa palavra deve nos tocar até hoje, nesse Natal: “Para se encontrar com Deus, é necessário se encontrar com as pessoas humanas”.
A cada dia vivemos em uma sociedade que parece ter tomado como tarefa nos mostrar que o mundo é mau e as pessoas potencialmente perigosas. A sociedade se torna cada vez mais violenta e dominada por uma cultura de intolerância que se generaliza. Parece que o único jeito é sobreviver todos contra todos, na barbárie nossa de cada dia. Nesse contexto social e político que vivemos, é preciso que a nossa forma de celebrar o Natal seja uma profecia de humanização e uma proclamação de fé na vida e nas pessoas. Não adiantaria pregarmos que Jesus nasceu em Belém para nos salvar se não o testemunharmos hoje, através do Espírito Santo, presente e atuante nas pessoas e na sociedade. É preciso armar nas comunidades e nas casas paroquiais não apenas presépios artísticos de imagens clássicas, mas revelar os presépios vivos que são as pessoas que cotidianamente passam em nossas vidas.
Quem de nós não conviveu ou convive com pessoas, cujos olhos irradiam amor e cuja vida comunica bondade? E nós, bispos, padres e agentes de pastoral, será que estamos testemunhando essa encarnação viva e permanente de Jesus na realidade cotidiana de nossa cidade?
Como é importante que essa seja a marca que fundamente nossa pastoral de cada momento nas paróquias e em todas as ações. Independentemente das diferenças de pensamentos ou de orientações que é normal que existam entre nós, algo deve nos unir. É fundamental que as pessoas que nos procuram possam perceber que, como diziam os primeiros cristãos: “Nós somos aqueles que acreditamos no Amor”.
Atualmente, na nossa Igreja, temos a grande graça de termos o papa Francisco que nos interpela a viver isso: manifestar o rosto humano de Deus e testemunhar que esse é o caminho ao qual Jesus chama a sua Igreja e cada um dos seus discípulos e discípulas, assumir a humanidade e viver a fé como cuidado com os outros, principalmente em relação às pessoas mais empobrecidas e fragilizadas da sociedade. O papa tem feito isso de várias formas: tem denunciado a crueldade da sociedade cada vez mais excludente. Tem sempre ido ao encontro dos migrantes e refugiados, assumindo publicamente a defesa dos seus direitos. Tem se encontrado com representantes de movimentos sociais para escutá-los e para animá-los em seu caminho. E ele vive isso não como algo externo ao seu ministério, mas como o centro de sua preocupação de pastor. Essa é a sua forma de compreender a fé cristã. É a sua forma de assumir a encarnação do Verbo Divino: colocar a Igreja “em saída” e dar a toda a pastoral a marca da misericórdia e da solidariedade social e política a serviço dos mais pobres.
Nós já começamos as preparações para o 18º Congresso Eucarístico Nacional que será sediado pela nossa arquidiocese em novembro de 2020. É bom lembrarmos que até a reforma litúrgica do Concílio, na missa da festa do Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), o prefácio era sempre o mesmo prefácio do Natal. Isso nos faz ver que o mistério que celebramos em nossas missas cotidianas e dominicais é o mesmo do Natal: a presença amorosa de Jesus na nossa vida e no mundo. Que essa presença retome os sinais que foram os de Jesus: o cuidado solidário de curar as pessoas e assumir suas necessidades.
Que pela graça desse novo Natal, toda a nossa arquidiocese possa se colocar nesse mesmo caminho e acolher o que, através do papa Francisco, “o Espírito diz hoje às Igrejas”.
Desejo a todos uma santa e renovadora celebração do Natal de Jesus e um 2018 pleno de bênçãos.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife