Membros da Comissão Pastoral da Terra – Nordeste 2 (CPT NE2), organismo vinculado à CNBB NE2, visitaram na segunda-feira (14) as famílias que moram no Engenho Roncadorzinho, em Barreiros (PE). O local foi cenário do assassinato de Jhonatas Oliveira, de 9 anos de idade, por homens encapuzados que invadiram sua casa no último dia 10.
Durante a visita, os moradores da localidade relataram o medo após a morte da criança que era filho do líder comunitário local, Geovane da Silva Santos. O momento de escuta foi realizado pelos membros da CPT NE2 Plácido Júnior e Geovani Leão. Além deles, acompanharam a visita representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barreiros e do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec).
No mesmo dia, a Polícia Civil de Pernambuco começou a ouvir os depoimentos da família de Jhonatas Oliveira. A principal linha de investigação é a disputa por terras na região.
A CPT NE2, com apoio da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape) e das outras organizações sociais, tem garantido as articulações necessárias para o acesso da família à Justiça.
Além do suporte aos moradores do Engenho Roncadorzinho, as entidades também preparam um ofício que será encaminhado ao governador Paulo Câmara cobrando justiça para elucidação do assassinato e também medidas para sanar os conflitos agrários no Estado.
Entenda o caso
De acordo com informações da CPT NE2, por volta das 21h da quinta-feira (10) sete homens encapuzados e fortemente armados invadiram a casa do presidente da Associação dos/as agricultores/as familiares do Engenho Roncadorzinho, Geovane da Silva Santos. Os acusados acertaram de raspão o pai no ombro e depois dispararam contra o filho dele, que não resistiu e morreu.
Segundo informações de agricultores e agricultoras da localidade, a casa do presidente da associação já foi alvo de outros atendados. A família e a comunidade estão aterrorizadas e em estado de choque.
As organizações sociais cobram que investigações sejam imediatamente realizadas para apurar a sua eventual relação com o conflito agrário instaurado no local. Contudo, independente da motivação, as entidades reforçam que é inadmissível e repugnante a invasão da casa de uma família e o execução cruel de uma criança.
Histórico de conflitos e omissão do Estado
No Engenho Roncadorzinho, a ocupação de agricultoras familiares se deu após falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras, mas nunca receberam as devidas indenizações. O engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma massa falida sob administração do Poder Judiciário que o arrendou.
A comunidade existe há 40 anos e abriga cerca de 400 posseiros, sendo 150 crianças. Nos últimos anos, a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências promovidas por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água e cacimbas do imóvel por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxico de alta toxidade, segundo a Fetape.
Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados pela CPT NE2 e pela Fetape há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local.
Fotos: Fetape/Reprodução