Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
Prezados,
Todos estamos envolvidos nesse tempo de sofrimento, de preocupação com a nossa saúde e com a de nossos irmãos e irmãs, e como cristãos e cristãs, com a saúde de tantos homens e mulheres, particularmente os atingidos pelo coronavírus. Nossos idosos, médicos, enfermeiros, trabalhadores da saúde pública, e tantos outros. Nosso olhar de compaixão, nossa prece e súplica por todos, mas também nossa angústia, diante do que será o pós-pandemia. É bem verdade, somos otimistas, temos a esperança como virtude forte em nosso testemunho de seguidores de Jesus, como discípulos de Cristo. E é nessa esperança que fazemos homenagem às mães, por ocasião do seu dia.
Estamos no mês de maio, mês dedicado Àquela que é a Mãe de Deus, a Virgem Maria. Nossa homenagem está ligada aos seus louvores. Se vemos a alegria do chamado, da graça da missão de ser a Mãe do Redentor, também é verdade, que somos instigados a contemplá-la como a Mãe das Dores, pois a Virgem de Nazaré esteve associada a tudo que diz respeito à vida e à missão do seu Filho. Como não entendemos, na fé, uma relação de Deus com o ser humano que seja instrumentalizadora, isto é, Deus escolheria alguém para uma missão e depois que é cumprida, Ele “dispensaria” tal pessoa, a Mãe do Mestre de Nazaré esteve envolvida totalmente na missão do Redentor. Isso vale para nós também. De fato, quando falamos de “missão”, entendemos com tal palavra toda a realidade da vida. “Não é que a vida tenha missão, ela é missão” (XAVIER ZUBIRI. Natureza, história, Deus, É Realizações, São Paulo, p. 414; cf. citação de Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, n. 27). Todos nós estamos envolvidos na missão do Redentor. Não defendemos uma ideologia da morte, do pavor, da indiferença e do desprezo pelo outro. A nossa missão não é a expressão de uma decisão ética ou uma grande ideia, mas é a proclamação do encontro com um acontecimento que diz respeito a “uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (BENTO XVI. Carta Encíclica Deus caritas est, n. 1). A nossa missão é proclamar a ternura e a misericórdia de nosso Deus.
Por isso, homenagear as mães no seu dia, é um momento gracioso e, ao mesmo tempo, refresca a alma. A ternura salvará o mundo, parafraseando Dostoiévski, e a missão de mãe, lembra que sem ternura não se pode viver. É bem verdade, ser mãe está associada a ser mulher, e isto significa: a mulher, criada por Deus. à sua imagem e semelhança, ou seja, chamada a viver na comunhão com o Deus-Trindade, comunidade de amor, também tem a missão de manifestar através da gravidez a fecundidade da vida, que é participação na obra criadora divina. Não podemos esquecer, também, que a Palavra de Deus, e isso já no Antigo Testamento, faz questão de utilizar a figura materna para manifestar o agir de Deus em relação aos homens e às mulheres (cf. Is 49,15; 66,13; Nm 11,12-13; aproximação às figuras tanto do pai como da mãe, encontramos em Sl 27, 10; Jr 31,15-20; ainda com traços femininos cf. Dt 32,18; Jó 38,8). E a reflexão se estende ainda mais quando se fala da misericórdia de Deus, onde o Antigo Testamento usa a expressão “rachamim”, que provém de “rechem”, que designa o seio materno. Deus quis se apresentar com a ternura, sendo Ele mesmo a fonte da ternura que possuímos.
No dia das mães, mesmo que alguns não possam abraçá-las, seja porque algumas já estão no abraço eterno com Deus, seja por causa da pandemia com seu isolamento, hoje tão necessário para conter o avanço do contágio, que todos possam alegrar o coração e exultar de alegria e gratidão. Nesse dia que não haja espaço para tristeza. E mesmo que alguém tenha sido abandonado, reconheça a ternura vencedora e transformadora de Deus, Ele que prometeu: “Eu jamais me esquecerei de ti. Eu te gravei nas minhas mãos” (Is 49,15b-16a).