No Evangelho deste III Domingo da Páscoa, escutamos a terceira aparição do Cristo Ressuscitado aos Seus discípulos, à margem do mar de Tiberíades. O Senhor quer sempre estar próximo dos Seus. O contexto neste encontro pascal ocorre ao longo de uma pesca, os que seguiram Jesus antes do “escândalo” da cruz estavam de volta às suas atividades antigas de trabalhadores do mar, como pescadores: “Simão Pedro lhes disse: vou pescar” (Jo 21,3). O acontecimento da cruz e ressurreição de Jesus não foi um evento tão fácil de ser compreendido, solicitou uma experiência de fé bastante aprofundada. Contudo, o Senhor sempre nos É paciente, sempre vem ao nosso encontro, assim como fora ao encontro dos discípulos de Emaús e dos pescadores desanimados na pesca da noite. O encontro com o Ressuscitado que venceu a cruz é um lugar de amizade; na nossa falta de fé, Ele Se faz amigo e caminhante conosco.
Os discípulos do Senhor encontram-se à beira do mar do desânimo e das provas da vida, dificuldades tão próprias da vida humana. Passaram a noite toda lidando com a fadiga de uma pescaria frustrante: “Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite. Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Então Jesus disse: ‘Moços, tendes alguma coisa para comer?’ Responderam: ‘Não’”. (Jo 21,3-5). O que nos frustra na caminhada de fé? Nem sempre as nossas redes estão repletas de peixes, temos de aprender a conviver com as fadigas inúteis, às vezes vamos ter de pescar a noite toda e nada apanhar no mar da vida, mas o Senhor continuamente virá em nosso socorro. Eis aqui a dinâmica da fé: apresentamos ao Senhor nossa pobreza e Ele se dá a nós como reposta de amor. Enriquece-nos com Sua consoladora presença. E mais, o Cristo Vivo e Ressuscitado, que Se coloca de pé e pronto a nos erguer do desânimo, convida-nos à lançar as redes no mar. Esse convite se dá quando amanhece. Nas Sagradas Escrituras, a chegada da “aurora” significa sempre o grande momento das intervenções de Deus. O Senhor intervém quando estamos perdidos na falta de fé, e essa intervenção sempre nos pedirá o envio missionário: “lançai as redes”. Nossas dores podem tornar-se oportunidades fecundas para estar a serviço dos irmãos na missão, basta que confiemos no Senhor. Os peixes geralmente caem na rede quando ainda é noite, mas na pescaria da fé, a noite torna-se dia. A noite toma forma do Novo Dia da Ressurreição.
Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap
Arcebispo da Paraíba