Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito de Palmares (PE)
Ao se referir à atrocidade do atentado terrorista perpetrado pelo grupo terrorista Hamas contra civis no Estado de Israel, disse o Papa Francisco em sua palavra dominical aos fiéis que estavam na Praça de São Pedro, no dia oito de outubro: “Acompanho com apreensão e dor o que está a acontecer em Israel, onde a violência irrompeu ainda mais ferozmente, causando centenas de mortos e feridos. Expresso a minha proximidade às famílias das vítimas, rezo por elas e por todos aqueles que estão a viver horas de terror e de angústia. Por favor, parem com os ataques e com as armas, e compreendam que o terrorismo e a guerra não conduzem a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de tantos inocentes. A guerra é uma derrota: todas as guerras são uma derrota! Rezemos pela paz em Israel e na Palestina!”
Essa situação de conflito vem de longe e tem como cenário território a Palestina, a Canaã, “a terra prometida à Abrão, em seu tempo”. Na sua história, Canaã é a “terra prometida por javé e conquistada a expensas de guerras.” “No princípio do século I da Era Cristã, a Palestina era habitada pelos seguintes povos: a) os judeus, habitantes da Judéia e de pequenos núcleos em toda a área palestina, principalmente na Galileia; b) os samaritanos, uma nova etnia constituída de descendentes das Dez Tribos e dos invasores assírios; c) os galileus, também constituídos de elementos descendentes das Dez Tribos mais ao norte, e de povos fronteiriços: sírios, arameus, fenícios e outros grupos menores.” “O nome dessa terra, chamada Palestina, como a conhecemos hoje, não é mencionado no Novo Testamento. A palavra Palestina é uma nominação dos gregos para a região conhecida como Filistia, uma estreita faixa litorânea do Mar Mediterrâneo, próxima à Judeia. Ocorre que com o tempo este nome Philistia, tornou-se Palestina, e a região toda (Canaã) passou a ser chamada de Palestina.” No tempo de Jesus, a Palestina era uma província do Império Romano.
A situação de guerra que se desenvolve, atualmente, pode começar pela compreensão da história desses dois povos. Os interessados no aprofundamento do conhecimento desse problema podem identificar muitos fatos que revelam a relação conflituosa entre israelenses e palestinos. “Qual é a diferença entre israelenses e palestinos? Israelenses são cidadãos do Estado de Israel, criado em 1948. Palestinos são o povo etnicamente árabe, de maioria muçulmana, que habitava a região entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.” Portanto, “O conflito entre Israel e Palestina perdura há mais de 70 anos.” A rejeição dos palestinos à “fundação do Estado judeu” se evidenciou de várias formas, ao longo do tempo. Daí se explica a luta dos palestinos para adquirir um status político autônomo, mediante a criação do Estado Palestino, causa apoiada por muitos países que já o reconhecem como tal, mesmo que não exista “de iure”. Na história da Independência, da soberania de muitos países, foi escrito o capítulo de lutas e guerras. A guerra, em qualquer situação, em qualquer contexto, é sempre iníqua; mas sua iniquidade adquire um grau de total condenabilidade, quando protagonistas do conflito utilizam a via do terrorismo para a consecução de seus intentos, como fizeram os membros do Hamas, mais uma vez. Obviamente, a população é a grande vítima dessa prolongada experiência de instabilidade, de insegurança, de agressão, de intervenção, agravada por fatores muito sensíveis como território, local de moradia, de trabalho, de culto, de lazer, ao lado de aspectos muito inerentes à sobrevivência da população, como alimentação, água, energia, locomoção, educação, etc. O problema é complexo e extremamente grave, por essa razão: “Israel afirma que suas ações são em defesa de sua própria população, e os palestinos acusam Israel de sustentar um regime de perseguição.”
Infelizmente, no momento, algumas guerras são localizadas no Mapa Mundi: Ucrânia, Síria, Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar, Etiópia, Haiti. São promovidas por países, governos autoritários, movimentos revolucionários, grupos extremistas, tendo como pano de fundo rivalidades étnicas, crenças religiosas, disputas territoriais, interesses econômicos, motivos políticos.
A leitura habitual que se faz de casos de guerra compreende vitória e derrota, vencedores e vencidos. O Papa Francisco vê a guerra como derrota: “A guerra é uma derrota: todas as guerras são uma derrota!” Na verdade, o é. Derrota da vida, da convivência, da harmonia, da paz, da estabilidade política, do mundo do trabalho, da produção de alimentos, do fornecimento de água, da geração de energia, da oferta de serviços essenciais, como educação e saúde. Em face dessa realidade, salta aos olhos de todos o veemente apelo do Papa Francisco: “Por favor, parem com os ataques e com as armas, e compreendam que o terrorismo e a guerra não conduzem a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de tantos inocentes.”