Em audiência pública na Comissão de Legislação Participativa, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), bispos da Igreja Católica e lideranças religiosas se pronunciaram nesta quarta-feira, 24 de maio, sobre a urgência de construir alternativas para a proteção do meio ambiente, especialmente da Amazônia e dos povos e comunidades tradicionais.
Entre os participantes da iniciativa estiveram dom José Ionilton de Oliveira, bispo da prelazia de Itacotiara (AM) e secretário da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil); dom Vicente Ferreira, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e secretário da Comissão Especial sobre a Mineração e Ecologia Integral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); cacique Dadá Borari, do povo Indígena Maró, no Estado do Pará; Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e Andréa Gaivotas, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).
A audiência integra a programação das atividades promovidas durante a Semana Laudato Si, que acontece até o dia 28 de maio. Com o tema “Esperança para a Terra. Esperança para a humanidade”, o evento marca o oitavo aniversário da Encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da criação. A iniciativa faz parte da Campanha Laudato Si’, lançada em março, para difundir o documentário “A Carta” como uma estratégia para a sensibilização e a mobilização do universo religioso para as questões intrínsecas à Encíclica Laudato Si’, que chama atenção para o cuidado da Casa Comum. A campanha é uma realização da CNBB, do Movimento Laudato Si’ e da REPAM-Brasil, em parceria com diversas organizações.
Destaques da audiência
Na audiência, Sônia Gomes, presidentente do CNLB, falou sobre a atuação dos cristãos leigos e leigas na defesa da Casa Comum. Em seu discurso salientou a ação de mulheres e dos povos tradicionais no enfrentamento à crise socioambiental e climática. “Essas mulheres são verdadeiras protetoras; pobres; pretas e profetizas”, disse Sônia, após relatar algumas experiências.
Na ocasião, a presidente do CNLB também recordou uma frase presente na Encíclica do Papa Francisco, a Laudato Sí, na qual salienta que “explorar a criação é um pecado e acreditamos que estamos no centro fingindo ocupar o lugar de Deus e, assim, arruinamos a harmonia da criação; harmonia é desígnio de Deus; tornamo-nos predadores esquecendo a vocação de guardião da vida e são muitos os gritos de mulheres que saem de diversas realidades desse país”.
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da prelazia de Itacoatiara (AM), falou sobre os conflitos por terra no campo e na cidade e a ação da Rede Eclesial Pan-Amazônica na defesa dos povos e dos territórios.
Para ele, falar da realidade da Amazônia, especialmente dos camponeses, dos indígenas e dos ribeirinhos, é dizer que o processo de ocupação da Amazônia causou impactos negativos profundos no campo da sociodiversidade.
De acordo com dom Ionilton, os projetos voltados para a Amazônia que contam com o financiamento externos não consideram a diversidade étnica, sociocultural, econômica e ambiental, e nem os conhecimentos dos povos tradicionais.
“Há décadas a região amazônica é palco de conflitos socioambientais por conta de interesses capitalistas em se apropriar da Amazônia e torná-la uma região de integração a um desenvolvimento econômico nos moldes neocoloniais”, denuncia dom Ionilton.
Ele também destacou que os grandes empreendimentos de grandes corporações internacionais ligadas à mineração, principalmente à questão do ouro, do ferro, do calcário e a exploração dos recursos fósseis se apresentam na atualidade como um dos fatores que causam maior impacto socioambiental na Amazônia e em todo Brasil.
“O meio ambiente é um bem coletivo; é patrimônio de toda a humanidade e é uma responsabilidade de todos”, disse dom Ionilton, destacando um trecho da Laudato Si.
Por último, dom Vicente de Paula Ferreira, bispo de Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, e membro da Comissão Especial sobre a Mineração e Ecologia Integral da CNBB, falou sobre a temática da mineração no Brasil, bem como os impactos da exploração mineradora para os povos.
“O que está acontecendo é uma grave crise socioambiental e essa crise ela tem raízes humanas”, iniciou o bispo.
O bispo destacou em seu discurso que o capitalismo tem se manifestado cada vez mais voraz na sua modalidade neoliberal, neocolonial; e se impondo cada vez mais nos territórios. Dom Vicente deu um exemplo de empreendimento que representa a distorção atual da humidade: a mineração. “Nós temos os dois maiores crimes socioambientais do nosso país – o rompimento das barragens da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) e a de Fundão, em Mariana (MG).
“Não temos ninguém julgado, ninguém preso, ninguém pagando por nenhuma responsabilidade, isso é um absurdo”, criticou o bispo.
Dom Vicente finalizou sua fala reiterando que “não existe democracia sem biodiversidade e também não existe biodiversidade sem democracia, pois são dois sistemas que se complementam”, por isso para sair dessa grave crise socioambiental é preciso “reforçar os aparatos democráticos que protegem a biodiversidade.
Assista a audiência na íntegra:
Fonte: CNBB