Concluído o processo eleitoral 2018, o arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo chama a atenção, em artigo, para um aspecto: “As eleições marcam o início de um novo ciclo, resultado da vontade dos cidadãos”. Para ele, as eleições não têm força mágica, com o poder imediato de tudo mudar, mas constituem um importante passo, na tarefa de se percorrer um longo caminho.
“Não se pode acreditar na solução imediata dos problemas, simplesmente porque determinado candidato venceu o pleito. O dia seguinte às Eleições não é um ‘conto de fadas’. Para vencer seus muitos desafios, o povo brasileiro necessita buscar respostas alicerçadas em um profundo humanismo, em princípios e valores fundamentais conforme exige o sistema democrático”, disse.
O religioso defende que é ilusória a possibilidade de se conquistar o bem comum fora dos trilhos da democracia, por meio de escolhas unilaterais ou imposições. “A participação cidadã, além de possibilitar a escolha dos representantes do povo nas eleições, assegura aos governados a prerrogativa de acompanhar e direcionar a atuação dos próprios governantes”, disse.
O sistema democrático, recorda dom Walmor, oferece mecanismos para que o poder do Estado não seja apropriado por interesses particulares ou objetivos ideológicos. “A partir das eleições é necessário renovar a compreensão de que uma autêntica democracia requer um Estado regido pelo Direito, sobre a base de uma rica concepção do ser humano, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja Católica”, defende.
Compromisso com a democracia – Os eleitos, acima de tudo, têm o compromisso de defender a democracia, para além do mero respeito formal a determinadas regras. “É preciso aceitar, com convicção, os valores que inspiram os procedimentos democráticos: o zelo pelos direitos e pela dignidade humana, a busca do bem comum”, reforça. Sem o consenso sobre a importância desses valores, a democracia perde a sua estabilidade, defende dom Walmor.
Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) é perigoso quando os representantes do povo, nos três poderes, navegam no leito do relativismo ético que leva à manipulação de valores, que passam a ser negociados, em vez de serem compreendidos como critérios objetivos a serem respeitados. “Uma democracia sem princípios converte-se, facilmente, em totalitarismo, aberto ou dissimulado”, disse.
Dom Walmor defende que para se preservar o regime democrático é preciso agir em conformidade com a lei moral, que é soberana e sustenta o indispensável equilíbrio entre os poderes. Nesse horizonte, defende, espera-se competência humanística daqueles que exercem o poder. “Assim se legitima a autoridade perante o povo e se conquista credibilidade”, destaca.
Para corrigir as deformações do sistema democrático – a corrupção política, a traição de princípios morais e a inaceitável negociação da justiça social – dom Walmor aponta que os partidos políticos devem ser capazes de favorecer a participação cidadã, consolidando o entendimento da responsabilidade de todos pelos rumos da sociedade em um sistema democrático. “É exigido qualificado desempenho dos que ocupam cargos nos três poderes, mas também é indispensável a colaboração cidadã de cada pessoa na definição dos rumos do país”.