Dom Walmor abre o curso “Fake News, Religião e Política”: comunicadores cristãos precisam inspirar transformações

“Os comunicadores cristãos precisam inspirar transformações”. Assim motivou o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, na abertura do curso “Fake news, Religião e Política”. A formação gratuita será realizada até dia 12, de forma on-line, e reúne mais de 500 inscritos.

“Cada um de vocês assumiu o bonito compromisso de testemunhar o Evangelho por meio das muitas linguagens que configuram o campo da comunicação”, afirmou dom Walmor. Além de dominar técnicas, o comunicador cristão “exerce o seu discipulado buscando configurar-se a partir de Jesus, aquele que é o caminho, a verdade e a vida”.

No contexto das fake news, a inspiração de transformações deve ocorrer ante o “clima hostil que toma conta das redes sociais, em que muitos se acham no direito de dizer o que bem entendem sem a devida fidelidade à verdade e aos princípios éticos”.

Fake news contaminam os processos de decisão, induzindo muitos a escolhas equivocadas, com incidências graves na própria vida, no contexto social, na vivência da espiritualidade. São, pois, um perverso mecanismo de manipulação, enraizado em interesses nada nobres, antiéticos. Buscam destruir, inclusive, reputações para beneficiar seus disseminadores, que se acham no direito de alcançar vitórias a qualquer preço”, afirmou o presidente da CNBB.

A atuação dos comunicadores, nesse sentido, de ter como ponto de partida “não se deixar contaminar pelo ódio e pela animosidade que inviabiliza as relações. A nossa voz, as nossas muitas linguagens, sejam instrumentos para edificar a paz, construir pontes e inspirar conversão”.

Outro compromisso que se coloca aos comunicadores é ajudar as pessoas a não se deixar enganar pelas notícias falsas. Assim, segundo o presidente da CNBB, o curso “é oportunidade para se tecer laços de cooperação, uma rede de comunicadores discípulos e discípulas de Jesus, essencial para enfrentar as fake news que contaminam a vida social”.

Desinformação

No primeiro dia do curso, foram os expositores o professor emérito da Universidade de Brasília Venício de Lima e a professora da PUC Minas Fernanda Sanglard. Os dois abordaram, respectivamente, os temas “Democracia e desinformação” e “Fake news, pós-verdade e desinformação”.

Venício de Lima explicou que desinformação e fake news não constituem um fenômeno novo e que não são realidades que tiveram início com a revolução digital. A desinformação, segundo ele, “viola um pressuposto básico da democracia política, na medida em que corrompe a formação da opinião pública, manipula a consciência da cidadã ou do cidadão. Mais do que isso, ela cria um ambiente propício para o descrédito dos padrões de referência da verdade”.

O professor também chamou atenção para a utilização da religião como forma explícita de manipulação política. “Agora, sobretudo, eleitoral”.

Professor Venício de Lima

Em sua apresentação, a professora Fernanda Sanglard tratou de questões relativas à relação entre democracia e desinformação, partindo da noção que hoje vem sendo chamada de fake news pela sociedade, no sentido de “tentar sair do senso comum e partir para uma perspectiva acadêmica” que tem sido desenvolvida para municiar com embasamento teórico a discussão da temática.

“As notícias falsas podem ser consideradas enquanto fenômeno social, não somente do jornalismo, mas do campo da comunicação política. É um fenômeno da comunicação, da política e, especificamente, um fenômeno que a gente precisa considerar hoje em relação ao digital”, explicou.

Sanglard partilhou conceitos e gêneros relacionados à desinformação, além das motivações para a criação desse tipo de conteúdo. Também abordou a iniciativa do fact-checking (checagem dos fatos), que começa como prática de apuração e checagem nas redações, antes da publicação. E depois, num contexto mais atual, transforma-se em pratica específica e complementar após a publicação.

Professora Fernanda Sanglard

Segundo a professora, as experiências de fact-checking “são extremamente importantes, mas a gente não pode focar apenas nessa noção de combate”.

“É preciso criar espaços mais genuínos de participação política, que envolva construção de formas de educação midiática, espaços de contestação, de divergência, defesa de perspectivas mais plurais, mas que também a sociedade saiba e aprenda essa educação para a mídia, em uma convivência com a mídia, entendendo que esse é um fenômeno que traz prejuízos inúmeros e enormes para o nosso processo democrático, mas que a gente precisa pensar, e é isso que a gente tem feito na pesquisa: tentar compreender o que é o fenômeno, como são os nomes, quais são os responsáveis pelos conteúdos, que plataformas digitais contribuem para o compartilhamento desse conteúdo e de que forma a gente pode fazer o gerenciamento das políticas de uso e de outras formas para se tentar minimizar esse impacto e também mitigar os danos e quais as formas de agir diante dele”, enumerou.

O curso é oferecido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, a Assessoria de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Pastoral da Comunicação (Pascom-Brasil), em parceria com os Jovens Conectados, com a Bereia – Informação e Checagem de Notícias e com a PUC Minas, por meios de seus núcleos Anima, Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) e Núcleo de Estudos em Comunicação e Teologia (Nect). 

Fonte: CNBB

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