O bispo da Diocese de Nazaré (PE), dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, conduziu nesta quarta-feira (2) uma catequese para os peregrinos e as peregrinas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Portugal. A formação reuniu dezenas de jovens que lotaram a igreja matriz da Paróquia São Pedro de Alverca, nos arredores de Lisboa, iluminados pelo tema do encontro “Maria levantou-se e partiu apressadamente para a região montanhosa” (Lc 1,39).
Os momentos de catequese fazem parte da programação chamada de Rise Up e foram organizados com a colaboração do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Em cada encontro, que segue até sexta-feira (4) sempre pela manhã, bispos do mundo inteiro são convidados a promover reflexões sobre temas sociais importantes do pontificado do Papa Francisco.
No primeiro dia de catequese, os bispos apresentaram o tema da “ecologia integral”. Após dom Lucena destacar a coragem e a inquietude de Maria, primeiro por dizer “sim” ao projeto de Deus de ser mãe do Salvador, depois de ir servir a sua prima Isabel, o prelado salientou que esse exemplo de amor e missionariedade impele a todos, especialmente os jovens o “agora de Deus”, a cuidar da Casa Comum.
“Vivemos uma nova era. A tecnologia, dificuldades, fragmentação. A cultura ecológica não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição. A ecologia integral nos propõe uma nova maneira de entender a relação entre todas as criaturas do nosso planeta na dimensão ambiental, econômica, social, cultural e vida quotidiana”, afirmou dom Lucena.
Confira a íntegra da catequese:
Jovens, estamos juntos nesta JMJ, em Lisboa, até o próximo dia 06, com o Papa Francisco.
“Maria levantou-se e partiu apressadamente para a região montanhosa”. Esta expressão faz a ponte entre a Anunciação do Anjo a Nossa Senhora e a Visitação à Sua prima Isabel (cf. Lc 1, 39). O Evangelho de São Lucas abre praticamente com a visitação do Anjo Gabriel a Zacarias e a Maria. A Deus nada é impossível. Deus opera para além dos nossos limites racionais. A palavra de Deus desinstala-nos, inquieta-nos, põe-nos em movimento. Mau será quando a Palavra de Deus já não nos inquietar, quando nos deixar ficar como antes e/ou sentadinhos, à espera que a vida aconteça. A palavra de Deus é viva e eficaz!
Maria nos ensinou e nos ensina a dizer “sim”. Jovens que disseram “sim”, como Maria, agora são chamados à prontidão do anúncio. Maria nos ensinou e nos ensina a dizer “sim”.
Nesta JMJ, em Lisboa, olhemos para Maria e aprendamos com Ela a comunicar Jesus. Ela nos ensinou, e nos ensina, a dizer “sim” à vontade de Deus, agora; Ela nos ensina a capacidade do encontro. Encontrar-se com os outros e ser capaz de compartilhar com eles o que possuímos dentro de nós. A Igreja é portadora de Jesus. Jesus mesmo, com seu amor infinito por cada um de nós, com a sua salvação e com a vida nova que nos deu. “E Maria é o modelo de como acolher este imenso dom na nossa vida e comunicá-lo aos outros, fazendo-nos, por nossa vez, portadores de Cristo, portadores do seu amor compassivo, do seu serviço generoso à humanidade sofredora”. Jovem, ao encontrar-se com Jesus, como Maria, seja um Jovem Missionário(a)!
É um desafio para os jovens de hoje a missionariedade, porque esta exige o comprometimento, e o mundo não vos ajuda; pelo contrário, vos faz mergulhar em uma “pressa não saudável”, uma pressa que, ao invés de vos levar à ação, vos leva a fugir das ocasiões ou vivê-las superficialmente. Vocês correm o risco de, no lugar de vos dar aos outros, querer vos reter para vós mesmos e, assim, serem afogados no egoísmo, no egocentrismo. A Virgem Maria nos ensina a não viver para si, mas a viver para os outros. Vós, como Maria, estais no auge da vossa vida e não podeis desperdiçar o vigor da vossa juventude afogados na tentação de viver somente para vós mesmos.
Lembro aqui o Papa Francisco que escreve a vocês, jovens: os jovens são “enamorados por Cristo, os jovens são chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com a sua própria vida”.
Santo Alberto Hurtado dizia que “ser apóstolo não significa usar um distintivo na lapela do casaco; não significa falar da verdade, mas vivê-la, encarnar-se nela, transformar-se em Cristo. Ser apóstolo não é levar uma tocha na mão, possuir a luz, mas ser a luz. […] O Evangelho […], mais do que uma lição, é um exemplo. A mensagem transformada em vida vivida”. A nossa vida é o Evangelho mais lindo que temos para anunciar. Como Maria, testemunhemos o que vivemos!
Lembro aqui que a Igreja conta convosco. A Igreja precisa da vossa juventude e da vossa radicalidade em seguir Jesus. Não tenhais medo de vos comprometer. Vós sois o “agora de Deus”! Precisam ser ousados e levar muitos outros jovens para Deus. Olhai o que diz o Papa Francisco para vós: “Que o Espírito Santo acenda nos vossos corações o desejo de vos levantardes e a alegria de caminhardes todos juntos, em estilo sinodal, abandonando falsas fronteiras. O tempo de vos levantardes é agora. Levantai-vos apressadamente! E, como Maria, levem Jesus dentro de vós, para comunicar Jesus a todos. Neste belíssimo momento da vossa vida, avançai, não adieis o que o Espírito Santo pode realizar em vós! Sejam abençoados os vossos sonhos e os vossos passos”.
O verbo levantar-se significa também despertar para a vida. Então, despertemo-nos! Maria partiu apressadamente, sim, mas não partiu à toa. Partiu apressadamente porque se tinha encontrado, tinha descoberto o seu projeto, o que realmente movia o seu coração.
Vamos, jovens! Levantemo-nos! Prontidão! O mundo precisa conhecer o Jesus que nós conhecemos. Os nossos irmãos estão sedentos de Cristo e estão esperando por nós.
Caminhemos juntos com a Virgem Maria; com Maria aprendemos o caminho da proximidade e do encontro. Vocês, jovens, são a esperança de união para a humanidade, que se encontra fragmentada e dividida.
ECOLOGIA INTEGRAL
Pensar no significado da Ecologia Integral. Olhar a nossa CASA COMUM. Comparada a uma boa mãe, uma irmã, São Francisco de Assis dizia: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, mãe terra, que nos sustenta”.
No Gênesis, na obra criadora de Deus está a criação do homem e da mulher. O ser humano é criado por amor, feito à imagem e semelhança de Deus. Fomos concebidos no coração de Deus. Cada um de nós é querido, amado por Deus e necessário para Deus. Daí nossas relações fundamentais com DEUS, com o PRÓXIMO e com a TERRA.
O pecado manifesta-se, hoje, com toda força de destruição, violência, guerras, ataques contra a natureza…
Não somos Deus. A terra existe antes de nós. Deus reconhece “o quanto havia crescido a maldade das pessoas”. Deus decidiu abrir um canal de salvação através de Noé; […] proteger o homem da destruição de si mesmo.
Deus deseja atuar conosco e contar com a nossa cooperação. Colaborar com o Criador. A meta do caminho do universo situa-se na plenitude de Deus, que já foi alcançada por CRISTO RESSUSCITADO. O ser humano, dotado de inteligência e amor, e atraído pela plenitude de Cristo, é chamado a reconduzir todas as criaturas ao seu CRIADOR.
Todas as coisas existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras. Nenhuma criatura se basta a si mesma.
TUDO O QUE EXISTE É UM REFLEXO DE DEUS. “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as criaturas”.
JESUS convida os discípulos a RECONHECER a relação paterna que Deus tem com as criaturas. Convida-nos a estar atentos à beleza que existe no mundo. A natureza, contemplar a beleza semeada por seu Pai. “O Reino dos Céus é como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no campo”. JESUS vivia em plena harmonia com a criação, despertando admiração nos outros: “Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mt 8,27). “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria?” (Mc 6,3).
O NT não nos fala só de Jesus terreno e da sua relação concreta e amorosa com o mundo, mostra-o também como ressuscitado e glorioso, presente em toda a criação. As criaturas deste mundo já não nos aparecem como uma realidade meramente natural, porque o Ressuscitado as envolve misteriosamente e guia para um destino de plenitude. As próprias flores do campo e as aves que Jesus, admirado, contemplou com os seus olhos humanos, agora estão cheias da sua presença luminosa.
Vivemos uma nova era. A tecnologia, dificuldades, fragmentação… a cultura ecológica não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição – relativismo prático.
A ECOLOGIA INTEGRAL que não exclua o ser humano. Incluir o valor do trabalho. O homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida econômica e social.
MARIA, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Maria não só conservava no seu coração toda a vida de Jesus, que “guardava” cuidadosamente, mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir a Maria que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais atento, com sabedoria.
ECOLOGIA INTEGRAL é falar sobre meio ambiente e a urgência de uma reflexão sobre a preservação, renovação dos recursos naturais…
O termo “ecologia integral” não define apenas ecologia com meio ambiente, florestas e temas óbvios associados a ela. Mas as consequências do modelo econômico que levaram o planeta ao estágio de degradação social e ambiental da atualidade.
O conceito de ecologia integral tem sido muito citado na atualidade e nos é proposto pelo Papa Francisco em sua Encíclica “Laudato Si – Louvado Seja – sobre o cuidado com a Nossa Casa Comum, a irmã e Mãe Terra”.
Na encíclica, o Papa propõe uma reflexão sobre a relação profunda existente entre todas as criaturas do nosso planeta. Uma ecologia integral inclui claramente as dimensões humanas e sociais (Laudato Si, 137).
Papa Francisco ressalta que “tudo está interligado”: a natureza e a sociedade que a habita. O termo ecologia tem um significado mais profundo de meio ambiente, verde… A ecologia integral, compreendendo as dimensões humanas e sociais.
A ecologia integral nos propõe uma nova maneira de entender a relação entre todas as criaturas do nosso planeta na dimensão ambiental, econômica, social, cultural e vida quotidiana.
“Isto significa que nos desenvolvemos como seres humanos com base em nossos relacionamentos conosco mesmos, com os outros, com a sociedade em geral, com a natureza/meio ambiente e com Deus” (Instrumentum Laboris do Sínodo Amazônico, 47).
Inspirado em São Francisco de Assis, o Papa Francisco afirma que o santo é o exemplo, por excelência, do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade.
“Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. (…) Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (Laudato Si, 10).
Com informações de fotos da Pascom Nazaré