Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
“Sangue de mártires, semente de cristãos”!
A Igreja do Rio Grande do Norte é uma Igreja banhada pelo sangue dos mártires. Ainda na primeira metade do século XVII (1645), vários cristãos, sacerdotes e leigos, homens e mulheres, jovens e meninos, foram mortos pelo ódio daqueles que naquele tempo dominavam a região do Rio Grande do Norte. O ódio à fé levou alguns a massacrarem os católicos nas nossas terras potiguares: em 16 de julho, o morticínio de Cunháu, no município de Canguaretama, onde o Pe. André de Soveral, após a elevação do Corpo e Sangue de Cristo, com as portas da capela de Nossa Senhora das Candeias, trancadas, foi morto, com cenas de violência, intolerância e atrocidade. Em 3 de outubro foi a vez do morticínio de Uruaçu, nas proximidades de São Gonçalo do Amarantes. Ali, entre tantos que foram mortos, estão o Pe. Ambrósio Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira, que exclamou, com o coração arrancado: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
A memória do Martírio de Cunhaú e Uruaçu sempre esteve presente na Igreja de Natal. Mas, somente em 1988 com a vinda de Dom Alair Vilar para Arcebispo de Natal, foi aberto o Processo de Beatificação dos Mártires, tendo como postulador o Mons. Francisco de Assis Pereira, já falecido. Em 5 de março de 2000, o Papa São João Paulo II, beatificou os mártires do Rio Grande do Norte, chamando-os de “Protomártires do Brasil” e estabelecendo a data de comemoração para o dia 3 de outubro. Para a Igreja de Natal e de todo o Rio Grande do Norte, foi uma alegria imensa e suscitou o aumento da devoção aos mártires. Uma alegria que chegou ao seu ápice com a Canonização realizada em 15 de outubro de 2017. Com isso, a Igreja do Rio Grande do Norte vive as alegrias de ter trinta (30) santos. Na nossa Arquidiocese contamos com três Paróquias dedicadas aos santos Mártires: Santo André de Soveral, em Emáus, Santo Ambrósio Francisco Ferro, no Planalto e a São Mateus Moreira, em Cidade Verde, como também os três santuários: em Cunháu, no município de Canguaretama, em Uruaçu, no município de São Gonçalo do Amarante, e em Natal, no bairro de Nazaré.
A Igreja de Natal sente satisfação e alegria pelo testemunho dos Santos Mártires. De fato, nosso desejo é que aumente cada vez mais a devoção e, sobretudo, a vontade de testemunhar a fé em Jesus Cristo. Eles lembram a todos que nunca devemos nos sentir sozinhos na missão que Deus nos confiou. Não criamos nós a missão, ela é dada pelo próprio Senhor, e isto significa que Ele mesmo está presente, sustentando e animando a nossa caminhada. Os mártires são exemplos disso. Uma terra banhada pelo sangue de tão valiosas testemunhas da fé, é um solo fecundo de santidade e de missão. Os Mártires sejam lembrados e venerados por nós, católicos potiguares, como exemplo de fidelidade
ao Mestre, o Crucificado e Ressuscitado, Força e Salvação de nossa vida. Eles se unem à multidão de homens e mulheres que deram a vida pela fé no Cordeiro de Deus, Imolado por nós para a remissão dos pecados.
Que a sua festa, em 3 de outubro, seja a celebração de nossa fé, do senhorio de Cristo e de seu poder que vence sempre, trazendo paz e alegria aos nossos corações. A Igreja canta os seus hinos e eleva uma prece ao bom Deus para que todos sejamos firmes na fé e na caridade. Rezemos pedindo a intercessão desses valorosos cristãos e cristãs: Senhor Jesus Cristo, o vosso sangue derramado na cruz tornou-se a fonte sagrada que regou o testemunho dos mártires brasileiros, mortos pela fé, nos primórdios de nossa evangelização. Concedei-nos, por intercessão dos nossos Santos Mártires André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, presbíteros, Mateus Moreira e os seus 27 companheiros leigos, a mesma fé e a mesma caridade que inflamava os seus corações. Alcançai-nos também a graça, que tanto necessitamos (faça o seu pedido), se for para o nosso bem e para vossa maior glória. Amém!
Santíssima Virgem Maria, Rainha dos Mártires, rogai por nós!