O Encontro Inter-Religioso no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi, na última semana, do qual o papa Francisco participou, foi um evento que “constitui ‘um passo à frente’ nas relações” entre o catolicismo e o mundo muçulmano sunita. A avaliação é do bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ), dom Francesco Biasin, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Biasin comenta que o abraço da paz com o grande Imã de Al Azhar, Ahmad Muhammad Al-Tayyib, sela um percurso de encontros realizados sobretudo com a mediação da Comunidade Santo Egídio no “Espírito de Assis”. “Trata-se de um abraço que levou à assinatura de uma declaração conjunta entre a Igreja Católica e a Universidade de Al-Azhar sobre a fraternidade humana para a paz no mundo e a convivência comum”, situa.
O bispo destaca a fala do papa Francisco na qual manifesta a motivação da finalidade da viagem aos Emirados Árabes:
«De ânimo reconhecido ao Senhor, aproveitei o ensejo do VIII centenário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kamil para vir aqui como crente sedento de paz, como irmão que procura a paz com os irmãos. Desejar a paz, promover a paz, ser instrumentos de paz: para isto, estamos aqui».
As duas religiões, catolicismo e islã, deram “um passo à frente” nas relações entre si. “Nesta declaração se afirma que somos irmãos com todas as implicações positivas que esse nome carrega em si”, explica dom Biasin. “De fato podemos afirmar que esta declaração bilateral poderá se tornar paradigmática para outros diálogos futuros”, continua, recordando a consideração do papa sobre a elaboração do documento assinado:
«O documento foi preparado com muita reflexão e oração. O Grande Imam com sua equipe e eu com a minha. Oramos muito para conseguir a elaborar este documento porque para mim há um só grande perigo neste momento: a destruição, a guerra e o ódio entre nós. E se nós, crentes não temos a capacidade de nos dar a mão, abraçar-nos e também orar, a nossa fé será derrotada. Este documento nasce da fé em Deus que é pai de todos e pai da paz e condena toda destruição, todo terrorismo. O primeiro terrorismo da história é o de Caim. É um documento que se desenvolveu, entre idas e vindas, ao longo de quase um ano de orações».
Igreja dedicada a São Francisco
Dom Biasin ainda recorda a segunda assinatura marcante na viagem apostólica do papa aos Emirados Árabes Unidos. “O Papa a colocou, junto a Al Tayyb e aos dois soberanos dos Emirados, sobre a primeira pedra de uma nova igreja que será dedicada a São Francisco, presente dos Emirados Árabes ao papa e aos católicos que ali vivem”, contextualizou o presidente da Comissão para o Diálogo Inter-Religiosos da CNBB.
“Os católicos presentes na Península arábica são uma minoria não tão pequena, somando a quase 900.000 pessoas, que corresponde a 10% da população. São migrantes da Ásia e da África, que procuram um futuro naquela península e que formam uma periferia humana e existencial. São para eles a palavra e o abraço do papa”, comenta.
Dom Biasin ainda destaca que, entre os ministrantes na missa celebrada no estádio Zayed Sports City di Abu Dhabi, havia duas meninas, uma negra, “para realçar a dignidade da mulher e da raça negra”.
“Na assembleia muitos são os jovens presentes. ‘Sois um coro que compreende uma variedade de nações, línguas e ritos, – diz o papa – uma diversidade que o Espírito Santo ama e quer fazer cada vez mais harmonizar para fazer dela uma sinfonia. Esta alegre polifonia da fé é um testemunho que dais a todos’”, rememora dom Bisian.
No contexto das comemorações dos oitocentos anos do encontro de São Francisco com o sultão al-Malik al-Kamil, dom Biasin recorda a citação do papa a São Francisco de Assis: “‘quando aos frades deu instruções sobre o modo de aproximar-se dos Sarracenos e dos não cristãos: ‘Que não briguem ou façam disputas’. De fato, naquele tempo ‘enquanto muitos partiam revestidos com pesadas armaduras, São Francisco recordava que o cristão parte armado só de duas coisas: a sua fé humilde e o seu amor concreto’”. Hoje, conclui dom Biasin, “é um outro Francisco a recordá-lo no coração do Islã”.
(Fonte: site CNBB)